Há dez anos, Clara esperava por Pedro debaixo de uma grande árvore de flamboyant no campus da universidade. As flores vermelhas caíam com a brisa, cobrindo o chão com um tapete carmesim. Ela sentia um friozinho na barriga, uma mistura de ansiedade e excitação. Era o primeiro encontro deles.
Ele estava atrasado. O sol se punha lentamente no horizonte, e a ansiedade de Clara transformava-se em preocupação. Ela começou a andar de um lado para o outro, olhando constantemente para a entrada do campus. Onde ele estaria? Teria acontecido alguma coisa? A preocupação apertava-lhe o coração.
De repente, ela viu uma figura a correr na sua direção. Era Pedro, com o cabelo desgrenhado e o rosto corado pelo esforço. Ele parou à sua frente, ofegante, e antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, ele a abraçou com força.
"Desculpa, desculpa, desculpa," ele disse, com a voz abafada no cabelo dela. "Eu perdi a noção do tempo. Por favor, não fiques zangada."
O abraço dele era quente e forte, e o cheiro a sabão e a suor juvenil enchia os seus sentidos. A preocupação de Clara evaporou-se, substituída por um sentimento de alívio e calor.
Ele afastou-se um pouco, com as mãos nos ombros dela, e olhou-a nos olhos. "Eu estava a fazer uma coisa para ti."
Ele tirou um par de chinelos de um saco de lona. Os chinelos eram tecidos à mão com palha, com pequenas flores bordadas na parte da frente. Eram simples, mas feitos com um cuidado óbvio.
"Eu sei que gostas de andar descalça em casa, mas o chão é frio," disse ele, com o rosto um pouco vermelho. "Eu aprendi a fazer isto com a minha avó. Espero que gostes."
Clara sentiu os olhos encherem-se de lágrimas. Ninguém nunca tinha feito nada tão atencioso por ela. Ela pegou nos chinelos, sentindo a textura áspera da palha e a suavidade das flores bordadas.
Naquele momento, Pedro olhou para ela com uma expressão séria e disse: "Clara, prometo-te. Não importa o que aconteça no futuro, não importa o quão ocupado eu esteja, eu nunca vou deixar que me procures e não me encontres. Se alguma vez eu não atender o telefone, é porque deve ter acontecido algo muito grave. Mas eu vou sempre encontrar uma forma de te avisar. A comunicação é a base de um relacionamento, e eu nunca vou quebrar essa base."
A sua expressão era tão solene, a sua voz tão firme, que Clara acreditou em cada palavra. Ela acreditava que este rapaz à sua frente, este rapaz que tinha corrido até ela ofegante, que lhe tinha feito chinelos à mão, que lhe tinha feito uma promessa tão séria, seria o seu príncipe encantado para sempre.
Ela guardou essa promessa no fundo do coração, como um tesouro precioso. Durante dez anos, ela acreditou nela, confiou nela. Acreditava que o amor deles era forte o suficiente para superar qualquer obstáculo.