A Vanessa ficou surpreendida com a minha falta de resposta. Ela esperava drama, lágrimas, talvez até uma serenata desesperada debaixo da sua janela. O meu silêncio era desconcertante.
"Ele nem sequer respondeu às minhas mensagens," disse ela ao Hugo, enquanto estavam sentados no mesmo bar onde o meu coração tinha sido esmagado. "Apenas desapareceu."
Hugo, um galerista de arte suave e ambicioso, encolheu os ombros, um sorriso presunçoso nos lábios.
"Ele está a fazer-se de difícil, Vanessa. É uma tática. Ele pensa que se te ignorar, vais correr atrás dele. É patético, mas previsível."
Os amigos dela concordaram.
"O Hugo tem razão," disse uma delas. "Ele sempre foi obcecado por ti. Ele só quer a tua atenção. Tens de continuar com o plano. Mostra-lhe que estás a seguir em frente com o Hugo. Isso vai esmagá-lo de vez."
A Vanessa olhou para o Hugo, o objeto da sua própria obsessão de longa data. A ideia de o ter, mesmo que fosse uma farsa, era demasiado tentadora.
"Tens razão," disse ela, a sua determinação a regressar. "Vamos mostrar a toda a gente o quão felizes estamos."
Enquanto isso, a minha irmã, Nicole, tentava intervir. Ela foi à casa da Vanessa, furiosa.
"O que é que tu lhe fizeste, Vanessa?" exigiu ela.
"Eu não lhe fiz nada," respondeu a Vanessa, fria. "Ele é que ouviu uma conversa privada. Além disso, estou ocupada agora. O Hugo está à minha espera."
Ela passou pela Nicole sem lhe dar mais atenção, deixando a minha irmã frustrada e impotente. A amizade delas, que durava há anos, estava a começar a rachar.
Eu, por outro lado, estava focado. Passei os dias seguintes a preencher formulários, a gravar demos e a preparar a minha candidatura para a bolsa de estudo no Brasil. Cada passo era um passo para longe dela, para longe da dor. Era a única coisa que me mantinha são.
O confronto inevitável aconteceu na festa de aniversário da Nicole. Ela organizou-a numa vinha no Vale do Douro, um lugar que deveria ser de celebração e felicidade. Mas a Vanessa e o Hugo apareceram.
Eles entraram de mãos dadas, a rir e a exibir o seu "amor" para toda a gente ver. Eles encontraram-me junto a uma mesa de petiscos.
"Jacob," disse a Vanessa, a sua voz falsamente doce. "Que bom ver-te. Já conheces o meu noivo, Hugo, não já?"
Hugo estendeu a mão, o seu aperto era condescendente.
"Ouve, miúdo," disse ele, com uma voz baixa e pretensiosa. "Sem ressentimentos, ok? A Vanessa é uma mulher excecional. Tens de seguir em frente."
Eu olhei para eles, para o seu espetáculo cruel. Eu estava entorpecido, a dor era uma presença constante e surda no meu peito.
"Felicidades para os dois," disse eu, a minha voz vazia de emoção. "Desejo-vos o melhor."
A minha calma pareceu desapontá-los. Eles queriam uma reação, uma cena. Os amigos deles, que se tinham juntado ao nosso redor, começaram a zombar de mim.
"Lembram-se de quando ele compôs aquela canção horrível para o aniversário da Vanessa?" disse um.
"E daquela vez que ele esperou três horas à chuva à porta da universidade dela, só para lhe dar uma flor?" riu outro.
Cada palavra era uma facada. Eu permaneci em silêncio, o meu rosto uma máscara de indiferença. Eu não lhes daria a satisfação.