A Vinicultora Rejeitada e o Rei do Luxo
img img A Vinicultora Rejeitada e o Rei do Luxo img Capítulo 2
3
Capítulo 5 img
Capítulo 6 img
Capítulo 7 img
Capítulo 8 img
Capítulo 9 img
Capítulo 10 img
Capítulo 11 img
Capítulo 12 img
Capítulo 13 img
Capítulo 14 img
Capítulo 15 img
Capítulo 16 img
Capítulo 17 img
Capítulo 18 img
Capítulo 19 img
Capítulo 20 img
img
  /  1
img

Capítulo 2

Passei os dias seguintes fechada na minha pequena casa anexa, recusando-me a sair. A mansão principal estava em alvoroço com os preparativos para o casamento, e eu não queria fazer parte daquilo. Queria apenas esperar que o dia da minha partida chegasse.

Mas, na véspera do casamento, Benjamin apareceu à minha porta. A sua expressão era difícil de ler, uma mistura de impaciência e talvez um pingo de culpa.

"Veste-te. Vamos sair."

Fiquei surpreendida. "Sair? Para onde?"

"A Sofia quer ir ver os fogos de artifício sobre o Tejo esta noite. É um evento de caridade. Vens connosco." Não era um convite, era uma ordem.

Uma pequena e estúpida chama de esperança acendeu-se dentro de mim, mas apaguei-a imediatamente. Ele não estava a convidar-me. Estava a levar-me. Quando cheguei ao carro, a minha desilusão foi confirmada. Sofia já lá estava, sentada no lugar da frente, ao lado dele. Usava um vestido deslumbrante e um colar de diamantes que brilhava mesmo na penumbra.

"Olá, Juliette" , disse ela, com um sorriso que não chegava aos olhos. "O Ben disse-me que gostas muito de fogos de artifício. Pensei que seria simpático convidar-te."

Senti-me como um acessório, uma peça de caridade. Fui colocada no banco de trás, sozinha. Durante o trajeto, observei-os. Ele colocava a mão na perna dela, sussurrava-lhe coisas ao ouvido que a faziam rir. Eram um casal. Pareciam perfeitos juntos, vindos do mesmo mundo, falando a mesma língua de privilégio e poder.

Eu era a estranha, a peça que não encaixava. A cada gesto de carinho entre eles, uma memória dolorosa vinha à tona. Lembrei-me de como o Ben, o meu Ben, costumava segurar a minha mão enquanto caminhávamos pelas vinhas. Lembrei-me de como ele me dizia que o meu riso era a sua música favorita. Aquele Ben estava morto. O homem no banco da frente era um fantasma que usava o seu rosto.

A dor era tão intensa que parecia física. Eu não estava apenas a perder o homem que amava; estava a perder a versão de mim mesma que tinha existido com ele. Aquela Juliette, feliz e ingénua, tinha desaparecido para sempre.

O evento era num terraço luxuoso com vista para o rio. Fomos a uma loja de joias de luxo que patrocinava o evento. Enquanto Benjamin e Sofia eram recebidos como realeza, eu fiquei para trás. Uma vendedora arrogante aproximou-se de mim.

"A entrada de serviço é pelos fundos" , disse ela, olhando-me de cima a baixo com desdém. O meu vestido simples, comprado numa loja local no Douro, era um farrapo comparado com as roupas de alta-costura que me rodeavam.

Corei de vergonha. "Eu não sou uma empregada. Estou com eles."

A vendedora riu-se. "Com eles? Não me faça rir."

Benjamin ouviu a confusão e aproximou-se. Mas em vez de me defender, ele simplesmente deu uma explicação superficial à vendedora. "Ela está connosco. É uma... amiga de família do campo."

"Amiga de família do campo." As palavras ecoaram na minha cabeça, cada uma delas uma pequena facada. Ele nem sequer conseguia dizer o meu nome.

Mais tarde, no terraço, o espetáculo começou. Benjamin tinha organizado tudo para Sofia. Quando os fogos de artifício explodiram no céu em cores vibrantes, ela aplaudiu de alegria, virando-se para o beijar.

"Oh, Ben, é maravilhoso! Nunca ninguém fez algo assim por mim!"

Eu fiquei paralisada. Lembrei-me de uma noite no Douro, durante as festas da aldeia. Ben tinha-me levado para o cimo de uma colina para ver os modestos fogos de artifício locais. Ele abraçou-me por trás e sussurrou: "Um dia, Juliette, vou dar-te um espetáculo de fogos de artifício que vai iluminar o mundo inteiro, só para ti."

Outra promessa quebrada. Outra memória roubada e oferecida a outra pessoa. Senti as lágrimas a quererem sair, mas engoli-as. Não lhes daria essa satisfação.

A multidão começou a empurrar para conseguir uma vista melhor. Eu estava perto da beira do terraço. De repente, um empurrão mais forte vindo de trás desequilibrou-me. Ao mesmo tempo, Sofia, que estava ao meu lado, também tropeçou.

Por uma fração de segundo, os nossos olhos encontraram-se no pânico. Depois, caímos as duas. O som dos gritos misturou-se com o barulho dos fogos de artifício enquanto a água fria e escura do Tejo nos engolia.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022