A minha decisão estava firme. Não haveria mais lágrimas, nem mais esperança. Apenas a fria e dura realidade. Eu não seria a amante de ninguém, uma sombra escondida nos cantos de uma vida que não era minha. Lembrei-me da promessa dele, de me fazer sua esposa, a Sra. Gordon. Que piada cruel.
No dia seguinte, sentia-me fraca, mas a determinação dava-me força. Benjamin entrou no meu quarto sem bater. A sua preocupação era superficial, uma formalidade.
"Como te sentes?"
"Como achas que me sinto?" , respondi, com a voz desprovida de emoção.
Ele suspirou, impaciente. "Olha, eu sei que foi difícil, mas a Sofia está estável agora, graças a ti. O casamento vai acontecer amanhã, como planeado." Ele não mencionou o facto de me ter deixado para morrer no rio. Para ele, era um detalhe insignificante.
"Esta noite, a minha mãe vai dar um pequeno jantar para a família da Sofia. Quero que venhas."
Olhei para ele, incrédula. "Não."
"Não comeces com birras, Juliette. É importante que estejas lá. Para mostrar que não há ressentimentos. Para mostrar que apoias a minha decisão."
"Apoiar a tua decisão?" , ri amargamente. "Tu não me deste escolha."
"Pára de ser dramática. Vais e ponto final." Ele saiu, deixando-me com um nó de raiva e humilhação no estômago.
Nessa noite, fui forçada a ir. Vesti o meu vestido mais simples, uma afronta silenciosa ao luxo que me rodeava. O jantar foi na sala de jantar principal da mansão. Eu era a única pessoa que não pertencia àquele círculo de riqueza e poder.
As mulheres, lideradas pela mãe de Benjamin e pela mãe de Sofia, olhavam para mim como se eu fosse um animal exótico no jardim zoológico. Os seus sussurros eram audíveis.
"Então é esta a camponesa do Douro?"
"O que é que o Benjamin viu nela? É tão vulgar."
"Ouvi dizer que ele a vai manter como concubina. Que sorte a dela. Uma rapariga do campo a viver numa mansão."
A mãe de Sofia, uma mulher com um rosto duro e olhos frios, virou-se para mim com um sorriso falso. "Então, querida, estás feliz por o Benjamin ter encontrado uma esposa adequada? Deves estar grata por ele ainda te permitir ficar por perto."
A humilhação ardia-me no rosto. Levantei o queixo e olhei-a nos olhos.
"Eu nunca aceitaria ser a concubina de ninguém. Tenho mais respeito por mim mesma."
A sala ficou em silêncio. O choque era palpável. Uma "camponesa" a desafiar a matriarca de uma das famílias mais ricas de Lisboa era inédito. A mãe de Benjamin olhou para mim com fúria.
"Como te atreves?"
Antes que a situação explodisse, Benjamin e Sofia entraram, de braços dados, sorrindo. A Sra. Gordon recompôs-se rapidamente, forçando um sorriso.
"Estávamos apenas a dar as boas-vindas à Juliette. A dizer-lhe como estamos felizes por ela fazer parte... da família alargada."
A mentira era tão descarada que era quase cómica.