"Ela merece, trabalhou tanto a vida toda" , continuou ele, os olhos fixos em um colar de ouro com um pequeno pingente de diamante. "Quero dar a ela algo que ela nunca pôde ter."
Eu sorri, um pouco contagiada pela sua alegria.
Era raro ver Pedro tão generoso.
Normalmente, ele era o tipo de homem que contava cada centavo, que reclamava do preço do cinema e sugeria que dividíssemos a conta do lanche.
Mas hoje, ele parecia outra pessoa.
Ele me disse que tinha recebido um adiantamento do 13º salário e queria usar cada centavo para fazer uma surpresa para a mãe dele. Achei o gesto nobre, e concordei em acompanhá-lo.
Entramos na loja. O ar era silencioso e cheirava a luxo. Uma vendedora elegante se aproximou de nós imediatamente.
"Posso ajudar?"
Pedro apontou para o colar na vitrine.
"Aquele. E também aquele par de brincos que combina com ele. E talvez aquele anel" , disse ele, indicando outra peça com um brilho no olhar.
A vendedora sorriu, impressionada. Ela colocou as peças sobre o balcão de veludo preto. Elas brilhavam sob a luz forte.
Eu olhei para os preços. Meu estômago gelou.
O colar custava cinco mil reais. Os brincos, três mil. O anel, mais quatro.
"Pedro, isso é... muito" , eu sussurrei, puxando a manga da sua camisa. "Você tem certeza?"
Ele se virou para mim, o sorriso desaparecendo do seu rosto. Ele parecia subitamente pálido.
"Duda, eu... preciso te contar uma coisa" , ele começou, a voz baixa e tensa. "Aconteceu uma emergência."
Meu coração acelerou.
"O que aconteceu?"
"Lembra do meu amigo, o Marcos? A mãe dele ficou muito doente, precisou de uma cirurgia de emergência. Ele me ligou desesperado, não tinha dinheiro. Eu... eu emprestei todo o meu 13º para ele."
Fiquei em silêncio, processando a informação.
A história parecia... conveniente demais.
"Você emprestou todo o dinheiro?"
"Sim, tudo. Eu não podia dizer não, era uma vida em jogo" , ele disse, olhando para mim com olhos suplicantes. "Mas eu não posso decepcionar a minha mãe. Já prometi a ela um presente especial."
Ele apertou minha mão com mais força.
"Duda, meu amor, eu sei que você também recebeu seu adiantamento. Você poderia... você poderia pagar por isso? Eu juro, assim que o Marcos me pagar de volta, eu te devolvo cada centavo."
Eu me afastei um pouco, o cheiro caro da loja de repente me dando náuseas.
A imagem dele, tão empolgado há poucos minutos, agora parecia uma encenação.
Lembrei-me de todas as vezes em que ele se recusou a pagar por um jantar, das desculpas que dava para não comprar um presente de aniversário para mim, de como ele sempre parecia estar sem dinheiro quando se tratava de nós.
Mas para a mãe dele, ele estava disposto a gastar doze mil reais.
Com o meu dinheiro.
"Pedro, eu não sei" , comecei, tentando encontrar as palavras certas. "É muito dinheiro. Talvez a gente pudesse comprar algo mais simples? Um presente bonito, mas não tão caro."
Ele franziu a testa, a decepção clara em seu rosto.
"Mais simples? Duda, você não entende? É sobre o gesto, sobre mostrar o quanto eu a amo."
Antes que eu pudesse responder, uma voz aguda e familiar cortou o ar.
"Maria Eduarda? O que você está fazendo aqui?"
Era Dona Fátima, a gerente de RH da empresa onde nós dois trabalhávamos. Ela se aproximou com um sorriso falso, os olhos percorrendo as joias no balcão.
"Ora, ora, Pedro! Que gesto lindo para a sua mãe! Você é um filho de ouro."
Ela então se virou para mim, o sorriso se transformando em uma expressão de desprezo.
"Não me diga que você está hesitando, Maria Eduarda. Um homem fazendo um gesto tão nobre e você fica aí, contando moedas? Que mesquinhez."
Algumas pessoas na loja se viraram para olhar. Senti meu rosto queimar.
"Dona Fátima, isso é um assunto pessoal" , eu disse, a voz trêmula.
"Pessoal? Querida, estamos em um lugar público. E o que eu vejo é uma mulher sendo pão-duro com o próprio namorado que só quer agradar a mãe" , ela disse em voz alta, para que todos ouvissem. "Pedro, não deixe ela te desanimar. Leve tudo! Sua mãe merece o melhor. Se ela não quer pagar, é problema dela. Um homem de verdade sabe o que fazer."
A vendedora nos olhava com desconforto. Os outros clientes cochichavam.
Eu olhei para Pedro, esperando que ele me defendesse, que dissesse a Dona Fátima para não se meter.
Mas ele não o fez.
Em vez disso, ele viu a oportunidade. Seu rosto se iluminou com a pressão que ela estava colocando sobre mim.
"Ela tem razão, Duda" , disse ele, a voz agora firme e exigente. "É para a minha mãe. Você não vai fazer essa desfeita, vai? O que as pessoas vão pensar de você? Que você é uma namorada egoísta?"
Ele pegou o colar e o colocou perto do meu rosto.
"Vamos, amor. Passe o cartão. É só dinheiro. Nosso amor vale mais que isso, não vale?"
Naquele momento, a imagem do homem que eu amava se quebrou em mil pedaços.
Eu não via mais o meu namorado.
Eu via um manipulador. Um aproveitador. E ao lado dele, sua cúmplice.