De Zero a Cem: Amor Verdadeiro
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Capítulo 2

Nas semanas seguintes, a semente da dúvida de Lucas se transformou em uma árvore de suspeitas. A primeira grande transferência de dinheiro foi feita, e Sofia e Mateus garantiram que os "investimentos familiares" estavam em andamento. No entanto, o estilo de vida deles mudou drasticamente. Jantares em restaurantes caros, roupas de grife, viagens de fim de semana para resorts de luxo. Tudo, segundo eles, era "necessário para manter as aparências e fazer networking com potenciais parceiros de negócios".

Logo veio o segundo pedido de dinheiro.

"Meu amor, sinto muito incomodá-lo novamente", disse Sofia ao telefone, sua voz um sussurro de falsa angústia. "Houve uma complicação inesperada. Precisamos de um pouco mais de capital para garantir que o negócio não desmorone. É a reta final, eu prometo."

Lucas sentiu um nó no estômago. Ele estava em seu escritório, olhando para o extrato bancário. O buraco que a primeira transferência deixou já era considerável. Agora, eles queriam mais.

"Sofia, isso é muito dinheiro", ele disse, tentando manter a voz calma.

"Eu sei, querido, eu sei! E me sinto péssima por pedir. Mas pense no nosso futuro. Quando tudo isso der certo, nunca mais teremos que nos preocupar com nada. Serei capaz de retribuir tudo, cem vezes mais."

Cada palavra doce era uma facada em sua confiança, que já sangrava. O medidor dela, que ele podia ver mesmo através da representação mental dela em sua mente, continuava em um sólido e imutável zero. Ele transferiu o dinheiro, mas desta vez, o ato não foi de amor, mas de teste. Ele precisava ver até onde isso iria. A confiança que ele tinha nela por uma década estava se esvaindo, substituída por uma necessidade fria e calculista de descobrir a verdade.

O ponto de virada veio em uma tarde de terça-feira. Lucas estava almoçando em um bistrô sofisticado, discutindo um projeto com um cliente, quando viu Mateus entrar. Ele não estava com Sofia. Estava com um grupo de homens e mulheres que riam alto, todos vestidos com roupas caras. Mas não foram as roupas que chamaram a atenção de Lucas. Foi o relógio no pulso de Mateus.

Era um Patek Philippe. Um modelo de edição limitada que Lucas sabia que custava mais do que um carro de luxo. Era o tipo de extravagância que nem mesmo Lucas, com sua fortuna considerável, ousaria fazer sem pensar muito. E ali estava, no pulso do homem cuja família supostamente estava à beira da ruína financeira.

O sangue de Lucas gelou. Ele se desculpou com seu cliente e observou Mateus de longe. Quando o "Medidor de Afeto" focou em Mateus, o número o atingiu como um soco.

[Afeto: -50 (Ganância, Desprezo)]

Não era mais -20. Havia piorado. Cinquenta negativo. Ganância. Desprezo. Mateus olhou brevemente em sua direção, sem reconhecê-lo, e brindou com seus amigos, o relógio caríssimo brilhando sob a luz. Naquele momento, Lucas soube. Era tudo uma mentira.

A raiva que sentiu foi fria e precisa. Ele não fez uma cena. Ele pagou a conta e saiu, sua mente trabalhando a mil por hora. Ele precisava de provas concretas, algo irrefutável. A dor da traição ainda não o havia atingido completamente; ela estava obscurecida pela necessidade urgente de desmascarar a farsa.

Naquela noite, ele disse a Sofia que teria que trabalhar até tarde. Era uma mentira. Em vez disso, ele dirigiu até o luxuoso apartamento que alugava para ela e Mateus, um lugar que ele pagava para que eles pudessem "viver com dignidade" enquanto resolviam seus "problemas familiares". Ele estacionou do outro lado da rua, em um local escuro, e esperou.

Duas horas depois, o carro de Mateus parou em frente ao prédio. Ele saiu, seguido por Sofia. Eles estavam rindo. Então, sob a luz do poste, algo aconteceu que quebrou o coração de Lucas em um milhão de pedaços. Mateus puxou Sofia para perto e a beijou. Não foi um beijo fraternal. Foi um beijo longo, apaixonado e possessivo. Sofia respondeu com o mesmo fervor, envolvendo os braços em volta do pescoço dele.

Irmão e irmã. A mentira era tão absurda, tão grotesca, que Lucas sentiu vontade de vomitar. Dez anos de amor, um noivado, planos para uma vida inteira... tudo se desfez naquela imagem sórdida. A dor finalmente o atingiu, uma onda avassaladora de agonia e humilhação.

Ele ficou paralisado no carro, o motor desligado, o mundo silencioso exceto pelo som de seu próprio coração partido. Ele queria buzinar, gritar, confrontá-los ali mesmo. Mas uma parte fria e calculista de seu cérebro, a mesma parte que construiu seu império tecnológico, assumiu o controle. Uma cena de ciúmes agora só lhes daria a chance de inventar mais mentiras. Ele precisava de mais.

Ele saiu do carro e, usando a chave reserva que tinha, entrou silenciosamente no prédio. Ele subiu as escadas em vez do elevador, seu corpo movido por uma adrenalina gélida. Ele parou do lado de fora da porta do apartamento deles. As vozes eram claras, audíveis através da madeira.

"Você viu a cara dele quando pedi o segundo pagamento?", a voz de Sofia, desprovida de qualquer doçura, ecoou. Havia um tom de zombaria nela. "O idiota apaixonado. Ele realmente acredita em toda aquela besteira de 'honra da família'."

A risada de Mateus foi alta e cruel.

"Ele é o nosso caixa eletrônico pessoal. E o melhor de tudo? Ele acha que está fazendo isso por amor! O relógio que você me deu com o dinheiro dele é fantástico, querida. Todos os meus amigos ficaram com inveja."

"Ele é só o começo, Mateus", disse Sofia. "Depois que nos casarmos, terei acesso a tudo. A empresa, as contas bancárias, as propriedades. Ele vai me dar o controle de tudo, o tolo romântico. E então, vamos desaparecer e viver como reis."

"E o que faremos com ele?"

"Vamos deixá-lo com o coração partido e os bolsos vazios. Ele vai merecer, por ser tão cego."

Lucas ficou encostado na parede fria do corredor, cada palavra perfurando-o mais profundamente do que qualquer faca. A dor era tão intensa que se transformou em uma clareza gelada. O amor que ele sentia por Sofia morreu naquele corredor, substituído por um desprezo tão profundo que o assustou. Ele não era mais a vítima. Ele era o juiz. E o julgamento deles estava próximo.

Ele se afastou da porta, seus passos silenciosos como os de um fantasma. Ele desceu as escadas, saiu do prédio e voltou para o seu carro, um homem completamente diferente daquele que havia chegado. A tristeza ainda estava lá, um buraco negro em seu peito, mas agora estava cercada por uma muralha de fúria e determinação. Eles o chamaram de tolo. Eles o chamaram de caixa eletrônico. Eles iriam aprender, da maneira mais difícil, o quão caro era subestimar Lucas Alves.

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