A Designer e o Traidor
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Capítulo 1

Sofia, uma estilista de renome, fixou o olhar no rolo de seda exposto no palco do leilão.

Aquele não era um tecido qualquer, era uma seda "Lágrima de Sereia", um material lendário, tingido com pigmentos raros que mudavam de cor sob a luz, variando do azul profundo ao prata líquido.

Era o tecido perfeito para o vestido de noiva de sua melhor amiga, Clara.

O leiloeiro começou o lance, a voz ressoando pelo salão opulento.

"Lance inicial de cinquenta mil reais."

Sofia ergueu sua placa com calma, confiante. Ela havia preparado um orçamento generoso para isso.

Os lances subiram rapidamente, mas Sofia os acompanhou sem esforço, sua expressão serena. Ela era conhecida no mundo da moda não apenas por seu talento, mas por sua determinação.

Quando o preço atingiu duzentos mil, a maioria dos concorrentes desistiu.

Restavam apenas Sofia e uma compradora na primeira fila, uma mulher que ela não reconhecia.

"Trezentos mil", disse Sofia, sua voz firme.

A mulher na frente, de costas para ela, ergueu a placa sem hesitação.

"Quinhentos mil", anunciou o leiloeiro, a voz tingida de surpresa.

O salão inteiro murmurou. Um salto tão grande era incomum, quase agressivo.

Sofia franziu a testa, um mau pressentimento começando a se formar. Aquilo não era mais sobre o tecido, parecia pessoal.

Ela olhou para seu noivo, Thiago, que estava sentado ao seu lado. Ele deu de ombros, um sorriso displicente nos lábios.

"Deve ser alguém que realmente quer o tecido, meu amor. Se você o quer, pegue."

Sofia respirou fundo e ergueu a placa novamente.

"Seiscentos mil."

A mulher na frente se virou levemente, e por um instante, Sofia viu seu perfil. Havia algo de familiar nela, mas ela não conseguia identificar.

A mulher ergueu a placa mais uma vez.

"Um milhão de reais."

O silêncio no salão foi total, seguido por suspiros de espanto. Sofia gelou. Um milhão por um tecido, por mais raro que fosse, era um valor absurdo. Era um ato de humilhação, um recado claro.

Ela olhou para o painel eletrônico que exibia os detalhes do lance vencedor. O nome associado à placa era "Isabella". E o método de pagamento... o cartão de crédito suplementar de Thiago.

O sangue de Sofia sumiu de seu rosto.

Ela pegou seu celular, as mãos tremendo. Abriu o aplicativo do banco e viu a notificação da compra pendente de um milhão de reais no cartão de Thiago, um cartão que ela mesma havia lhe dado.

Com três toques rápidos e precisos, ela congelou o cartão.

Na primeira fila, a mulher, Isabella, tentava concluir a transação. Seu sorriso arrogante desapareceu quando o terminal de pagamento exibiu a mensagem "Transação Recusada".

Ela se virou, o rosto contorcido de fúria e humilhação, e seus olhos encontraram os de Sofia.

Naquele momento, Sofia a reconheceu. Era a nova assistente de Thiago, uma mulher que ele havia jurado ser apenas uma colega de trabalho competente.

Isabella olhou para Thiago, um olhar de pânico e acusação. Thiago, por sua vez, fuzilou Sofia com os olhos, a raiva mal contida em sua expressão.

O leilão foi arruinado. A humilhação de Isabella foi pública.

Semanas se passaram. Thiago agiu como se nada tivesse acontecido, pedindo desculpas, dizendo que Isabella havia usado o cartão sem sua permissão, uma mentira descarada.

Ele a cobriu de presentes e promessas, e para "fazer as pazes", sugeriu uma viagem de férias para uma ilha particular e exclusiva.

Sofia, querendo acreditar que poderia salvar seu relacionamento, aceitou.

O resort era paradisíaco, mas algo parecia errado. O ar estava pesado.

Na primeira noite, durante o jantar, Thiago lhe serviu uma taça de vinho.

"Um brinde a nós, meu amor. Para superar todos os mal-entendidos."

