Capítulo 4 IV. Cartas de Axiria

Sir Arthur abriu delicadamente a porta dos aposentos de Rhanessy. O quarto estava bem limpo e devidamente organizado as janelas estavam abertas permitindo que o frio e a fraca luz solar entrasse nos aposentos da rainha.

Os olhos do cavalheiro buscaram por sua rainha e lá estava ela, atras de uma mesa de mármore com os olhos perdidos no pergaminho em que estava escrevendo, Rhanessy estava com um vestido simples, mas elegante turquesa, usava um colar de safira e seus negros cabelos escapavam de um coque frouxo, Sir Arthur se distraiu com a visão de sua rainha distraída em seus afazeres, ficou parado ali a contemplando até que ela percebeu sua presença e fixou seus olhos que pareciam brancos no quarto bem iluminado.

- Majestade - Sir Arthur tratou de disfarçar a timidez de ter sido visto encarrando a rainha com uma reverencia - Lorde Harris, o contador real deseja vê-la.

- Diga que não estou - Rhanessy voltou a escrever ignorando o enorme homem de armadura negra em sua frente.

- Sua vontade é uma ordem, minha rainha. Sir Arthur estava prestes a se retirar quando Stevan Harris abriu a porta de forma grosseira fazendo um alto ranger no quarto que outrora estava silencioso.

- Pode se retirar, Sir - Stevan disse com um olhar arrogante de costume, estava extremamente bem vestido essa manhã seu gibão continha botões de ouro, seu manto exibia a cobra verde da família Harris e em seu peito a lebre do contador real fora polida ate brilhar, passou a manhã se arrumando para conversar com a rainha e não seria dispensado como um desvalido qualquer.

O cavalheiro buscou por ordens de sua rainha com um olhar, que apenas fez um sinal concordando que ele podia se retirar. Lorde Harris aguardou até que Arthur fechasse aporta e andou elegantemente até a mesa que sua sobrinha estava e puxou a cadeira que estava a frente da rainha.

- Posso me sentar, querida sobrinha? - Stevan perguntou já se sentando sem esperar por uma resposta, tentou espiar sem sucesso o que a sobrinha escrevia sem tirar o olho do pergaminho enquanto ela ignorava sua presença na sala - Está uma manhã agradável não acha?

Rhanessy apenas olhou para seu tio e voltou a escrever, sabia que ele ficava furioso quando o ignoravam, imaginou que se o tratasse de forma indiferente ele rapidamente iria embora, quando viu que estava enganada perguntou revirando os olhos e sem abandonar sua carta a ser escrita:

- Em que posso te ajudar, Lorde Harris?

- Na verdade eu queria ajuda-la, Rhanessy - O tio sorria da maneira mais amigável que conseguia - Soube que Lorde Miraclyn abandonou o posto de conselheiro real.

- E daí? - Rhanessy queria apenas terminar sua carta para Bruce Walker, o lorde da campina pedindo que ele a acompanhasse em sua visita a Goldencrown para o aniversário do Príncipe, desejava a companhia dele e de mais três milhares dos homens de Cintralis.

- E Pieter me disse que viu vossa graça conversando com a senhorita Tanásia no jardim principal a alguns dias.

- Eu converso com muitas pessoas diariamente, tio. Principalmente se essa pessoa fizer parte do meu conselho - Rhanessy não estava com paciência para as falsas cortesias de seu tio, sabia que ele não falava nada por acaso e tudo tinha um interesse pessoal

- E não sabia que meu primo era responsável por me espionar, será que devo escolher outro mensageiro?

- De forma alguma, minha querida sobrinha. Pieter apenas comentou por alto comigo sem intenções de invadir sua privacidade - O tio sorrio de forma cortes, em seguida fez uma cara de preocupação fingida - E depois que a senhorita Tanásia veio até mim para custear um baile real em tão pouco tempo, confesso que fiquei muito preocupado.

Stevan olhou para Rhanessy e aguardou por uma resposta quando viu que ela limitou seus olhos esbranquiçados a seguir as letras no pergaminho continuou a conversar com seu tom cortes

- É claro que vossa graça não escolheria a senhorita Tanásia para o cargo de seu avô. Não é mesmo? - Stevan Harris perguntou, mas já sabia da resposta por seus próprios meios.

- E no que isso diz respeito ao senhor? - Rhanessy colocou delicadamente a pena na mesa e olhou bem para o homem grisalho a sua frente.

