Na luxuosa sala de estar da mansão Silva, a TV de tela plana exibia a transmissão ao vivo de Ricardo.
Pedro Almeida, meu irmão adotivo, assistia com o rosto fechado, a mandíbula travada de raiva.
"Mas que merda é essa?", ele rosnou, pegando o copo de uísque da mesinha de centro e o arremessando contra a parede.
O copo se estilhaçou, espalhando cacos de vidro e líquido âmbar pelo tapete persa.
Sofia Mendes, sua noiva, correu para o seu lado, com uma expressão de choque e preocupação perfeitamente ensaiada.
"Pedro, querido, o que foi? Se acalme!"
"Me acalmar? Você está vendo isso, Sofia? Um idiota qualquer está na... naquele lugar, falando o nome dela, remexendo no nosso lixo! Isso é um insulto!"
O Sr. Silva, meu pai adotivo, desceu as escadas, ajeitando o roupão de seda. Seu rosto, normalmente impassível, mostrava uma irritação contida.
"O que são esses gritos? E que bagunça é essa?"
Pedro apontou para a TV. "Pai, olhe! Estão fazendo um circo com a nossa desgraça! Temos que parar isso agora! Mande o advogado ligar para a plataforma, processe esse imbecil!"
O Sr. Silva olhou para a tela, seu desgosto se aprofundando.
"Já não basta a vergonha que ela nos fez passar em vida? Agora até depois de morta ela continua nos assombrando. Ligue para o Dr. Matos, resolva isso, Pedro. Não quero o nome da nossa família associado a esse espetáculo de baixo nível."
Sofia, então, abraçou Pedro por trás, aninhando o rosto em suas costas e começando a chorar suavemente.
"É tudo culpa minha, Pedro... Eu deveria ter sido mais forte por você, por nós. Ver isso, ouvir o nome dela de novo... Dói tanto. Lembrar de tudo que ela fez..."
A voz dela era um sussurro trêmulo, a performance de uma vítima perfeita. Pedro imediatamente se virou, sua raiva se transformando em preocupação por ela.
"Não, meu amor, a culpa não é sua. A culpa é daquela... daquela víbora. Você foi a única que viu quem ela era de verdade desde o início."
A Sra. Silva, que observava tudo da porta da cozinha com um copo de vinho na mão, soltou uma risada amarga.
"Víbora é pouco. Aquela garota foi a nossa ruína. Tomara que o diabo a tenha no inferno. Que ela queime por toda a eternidade por ter tentado destruir nossa família."
Ela bebeu um gole grande de vinho, seus olhos brilhando com um ódio antigo e cruel.
Enquanto isso, de volta à casa abandonada, Ricardo continuava sua exploração.
"Galera, olhem isso aqui", ele disse, apontando a lanterna para uma parede no quarto principal, o meu antigo quarto.
A parede estava coberta por arranhões profundos, marcas de unhas que haviam rasgado o papel de parede e o gesso por baixo. Eram as minhas marcas, dos dias em que a dor e o desespero eram tão grandes que eu precisava sentir algo físico para não enlouquecer.
A câmera focou nos arranhões.
"Parece que alguém teve um ataque de raiva aqui. Ou estava tentando arranhar para sair", ele especulou, tentando criar um clima de suspense.
No chat, a discussão começou.
"Nossa, que sinistro!"
"Isso aí deve ter sido bicho, rato, sei lá."
"Ou o fantasma dela está preso aí e quer sair! Arrepio!"
Ricardo sorriu. O show estava apenas começando. Ele ainda não fazia ideia de que aqueles arranhões não eram o verdadeiro horror contido naquelas paredes.