A Vingança da Alma Esquecida
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Capítulo 4

Sofia percebeu a mudança em Pedro imediatamente. A hesitação em seu olhar, a rachadura em sua armadura. Ela agiu rápido, como uma predadora sentindo o cheiro de sangue.

Ela se agarrou ao braço dele, as lágrimas voltando aos seus olhos com uma facilidade impressionante.

"Pedro, não dê ouvidos a isso! Ela era assim mesmo, sempre escrevendo coisas, fingindo ser a vítima, a coitadinha. Ela queria te manipular desde o primeiro dia, queria que você sentisse pena dela para poder tomar o meu lugar!"

A voz dela era um lamento, cheio de uma dor fabricada.

Pedro olhou para o rosto choroso de Sofia, o rosto que ele amava, o rosto em que ele confiava. Ele balançou a cabeça, como se para afastar as memórias indesejadas.

"Você tem razão", ele disse, a voz novamente dura. "Ela era uma manipuladora. Uma mentirosa. Sempre foi."

Ele apertou o punho, a raiva voltando para preencher o vazio da dúvida. A culpa era um sentimento pesado demais para carregar, era mais fácil transformá-la em ódio por mim.

"Isso mesmo, meu filho", a Sra. Silva concordou, aproximando-se e colocando a mão no ombro de Pedro. "Sofia sempre esteve aqui por nós, ela é a nossa verdadeira filha. Lia não passou de um erro, um corpo estranho que tentou nos infectar."

A família se uniu em sua fortaleza de negação, um círculo fechado de apoio mútuo, me deixando do lado de fora, no frio, como sempre fizeram. Era eles contra mim, uma desconhecida, a intrusa.

No quarto empoeirado, Ricardo continuava a ler, alheio ao drama familiar que suas palavras provocavam.

"Data: 2 de junho de 2014. Hoje foi meu aniversário. Pedro me deu um colar com um pequeno pingente de estrela. Ele disse que era para eu nunca esquecer de brilhar. Foi o presente mais lindo que eu já ganhei na vida. Eu o guardei em minha caixinha de joias. Mas, mais tarde, quando fui procurá-lo, ele não estava lá. Sofia disse que provavelmente eu o perdi, que eu era muito descuidada. Ela me deu um abraço e disse para não me preocupar, que coisas materiais não importam."

Ricardo fez uma pausa. "Que estranho. Continua."

"Data: 3 de junho de 2014. Eu vi Sofia no jardim hoje. Ela estava usando meu colar de estrela. Quando perguntei, ela disse que Pedro tinha dado um igual para ela, para que fôssemos 'irmãs de colar'. Mas o fecho do meu estava um pouco torto, e o dela também estava. Eu sei que era o meu. Quando contei para a mamãe, ela disse que eu estava sendo mesquinha e ciumenta, e que eu deveria aprender a dividir. Sofia começou a chorar e disse que, se eu quisesse, ela devolveria, que não queria causar problemas. Mamãe ficou furiosa comigo e me mandou para o quarto. Pedro não estava em casa para me defender."

A leitura prosseguiu, revelando mais um incidente.

"Data: 18 de setembro de 2014. A professora elogiou meu desenho na aula de artes e o pendurou no mural da turma. Eu estava tão feliz, corri para casa para contar a todos. Quando cheguei, encontrei Sofia chorando na sala. Ela disse que algumas meninas da escola a empurraram e rasgaram um trabalho dela. Papai e mamãe ficaram furiosos. Pedro queria ir até a escola tirar satisfação. Mais tarde, no meu quarto, encontrei meu desenho premiado rasgado em pedacinhos dentro da lixeira, com uma mancha de suco de uva, o suco favorito de Sofia. Quando tentei falar com Pedro sobre isso, ele me disse para parar de implicar com a Sofia. Ele disse que ela já estava sofrendo o suficiente e que eu, como irmã mais velha, deveria protegê-la, não acusá-la."

Ricardo parou de ler por um momento, a testa franzida.

"Espera aí... a história está ficando esquisita."

O diário continuava, página após página, a crônica de uma tortura psicológica sutil e constante.

"Data: 10 de novembro de 2014. Hoje, mamãe me acusou de ter roubado dinheiro da bolsa dela. Eu jurei que não fui eu. Ela não acreditou. Pedro me olhou com tanta decepção. Ele disse: 'Lia, por que você fez isso? Se precisava de dinheiro, era só ter pedido'. Eu chorei e disse que não peguei, mas ninguém me ouviu. Papai me deu um tapa no rosto. Foi a primeira vez. Doeu. Mas o que doeu mais foi o olhar de Pedro. Mais tarde, vi Sofia comprando sorvete para as amigas na esquina. Com uma nota de cem reais. A mesma que sumiu da bolsa da mamãe. Ela sorriu para mim quando me viu. Um sorriso que ninguém mais viu."

O ar na casa abandonada parecia mais pesado, mais frio. As mentiras que me mataram estavam finalmente vindo à luz, uma por uma, escritas com a tinta da minha própria dor.

                         

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