O silêncio que se seguiu à minha declaração foi pesado e absoluto. Todos os olhares estavam fixos em mim, no meu anel, e de volta no rosto furioso de Rafael.
Sofia foi a primeira a se recuperar, forçando uma risada estridente.
"Casada? Luna, querida, que brincadeira engraçada. Você sempre teve um bom senso de humor."
Ela olhou para Rafael, buscando apoio, mas ele continuava em silêncio, seus punhos cerrados ao lado do corpo. Ele sabia que eu não estava brincando. Eu nunca brincava sobre coisas assim.
"Não é uma brincadeira", eu disse, minha voz ainda calma.
Alguém na multidão murmurou: "Casada? Com quem? Ninguém soube de nada."
Era a pergunta que pairava no ar. A órfã abandonada, que supostamente estava na sarjeta, de repente aparece casada e usando um diamante que valia mais do que o carro de Rafael. A história não batia.
Rafael finalmente encontrou sua voz, e ela estava pingando veneno.
"Quem é ele?", ele rosnou, dando um passo à frente, seu espaço pessoal invadindo o meu. "Que velho rico e desesperado você enganou para te dar um anel?"
A acusação foi baixa e cruel, exatamente como eu esperava dele.
Antes que eu pudesse responder, uma risada clara e alta ecoou do outro lado do salão.
Não era minha risada.
Era uma risada divertida, cheia de zombaria.
Todos se viraram na direção do som. A multidão se abriu, e eu vi a minha amiga, Clara, a noiva da festa, parada com um sorriso malicioso no rosto.
"Enganou?", disse Clara, caminhando em nossa direção. "Rafael, você realmente não conhece a Luna, não é? Ela não precisa enganar ninguém. Especialmente não o marido dela."
Clara parou ao meu lado, me dando um abraço rápido e um olhar que dizia "eu cuido disso".
"Todo mundo!", ela chamou, sua voz projetada para alcançar cada canto do salão. "Eu tenho um segundo anúncio esta noite! Não só estou noiva do homem dos meus sonhos, mas minha melhor amiga, Luna, também encontrou sua felicidade!"
Ela pegou minha mão e a levantou para que todos vissem o anel.
"Sim, é verdade! Ela se casou!"
Uma onda de murmúrios e aplausos educados se espalhou pelo salão. As pessoas que antes me olhavam com pena, agora me olhavam com curiosidade e um novo tipo de respeito.
Eu olhei para Rafael. Sua máscara de arrogância havia rachado, revelando uma confusão feia por baixo. Ele não conseguia processar. No mundo dele, eu deveria estar de luto por ele, não celebrando um novo amor.
"Isso é impossível", ele sibilou, baixo o suficiente para que apenas eu e Clara pudéssemos ouvir. "Você não é nada sem mim. Quem se casaria com você?"
A dor daquelas palavras teria me destruído há dois anos. Agora, elas soavam apenas patéticas.
"Aparentemente, alguém com muito bom gosto", respondi com um encolher de ombros.
Eu me virei para sair, mas ele agarrou meu braço. Seu aperto era forte, possessivo.
"Você ainda é minha responsabilidade", ele disse, seus olhos escuros faiscando. "Eu te criei. Você me deve uma explicação."
"Sua responsabilidade?", eu ri, um som genuíno desta vez. "Sua responsabilidade terminou no dia em que você me jogou para fora de casa no meio da noite com nada além da roupa do corpo. Você não me deve nada, e eu certamente não te devo nada."
Eu puxei meu braço de seu aperto com uma força que o surpreendeu.
"Fique longe de mim, Rafael."
Eu me virei, e desta vez ele não me seguiu. Eu podia sentir seus olhos queimando nas minhas costas, cheios de uma raiva impotente.
Sofia correu para o seu lado, tentando acalmá-lo, sua expressão uma mistura de preocupação e ciúme. O anel em seu dedo, que antes parecia tão grandioso, agora parecia pequeno e insignificante em comparação com o meu.
Enquanto eu caminhava para longe daquele pequeno drama, senti um alívio imenso. A primeira batalha estava vencida. Eu apareci, quebrei as expectativas deles e saí por cima.
Mas eu sabia que estava longe de acabar. Rafael não era do tipo que aceitava a derrota facilmente. Ele iria cavar, investigar, tentar encontrar uma maneira de me machucar, de provar que minha nova felicidade era uma farsa.
Mal sabia ele que minha felicidade era a coisa mais real da minha vida. E o homem que me deu este anel era mais poderoso do que Rafael jamais poderia sonhar em ser.