"Ela é linda. Muito mais adequada para ele do que a Luna."
"Coitada da Luna. Ouvi dizer que ela ficou completamente destruída depois que ele a deixou."
"Destruída? Eu ouvi que ela enlouqueceu. Tentou de tudo para mantê-lo."
"Que vergonha. Uma órfã que ele acolheu, e ela achou que poderia realmente se casar com a família. Tão ingênua."
Cada palavra era um pequeno golpe, mas eu me mantive imóvel no meu canto, perto da varanda, observando a cena. Eu não era mais a garota frágil que eles lembravam. O tempo e a dor me forjaram em algo diferente, algo mais duro.
Rafael finalmente me viu. Seu sorriso vacilou por um segundo antes de se alargar ainda mais. Ele disse algo para Sofia e começou a caminhar na minha direção, arrastando-a com ele.
Era a hora do show.
"Luna, que surpresa te ver aqui", disse Rafael, seu tom carregado de uma falsa cordialidade que me revirou o estômago.
"Rafael." Eu disse, minha voz calma e neutra.
Seu olhar me varreu de cima a baixo, avaliando meu vestido simples, porém elegante, e meu cabelo preso em um coque arrumado. Ele esperava me encontrar em farrapos, provavelmente. A decepção em seu rosto foi sutil, mas eu a vi.
"Você parece... bem", ele concedeu, como se estivesse me fazendo um grande favor.
Sofia sorriu, um sorriso que não alcançou seus olhos.
"Luna, querida. Ficamos tão preocupados com você. Rafael me disse como foi difícil para você depois... bem, depois de tudo."
A condescendência em sua voz era palpável.
"Não precisavam se preocupar", respondi, mantendo meu olhar firme.
Rafael riu, um som oco e desagradável.
"Vamos, Luna. Não precisa fingir. Eu sei que foi um choque para você. Mas, honestamente, foi para o seu bem."
Aqui vinha a desculpa esfarrapada. Eu esperei por isso.
"Eu te deixar foi a melhor coisa que poderia ter acontecido com você", continuou ele, agora falando para a pequena plateia de curiosos que se formava ao nosso redor. "Você não estava pronta para o meu mundo. Era muita pressão. Eu te libertei para encontrar seu próprio caminho, um caminho mais... adequado ao seu nível."
A humilhação pública. O clássico movimento de Rafael. Ele sempre precisou se sentir superior, no controle, e a melhor maneira de fazer isso era diminuindo os outros.
A raiva borbulhou dentro de mim, uma onda quente e familiar. Mas eu a sufoquei. Eu não daria a ele essa satisfação.
"Seu nível?", repeti, uma sobrancelha arqueada. "Interessante."
Sofia interveio, colocando a mão no braço de Rafael, em um gesto de falsa gentileza.
"Amor, não fale assim. Luna está se esforçando. Podemos ver isso." Ela se virou para mim. "Fico feliz que você tenha conseguido um emprego e esteja se cuidando. Se precisar de alguma coisa, qualquer coisa mesmo, não hesite em me ligar. A família de Rafael sempre terá um lugar para você, como... uma irmã mais nova."
Irmã mais nova. A mesma desculpa que ele usou para me descartar, para justificar trocar uma noiva por uma amante. A ironia era tão espessa que eu quase podia tocá-la.
O círculo de espectadores parecia satisfeito com o drama. Eles balançavam a cabeça em concordância, olhando para mim com uma mistura de pena e desprezo. A órfã abandonada, sendo graciosamente oferecida migalhas pela nova rainha.
Eu respirei fundo, sentindo o ar frio da noite vindo da varanda.
Chega de teatro.
"Isso é muito gentil da sua parte, Sofia", comecei, minha voz soando clara e firme no silêncio que se instalou. "Mas eu não vou precisar."
Rafael cruzou os braços, um sorriso presunçoso no rosto. "Orgulhosa como sempre. Algumas coisas nunca mudam."
"Oh, você não faz ideia do quanto as coisas mudaram, Rafael."
Eu olhei diretamente nos olhos dele, ignorando completamente a mulher pendurada em seu braço.
"Você está certo sobre uma coisa. Me deixar foi a melhor coisa que já me aconteceu. Realmente me libertou."
Eu fiz uma pausa, deixando a tensão crescer.
"Me libertou para encontrar um homem de verdade."
O sorriso de Rafael congelou.
"Um homem que não precisa diminuir uma mulher para se sentir grande. Um homem que sabe o que é lealdade. Um homem que me ama pelo que eu sou."
Eu levantei minha mão esquerda, lentamente, deliberadamente.
Na luz suave do salão, o anel de diamante no meu dedo brilhou intensamente. Não era um anel qualquer. Era uma peça deslumbrante, muito maior e mais impressionante do que o anel de noivado que Rafael me dera anos atrás, o qual Sofia agora usava.
Um suspiro coletivo percorreu o pequeno grupo. Os olhos de Sofia se arregalaram, fixos na joia. O rosto de Rafael passou do choque para a incredulidade e, finalmente, para uma raiva sombria.
"A propósito", eu disse, com o sorriso mais doce que consegui reunir. "Eu não estou apenas 'bem'. Eu estou casada."