Ele os viu do outro lado do salão. Eles conseguiram entrar, provavelmente usando convites antigos. Mas a aura de confiança e luxo havia desaparecido. As roupas de Sofia, embora ainda de grife, pareciam um pouco desesperadas. O sorriso de Mateus era forçado. Eles circulavam, tentando se misturar, mas as pessoas que antes os cercavam agora os evitavam sutilmente. Os rumores, Lucas sabia, viajavam rápido em seu círculo social. Sua ruptura pública com Sofia foi o assunto da semana.
A humilhação veio na forma de um empresário mais velho e impiedoso chamado Ricardo, um homem que não tinha paciência para farsantes. Ricardo encurralou Mateus perto do bar.
"Então, você é o garoto prodígio do investimento de quem todos estão falando?", Ricardo disse em voz alta, atraindo a atenção das pessoas ao redor. "Diga-me, qual foi sua última grande jogada? Porque eu ouvi dizer que o fundo que você afirma representar nem sabe quem você é."
O rosto de Mateus ficou vermelho. Ele gaguejou, tentando formular uma resposta, mas nenhuma veio.
"Eu... uh... é complicado. A estrutura do fundo é..."
"É complicada ou é inexistente?", Ricardo riu, um som cruel. "Pare de perder nosso tempo, garoto. Vá vender seus contos de fadas em outro lugar."
As pessoas ao redor riram ou desviaram o olhar, constrangidas. Mateus ficou ali, exposto e humilhado. Sofia correu para o seu lado, tentando salvá-lo da situação, mas o dano já estava feito. Os olhos dela encontraram os de Lucas do outro lado do salão. Havia um apelo desesperado neles, uma ordem silenciosa para que ele, seu ex-noivo poderoso, viesse e os defendesse, para restaurar sua honra.
Lucas apenas ergueu sua taça de champanhe em um brinde silencioso e zombeteiro, e depois virou as costas. Ele não sentiu nenhuma satisfação, apenas um vazio frio. Aquele era o resultado de suas próprias escolhas.
Enquanto observava a cena, ele notou algo mais. Alguns de seus "amigos", pessoas que ele conhecia há anos, viram a humilhação de Mateus e, em vez de parecerem surpresos, pareciam nervosos. Eles trocavam olhares cúmplices e se afastavam do centro das atenções. O "Medidor de Afeto" sobre a cabeça de um deles, um homem chamado Fernando, piscou.
[Afeto: -10 (Ansiedade, Cumplicidade)]
Lucas sentiu um calafrio. A podridão era mais profunda do que ele imaginava. Não eram apenas Sofia e Mateus. Havia outros que sabiam, que talvez até tivessem se beneficiado da farsa, aceitando jantares e presentes caros pagos com o dinheiro dele, validando a mentira de Mateus em troca de um pouco do brilho falso. A traição tinha múltiplas camadas.
Mais tarde naquela noite, seu telefone tocou. Era Sofia. Sua voz era uma mistura de choro e acusação.
"Você viu o que aconteceu? Você ficou lá e não fez nada! Ricardo nos humilhou na frente de todos!"
"E o que você esperava que eu fizesse, Sofia?", ele perguntou, sua voz gelada.
"Que você nos defendesse! Que você dissesse a eles quem nós somos! Que Mateus é seu amigo, meu irmão!"
"Mateus não é meu amigo. E ele não é seu irmão", Lucas disse, as palavras saindo como lascas de gelo.
Houve um silêncio chocado.
"Como... como você sabe?", ela sussurrou.
"Eu sei de tudo, Sofia. Do beijo em frente ao apartamento. Da conversa sobre me deixar sem um tostão. Do plano de vocês para desaparecer depois do casamento. Eu ouvi cada palavra."
O som do outro lado da linha foi um arquejo de puro terror. A máscara caiu completamente. Não havia mais lágrimas, apenas o som de uma respiração rápida e assustada.
"Você... você nos espionou?"
"Vocês me deram todos os motivos para isso. Agora, a única coisa que eu quero de vocês é meu dinheiro de volta. Cada centavo."
"Nós não temos o dinheiro!", ela gritou, o pânico transformando sua voz em um som estridente. "Nós gastamos!"
"Isso é problema de vocês. Vocês têm até a festa do Daniel para encontrar uma solução. Se não o fizerem, a próxima conversa que teremos será com a polícia e meus advogados. E acredite, eles não serão tão pacientes quanto eu."
Ele desligou o telefone antes que ela pudesse responder. A raiva que o consumia agora tinha um foco claro. Não se tratava mais apenas de exposição. Tratava-se de justiça. Ele não ia apenas derrubá-los; ele ia garantir que eles pagassem por tudo. Ele ia destruir o mundo falso que eles construíram com seu dinheiro e sua confiança, tijolo por tijolo, na frente de todos que já os admiraram. A festa de Daniel não seria uma celebração. Seria uma execução pública.
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