Ela Não Pagou: O Preço da Dignidade
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Capítulo 2

"Não."

A palavra saiu da minha boca, firme e clara, cortando a tensão no ar.

Pedro e Dona Fátima me olharam, chocados.

"O quê?" , ele gaguejou.

"Eu disse não" , repeti, dando um passo para trás, para longe do balcão, para longe deles. "Eu não vou pagar por isso."

Virei-me e saí da loja sem olhar para trás.

Caminhei rapidamente pelo shopping, o som dos meus próprios passos abafando os murmúrios e os olhares.

Só parei quando cheguei ao estacionamento. O ar frio da noite me atingiu, e eu finalmente respirei fundo.

Peguei meu celular e disquei o número da minha mãe. Ela atendeu no segundo toque.

"Filha? Aconteceu alguma coisa?"

Minha voz falhou quando tentei falar. Contei a ela tudo, desde o pedido de Pedro até a humilhação pública com Dona Fátima.

Ela ouviu em silêncio. Quando terminei, houve uma longa pausa do outro lado da linha.

"Maria Eduarda" , disse ela, a voz séria e cheia de uma autoridade que eu conhecia bem. "Eu te avisei sobre esse rapaz. Eu nunca gostei dele."

"Eu sei, mãe."

"Um homem que te ama não te coloca numa situação dessas. Ele não te expõe, não te humilha para conseguir o que quer. Isso não é amor, é exploração. Termine com ele. Agora."

As palavras dela eram duras, mas eram a verdade.

Uma verdade que eu vinha ignorando há muito tempo.

"Você tem razão" , eu disse, sentindo um peso enorme sair dos meus ombros.

"Venha para casa. Seu pai e eu estamos esperando por você."

Desliguei o telefone e olhei para o meu reflexo no vidro escuro de um carro.

Por fora, eu parecia uma garota comum.

Uma assistente administrativa que ganhava um salário modesto, que morava em um apartamento alugado e que se preocupava com contas.

Era a vida que eu tinha escolhido para mim. Uma tentativa de ser normal, de construir algo por conta própria, longe da sombra do meu pai.

Meu pai. Um dos maiores empresários do ramo imobiliário do país.

O prédio onde eu trabalhava? Era dele.

O apartamento onde eu morava? Era dele.

O apartamento onde Pedro morava, e cujo aluguel eu pagava há meses porque ele sempre estava "apertado" ?

Também era do meu pai.

Pedro não sabia de nada disso. Para ele, eu era apenas a Duda, a namorada com um emprego estável que podia cobrir suas despesas de vez em quando.

Uma onda de raiva e vergonha me invadiu. Como eu pude ser tão cega?

O celular vibrou na minha mão. Uma mensagem de Pedro.

"Duda, me desculpe. Eu não devia ter te pressionado. Fiquei nervoso com a Dona Fátima ali. Eu te amo. Por favor, vamos conversar."

Enquanto eu lia a mensagem, uma parte de mim, a parte tola e apaixonada, vacilou.

Lembrei-me do início do nosso namoro. Das risadas, das promessas, dos momentos em que eu realmente acreditei que tínhamos um futuro.

Será que eu estava sendo muito dura? Talvez ele realmente tivesse se deixado levar pela situação.

Talvez eu devesse dar a ele uma chance de se explicar.

Meu coração estava em um conflito doloroso. A razão me dizia para correr, mas a emoção me pedia para ficar.

Decidi esperar. Não responderia agora. Deixaria a poeira baixar.

Minutos depois, outra notificação. Um PIX.

Pedro tinha me transferido cinquenta reais.

A mensagem que acompanhava era: "Para o seu táxi para casa. Me perdoa."

Cinquenta reais.

Depois de tentar me extorquir em doze mil.

O gesto era tão pequeno, tão calculado, tão patético.

Mas, por alguma razão doentia, funcionou como um bálsamo temporário na minha ferida.

Mostrava que ele estava, de alguma forma, pensando em mim.

A parte fraca de mim venceu. Eu decidi que ouviria o que ele tinha a dizer.

            
            

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