Sofia bebeu. O gosto era estranho, um pouco amargo, mas ela atribuiu ao vinho caro e exótico.

Foi a última coisa de que se lembrava com clareza.

Sua consciência se esvaiu lentamente, o som das ondas se tornando um zumbido distante.

Sofia acordou com o cheiro de mofo e ferrugem.

Sua cabeça latejava. A luz era fraca, vinda de lâmpadas penduradas em um teto baixo e sujo.

Ela tentou se mover, mas seus membros estavam pesados, inertes.

Ela não estava em um quarto de hotel de luxo.

Ela estava em uma jaula.

As barras de ferro, frias e grossas, a cercavam. O chão era de concreto sujo.

Pânico subiu por sua garganta, frio e afiado. Ela gritou, mas o som saiu rouco, fraco.

Passos ecoaram no corredor escuro do lado de fora. Duas figuras emergiram na luz fraca.

Eram Thiago e Isabella.

O rosto de Thiago era uma máscara de triunfo cruel, Isabella sorria ao seu lado, o mesmo sorriso arrogante do leilão de seda.

"Acordou, minha querida noiva?", disse Thiago, a voz escorrendo sarcasmo.

"Thiago... o que é isso? Onde estamos? Me tira daqui!", Sofia implorou, a voz trêmula.

Thiago riu, um som feio que ecoou no espaço úmido.

"Tirar você daqui? Mas a festa está apenas começando. Você não gostou da sua suíte?"

Ele se aproximou da jaula, seus olhos brilhando com malícia.

"Você sabe, Sofia, foi muito rude da sua parte congelar meu cartão. Você humilhou a Isabella na frente de todo mundo. E ela é muito importante para mim."

Ele acariciou o rosto de Isabella, que se aninhou contra ele como uma gata satisfeita.

O quebra-cabeça medonho começou a se encaixar na mente de Sofia. A traição, a viagem, o vinho. Tudo era um plano.

"Você... você me drogou", ela sussurrou, o horror a paralisando.

"Apenas um sonífero para te ajudar a relaxar durante a viagem", disse Thiago com desdém. "Você estava tão estressada ultimamente."

"Por quê?", a voz de Sofia era um fio. "Thiago, por que você está fazendo isso?"

O sorriso de Thiago se alargou, tornando-se algo monstruoso.

"Vingança, meu amor. E negócios. Você me humilhou, então vou te humilhar de uma forma que você nunca vai esquecer. E quanto aos negócios... bem, uma estilista renomada como você deve valer uma bela quantia neste lugar."

Ele gesticulou para o ambiente ao redor. Só então Sofia percebeu. Havia outras jaulas, e um palco no centro da sala. Era um salão de leilões. Um leilão clandestino.

"Você vai me... me leiloar?", a pergunta saiu como um sopro de descrença.

"Exatamente", confirmou Thiago. "Você gostou tanto daquele leilão de seda, achei que gostaria de ser a estrela do show desta vez. A atração principal."

Isabella riu alto.

"Vamos ver quanto eles pagam por uma designer famosa e arrogante, completamente nua e indefesa."

Thiago abriu a porta da jaula. Ele agarrou o cabelo de Sofia e a arrastou para fora, jogando-a no chão de concreto.

Ele rasgou seu vestido caro, o tecido se partindo com um som violento. Ele a deixou apenas com as roupas íntimas.

"Tirem tudo dela", ordenou ele a dois homens grandes que surgiram das sombras.

Eles arrancaram seu anel de noivado, seus brincos, seu relógio. Cada item, um pedaço de sua identidade, sendo roubado.

"Meus cartões... minha conta...", Sofia balbuciou, a mente girando.

"Ah, não se preocupe com isso. Eu cuidei de tudo", disse Thiago. "Eu transferi todos os seus ativos, congelei suas contas. Você não tem nada. Você é nada. Apenas um produto a ser vendido."

Ele a empurrou em direção ao palco, onde uma luz forte e solitária se acendeu sobre ela.

Sofia estava exposta, humilhada, sem recursos e traída da forma mais brutal que se possa imaginar.

O leilão de sua vida estava prestes a começar, e seu noivo era o leiloeiro.

            
            

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