- Diz respeito a todo o reino, majestade - Seu tio fez uma pausa e pegou delicadamente a mão de Rhanessy - A senhorita Tanásia, é uma estrangeira das Ilhas das sombras, praticante das artes ocultas. Não merece confiança, ainda menos um cargo tão importante que seu avô ocupou tão bem durante tantos anos.

- Meu avô concorda com minha escolha - Rhanessy tirou bruscamente a mão de seu tio da sua. - E eu confio em quem julgar merecedor.

- E quem mereceria maior confiança do que o sangue do seu sangue? que foi casado com sua tia e irmão de seu pai.

Rhanessy finalmente entendeu a visita indesejada de Stevan Harris, ele queria ser escolhido para conselheiro real e estava ofendido por Rhanessy ter escolhido Tanásia.

- Sou a rainha e a escolha é totalmente minha. - Rhanessy olhou bem nos olhos castanhos de Lorde Harris - E minha escolha já foi feita, e escolhi Tanásia.

- Não espera que eu aceite isso? - Stevan estava visivelmente irritado e até levantou o tom de voz para falar - Prefere dar o cargo a uma bruxa estrangeira sem nascimento a seu próprio tio, sangue do seu sangue e um Harris - Stevan falava com Rhanessy como se fosse uma criança tola - Seu avô é um Miraclyn merece um substituto a altura.

- Meu avô será substituído por alguém que tem competência para isso - Rhanessy não gostava da forma como o tio falava com ela, ser seu tio não o dava o direito de desrespeitar a rainha - Um sobrenome antigo ou a falta dele não significa nada para mim.

- Não irei receber ordens de uma bruxa sem nome!

- Você é o contador real - Rhanessy levantou-se de sua cadeira olhando bem para seu tio, mas sem nunca levantar o tom - Fará o que sua rainha ordenar ou acharei outro contador que o faça, agora saia.

A noite Rhanessy desceu a sala de jantar principal onde vários servos a esperavam para o jantar. Rhanessy gostava de jantar duas vezes por semana com seus guardas, empregados ou qualquer pessoa que a servisse, assim ela os conhecia melhor, a governanta Madame Alene organizava um revezamento de forma que todos tinham sua vez mensal de jantar com a rainha.

- Olá, Amelia - Rhanessy saudou com um sorriso a cozinheira chefe que estava a sua direita. - Como está a nova ajudante de cozinha?

- Olá, Majestade - Amelia era uma mulher de uns quarenta e dois anos, seu cabelo castanho que normalmente estava coberto por um lenço caia livremente sobre seus ombros, tinha bochechas gordinhas e usava um vestido com estampa floral - Sophy está pegando o jeito, Minha Rainha - Amelia sorriu, conhecia Rhanessy desde que era um bebê, quando era princesa vivia se escondendo nas cozinhas, Rhanessy sempre vira uma figura materna em Amelia - Sua bebê também está muito bem, Sophy é muito grata a senhora pela a oportunidade que a concedeu.

Sophy era a mulher do norte que veio as audições passadas em busca de uma vida melhor para ela e sua bebê recém nascida, madame Alene arrumou um emprego como ajudante de cozinha.

Primeiro serviram a entrada cogumelos recheados e cobertos de queijo, seguidos pelo prato principal, ganso assado com cebola e um molho de azeitonas pretas, a sobremesa foi uma torta fria de pera com vinho e castanhas.

Após o jantar Rhanessy agradeceu a todos pela presença e a Amelia pelo jantar maravilhoso e subiu para seus aposentos pedindo para que todos aproveitassem o resto da noite.

Em seu quarto Rhanessy sentou-se a mesa e pegou alguns pergaminhos e voltou a escrever suas cartas.

Rhanessy desligou-se de suas cartas quando ouviu duas batidas em sua porta, antes de dormi sempre gostava de um chá com alguns biscoitos recheados com geleia de frutas que Amelia fazia maravilhosamente bem, provavelmente deveria ser um criado com seu chá.

- Entre - Rhanessy pediu sem desviar o olhar do pergaminho.

- Até que você fica bonitinha quando está com essa cara de concentração.

Rhanessy levantou o olhar ao ouvir a voz de Colin, ele havia tomado a liberdade de sentar-se na cama de Rhanessy.

- Minto - Ele disse passando a mão em seus cabelos castanhos avermelhados que estavam levemente molhados - Fica mais bonita quando sorri, pena que não faça muito isso.

- O que você quer? - Rhanessy tirou seus olhos dos olhos verde esmeralda de Colin.

- Não posso querer passar um tempo com minha chefe.

