Sofia se aproximou, seu sorriso de mártir firmemente no lugar. Rafael a seguia de perto, como uma sombra carrancuda. Seus amigos, um pequeno grupo de bajuladores, os acompanhavam.
"Luna, esse seu anel é realmente... chamativo", disse uma das amigas de Sofia, uma mulher chamada Vanessa, com um tom de desprezo. "Seu... marido... deve ser muito generoso."
"Ou muito velho e cego", acrescentou outro amigo, rindo.
Sofia colocou a mão no peito, em um gesto de falsa desaprovação. "Pessoal, não sejam maldosos. O amor vem em todas as formas e tamanhos... e idades."
Eles estavam insinuando que eu era uma interesseira, uma "sugar baby" que se vendeu pelo luxo. A mesma velha história, a mesma velha mentalidade tacanha.
"Meu marido é incrivelmente generoso", eu disse, olhando diretamente para Vanessa. "Especialmente com pessoas que merecem. E felizmente para mim, ele tem uma visão perfeita."
Rafael deu um passo à frente. "Onde você conseguiu esse vestido? Parece caro para alguém que... bem, para você. Deixe-me adivinhar, ele também pagou por isso?"
A raiva que eu vinha contendo finalmente transbordou.
Eu peguei o copo de champanhe da bandeja de um garçom que passava. Sem uma palavra, virei o copo e derramei o líquido gelado sobre a cabeça de Rafael.
O champanhe escorreu por seu cabelo perfeitamente penteado, encharcando o colarinho de sua camisa cara.
O silêncio chocado caiu sobre o grupo.
"Ops", eu disse, minha voz pingando sarcasmo. "Minha mão escorregou. Parece que sou um pouco desajeitada para o 'seu mundo', não é, Rafael?"
Os olhos dele se arregalaram, depois se estreitaram em pura fúria. "Você está louca?"
"Não mais", respondi, colocando o copo vazio de volta na bandeja com um clique. "Eu costumava ser louca. Louca por tentar agradar um homem que me via como um acessório quebrado. Louca por pensar que seu amor era algo que eu precisava ganhar. Louca por acreditar nas suas mentiras."
Eu me virei para o grupo inteiro. "Vocês querem saber sobre meu marido? Tudo bem. O nome dele é Leo. E não, ele não é velho. E ele certamente não é cego. Ele me viu quando eu era invisível. Ele juntou meus pedaços quando seu amigo aqui", eu apontei para Rafael, "me deixou em cacos na calçada."
"Eu não me vendi por um anel ou por um vestido", continuei, minha voz ganhando força. "Eu me apaixonei por um homem que me respeita. Algo que nenhum de vocês parece entender o que significa."
Sofia, vendo que estava perdendo o controle da narrativa, tentou sua tática de vítima. Lágrimas brotaram em seus olhos.
"Luna, por que você está sendo tão agressiva? Estamos apenas tentando entender. É tudo tão repentino. Você desaparece por dois anos e de repente volta casada... Ninguém nem conhece esse 'Leo'. Como podemos saber se ele é bom para você? Se este casamento é... real?"
A insinuação era clara. Ela estava sugerindo que meu casamento era uma farsa, uma invenção para salvar as aparências.
Eu ri na cara dela. Um som curto e sem humor.
"Você querendo saber se ele é 'bom para mim'?", eu disse, balançando a cabeça em descrença. "A mulher que ajudou a me destruir, que ficou parada enquanto eu era acusada de roubo e expulsa de casa, agora está preocupada com o meu bem-estar?"
Eu me inclinei em sua direção, baixando minha voz para um sussurro intenso.
"Não ouse falar comigo como se você se importasse. Sua preocupação falsa me dá nojo."
O rosto de Sofia desmoronou. A máscara de santidade se quebrou, revelando a malícia por baixo. Ela recuou como se eu a tivesse atingido.
"Rafael!", ela choramingou, virando-se para ele. "Você vai deixar ela falar assim comigo?"
Rafael, ainda pingando champanhe e humilhação, deu um passo ameaçador em minha direção. Seus olhos prometiam retribuição.
"Você vai se arrepender disso, Luna."
"Não", eu disse, sem recuar um centímetro. "Eu me arrependi por tempo demais. Agora, é a sua vez."
A tensão era uma corda esticada prestes a arrebentar. A festa ao nosso redor havia desaparecido. Havia apenas aquele confronto, anos de dor e raiva finalmente vindo à tona. E pela primeira vez, eu não estava com medo. Eu estava no controle.