A Confeiteira da Revanche
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Capítulo 4

Os dias que se seguiram foram uma guerra de narrativas. Ricardo e Clara postavam vídeos diários nas redes sociais. Clara caminhando em uma esteira, Clara levantando pequenos pesos, Clara sorrindo para a câmera, proclamando sua recuperação milagrosa. Mas eu via a verdade nas edições rápidas, nos ângulos de câmera que escondiam sua instabilidade, no suor em sua testa que não era apenas de esforço.

Clara negava veementemente qualquer piora. "Eu nunca me senti melhor!", ela declarou em uma entrevista para uma revista de fofocas. "Luana está apenas com inveja do meu progresso e do talento de Ricardo." Ricardo, por sua vez, tentava encobrir os deslizes dela, culpando a "fadiga da desintoxicação" ou "flutuações de energia".

Enquanto isso, eu tinha minhas próprias provas. Pedro, usando seus contatos no hospital, conseguiu uma cópia dos exames de sangue recentes de Clara, que a família tentou manter em segredo. Os marcadores inflamatórios estavam altíssimos. Havia traços de anfetaminas e um coquetel de esteroides potentes, exatamente como Pedro suspeitava. Ele me entregou o envelope com um olhar sombrio.

"Isso é uma bomba-relógio, Luana. Ele está destruindo o corpo dela por dentro para criar uma fachada de saúde."

"Eu sei," eu disse, guardando o envelope. "E a bomba vai explodir na hora certa."

No quarto 302 do Hospital Beneficente, um milagre silencioso estava acontecendo. Após o movimento do dedo, o Senhor Almeida começou a apresentar mais sinais. Espasmos nos braços e pernas. Respostas pupilares à luz. E então, na vigésima terceira noite da minha vigília, enquanto eu preparava um suflê de framboesa e rosas, seus olhos se abriram.

Helena soltou um grito que foi meio soluço, meio alegria. Miguel ficou paralisado, seu rosto uma máscara de incredulidade. O Senhor Almeida olhou ao redor, confuso, seus olhos pousando em sua esposa.

"Helena?", ele sussurrou, sua voz um arranhão rouco de anos de desuso.

O reencontro foi uma das coisas mais emocionantes que eu já testemunhei. Helena chorava e ria ao mesmo tempo, segurando a mão do marido como se nunca mais fosse soltá-la. Miguel, o arquiteto cético e controlado, desabou em uma cadeira, o rosto entre as mãos, seus ombros tremendo com soluços silenciosos. Eu me retirei discretamente, dando-lhes privacidade. O aroma do meu suflê ainda pairava no ar, uma doce promessa de cura.

Eu observei Clara de longe. Vi-a tropeçar em um degrau que não estava lá. Vi sua mão tremer tanto que ela derramou café em seu vestido caro. Cada vez que a via, eu me lembrava da minha obsessão na vida passada. Eu também ignorei os sinais, tão focada na "cura" que não vi a verdade. Eu não cometeria esse erro novamente. A condição dela não era apenas uma doença, era um reflexo de quem ela era por dentro: instável, degenerativa e se autodestruindo sob uma fachada brilhante.

Nos dias seguintes, a recuperação do Senhor Almeida foi exponencial. Com a ajuda de fisioterapeutas, ele conseguiu sentar-se na cama. Ele começou a falar em frases completas. Ele se lembrava de tudo até o momento em que entrou em coma. A notícia se espalhou pelo hospital. Os mesmos médicos que o declararam um caso perdido agora vinham ao seu quarto, olhando para seus prontuários com admiração e espanto. Minha reputação, antes motivo de escárnio, agora era de admiração. As pessoas começaram a me chamar de "A Doce Milagreira".

Finalmente, o trigésimo dia chegou. O dia do acerto de contas.

O hospital montou um palco no grande átrio de entrada, a pedido da mídia e dos doadores que acompanhavam a aposta. Estava lotado. Câmeras de TV, jornalistas, socialites, médicos, enfermeiras, todos estavam lá para testemunhar o resultado.

Eu subi ao palco com Pedro e a família Almeida. O Senhor Almeida estava em uma cadeira de rodas, mas ele estava sorrindo, acenando para a multidão. Um murmúrio de choque e admiração percorreu o público. As pessoas que apostaram contra mim estavam olhando para seus celulares, suas caras longas. A opinião pública não estava mais se voltando; ela tinha virado um tsunami a meu favor.

Ricardo e Clara chegaram por último, com a arrogância de sempre. Mas eu vi a tensão na mandíbula de Ricardo, o medo mal disfarçado em seus olhos.

"Incrível, não é?", o administrador do hospital disse no microfone. "O Senhor Almeida, a quem tínhamos perdido a esperança, está conosco hoje, consciente e se recuperando, graças aos métodos pouco ortodoxos, mas inegavelmente eficazes, da Senhorita Luana."

A multidão aplaudiu.

Ricardo pegou o microfone, sua voz tremendo um pouco. "Uma coincidência notável. Mas não prova nada. Agora, testemunhem uma cura de verdade!"

Ele se virou para Clara. Era o momento deles. Mas quando eu olhei para ele, eu sabia que seu show estava prestes a terminar.

Eu me inclinei para o meu microfone.

"O Senhor Almeida está curado. Ele venceu um coma de cinco anos. Eu ganhei a aposta," eu declarei, minha voz calma e clara. "Ricardo, a multidão está esperando. Cumpra sua parte do acordo. Admita que você é uma fraude. E diga aos Silva para prepararem o cheque para a Ala Lucas."

Os olhos de Ricardo faiscaram de ódio. Ele estava encurralado. A multidão gritava, "Cumpra! Cumpra! Cumpra!". Ele não tinha saída. Ou assim parecia.

                         

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