- Sou sua rainha - Rhanessy corrigiu.

- E também a pessoa que me paga, Nessy. O que a torna minha chefe.

- Lorde Harris te paga.

- Com o seu dinheiro.

Rhanessy o ignorou por um tempo e voltou a escrever e ele ficou andando de um lado para o outro como uma pantera enjaulada, sem tirar os olhos de Nessy.

Até que uma criada entrou batendo na porta com uma bandeja de prata com um Bulle e xicara de porcelana e uma tigela com biscoitos recheados com geleia, se aproximou e deixou a bandeja na mesa da rainha sem dizer nada fez um reverencia e estava de saída.

- Obrigada, Sophy - Rhanessy se lembrava da mulher da audição de alguns dias atras.

- Perdão, majestade - A moça parecia desconsertada e confusa - Lembra do meu nome?

- Não acabei de dizer seu nome? - Rhanessy disse de forma amigável, mas sabia por que a moça estava confusa, não era qualquer nobre que se dava o trabalho de aprender o nome dos criados. - Pode me trazer outra xicara para lorde Colin?

- Não gosto de chá. - Colin disse de imediato - Me traga um bom vinho, Sophy.

A moça olhou para Rhanessy fez uma reverencia e saiu, em pouco tempo voltou com o vinho de Colin e saiu.

- Aceita uma taça de vinho, Rainha Nessy? - Colin perguntou tomando um gole de vinho direto da garrafa.

- Não obrigada, Lorde Colin - Rhanessy disse mantendo-se a escrever.

- Gostava mais de você quando era princesa - Colin olhou para os olhos brancos de Nessy perdidos no que escrevia - O que está fazendo?

- Cartas para alguns lordes de Axiria, estou avisando que passarei nas terras deles com trezentos soldados para ir a Goldencrown sob convite do rei deles.

- Aposto que seria mais divertido se você tomasse uma taça de vinho.

- Você não tem o que fazer além de me perturbar?

- Achei que me pagasse para isso, Nessy?

Nessy olhou para Colin que sorria com um brilho em seus olhos esmeraldas, o cheiro dele era sempre algo dominante mesmo estando afastado dela, ela permitiu-se distrair com a visão de Colin, seu rosto, seu corpo bem definido, seu sorriso estupido, seus profundos olhos verdes a olharam de volta e sentiu o perfume amadeirado dele como se estivesse grudado nela, e lembrou-se de quando tinha quatorze anos...

- Olha, ela sabe sorrir! - Colin tirou Nessy do transe com aquela frase, ela não percebeu que estava sorrindo até ele falar fazendo-a corar.

Felizmente alguém bateu na porta para salva-la da vergonha que estava sentindo por lembrar daquele dia, por estar sozinha com Colin em seus aposentos tão tarde da noite.

- Majestade - Era Tanásia que entrara pela porta - Chegou uma carta de Axiria.

Rhanessy estendeu a mão para pegar a carta, um envelope perfumado com o selo intacto da família Bryant, a rainha passou o polegar pelo selo de cera dourado e o quebrou, tirou a carta de dentro do envelope e voltou seus olhos para as letras.

"A Rainha Rhanessy;

Querida Rhanessy, desde que confirmou sua presença em meu aniversario confesso que não paro de pensar em sua pessoa. As histórias de sua beleza chegam até Goldencrown, anseio pela sua chegada para que posso finalmente conhece-la, para que posso contempla-la com meus próprios olhos.

Com amor: Príncipe Henry Bryant, herdeiro de Axiria"

- Fecha a porta Tanásia - Rhanessy ordenou.

Pediu para que Colin e ela se sentassem a mesa, entregou a carta para eles lerem juntos e os observou, ali estava diante dela as duas pessoas que sempre estiveram com ela desde que era princesa e sem duvida as que ela mais confiava.

- Acha que foi ele mesmo que escreveu? - Tanásia perguntou quando acabou de ler.

- Se foi ele ou não pouco importa - Rhanessy falou refletindo sobre as palavras do príncipe - "A armadilha" do Rei Rain é me casar com o filho dele.

- Seria bom para ambas as partes - Tanásia falou de forma tática, Colin parecia irritado com as palavras que saiam da boca de Tanásia - A senhora seria rainha de Axiria e a família Bryant conseguiria finalmente unificar Axiria e Thornicy.

Sem esperar para ouvir mais uma única palavra Colin se levantou, agarrou a garrafa de vinho e saiu deixando a porta bater forte atras dele.

            
            

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