O zumbido da multidão começou a crescer. Homens de ternos caros e sorrisos predatórios saíam das sombras, seus olhos fixos em Sofia no palco, avaliando-a como se fosse um animal premiado.
Thiago subiu no palco ao lado dela, um microfone na mão.
"Senhoras e senhores", sua voz ecoou, amplificada e distorcida. "Hoje temos um item muito especial. Exclusivo. Uma peça única no mercado."
Ele circulou em volta de Sofia, que tremia sob a luz forte, tentando inutilmente cobrir seu corpo com os braços.
"Sofia Romano, a estilista mais aclamada de sua geração. Talentosa, bonita... e agora, completamente à sua disposição."
Risadas cruéis pontuaram a sala. Cada riso era uma faca em sua dignidade.
"Vamos começar o leilão. Mas antes, para que saibam a qualidade do produto, vamos inspecioná-lo de perto."
Ele agarrou o braço de Sofia com força, forçando-a a se levantar. A vergonha a queimava por dentro, mais quente que qualquer febre.
Um dos capangas de Thiago veio por trás e amarrou suas mãos com uma corda áspera, puxando-as para cima e prendendo-as a uma corrente que pendia do teto.
Seus braços foram esticados, seu corpo exposto de forma ainda mais vulnerável. Ela estava presa, exibida como um troféu macabro.
O cheiro de charuto e álcool encheu suas narinas. O som dos murmúrios gananciosos a ensurdecia.
"Parem...", ela sussurrou, as lágrimas finalmente escorrendo por seu rosto. "Por favor, parem."
Thiago se inclinou para perto de seu ouvido.
"Silêncio. Você não tem mais o direito de falar. Apenas de ser olhada."
Sua mente, turva pela droga e pelo choque, começou a trabalhar freneticamente. Contas. Ativos. Ele disse que tinha pego tudo.
Ela pensou em seu estúdio, em seu portfólio de ações, na herança que sua mãe lhe deixou. Tudo construído com tanto trabalho e dedicação.
Thiago, que ela sustentara por anos enquanto a empresa dele patinava, que ela ajudara a reerguer com seus próprios contatos e dinheiro.
Ela se lembrou das noites que passou em claro desenhando, das viagens de negócios que a esgotavam, dos sacrifícios que fez por ele, adiando seus próprios sonhos para apoiar os dele.
Ela se lembrou de ter vendido um de seus primeiros designs premiados para pagar as dívidas de jogo dele, algo que ele prometeu ser um deslize único.
Cada lembrança era um golpe, uma prova de sua própria ingenuidade e da profundidade da maldade dele. A dor da traição era tão física que ela quase não conseguia respirar.
"Thiago, por favor", ela tentou uma última vez, a voz rouca. "Pelo menos me dê um pouco de água. Minha garganta está seca."
Ela não queria água. Ela queria tempo. Um minuto. Um segundo para pensar, para encontrar uma saída em meio ao pesadelo.
Thiago olhou para a multidão, depois para ela. Um leilão bem-sucedido exigia que o "item" estivesse em condições razoáveis.
"Tudo bem", ele cedeu, com um tom de falsa generosidade. "Não quero que digam que não trato bem minha mercadoria."
Ele fez um sinal para um dos guardas.
"Leve-a ao banheiro. E fique na porta. Você tem dois minutos. Nem um segundo a mais."
O guarda a desamarrou e a empurrou rudemente para fora do palco, em direção a uma porta de metal no canto da sala.
A breve caminhada foi uma tortura. Os olhos dos homens a seguiram, suas vozes a despindo com comentários vulgares.
Ela entrou no banheiro. Era um cubículo imundo, com um vaso sanitário quebrado e uma pia manchada.
Mas era um momento de solidão. Um momento para respirar.