Aos 26 anos eu já tinha minha vida toda planejada. Com uma carreira bem sucedida como analista da bolsa em Wall Street eu já tinha meu próprio apartamento no central Park bem no coração de Manhattan, a cidade que eu adorava. Mas quando o assunto era relacionamentos, eu era o completo caos disfarçado.
E nem é pelo temperamento. Eu sou bem tranquila na verdade. Nada de ciúmes exagerado, pegação no pé ou do tipo possessiva. O problema é ser um maldito para-raios para relacionamentos complicados que parecem surgir dos quintos dos infernos para atormentar minha vida.
Com um deles eu quase me casei. Liam, meu namorado do ensino médio, o cara mais legal, talentoso e atleta do colégio, o típico clichê adolescente. Depois da faculdade, eu voltei para Melbourne e lá estava ele, com seus cabelos dourados e olhos cinzentos que me fizeram esquecer em um segundo do meu sonho de morar em Nova York.
Alguns meses depois nós noivamos, eu estava em êxtase, afinal a garota nerd ia se casar com o atleta local, era o máximo! Aparentemente eu não sou boa em captar os sinais de que um homem é um mentiroso traidor.
Resultado: um completo desastre. No dia do nosso casamento ele termina tudo e diz que está apaixonado por outra. Assim, exatamente nessa ordem.
Então eu fugi. Como uma garotinha assustada eu fugi para mais longe daquele lugar que eu pude. E NY passou de um sonho distante para meu novo lar. Eu gosto daqui e adoro o que me tornei, apesar de um tanto metódica e perfeccionista, eu não sou mais aquela garotinha ingênua que todos achavam que era perfeita.
É claro que meu padrão subiu um pouco e eu até tenho uma lista de exigências.
Eu sei que o cara ideal existe e está por aí e em uma cidade tão grande quanto essa eu poderia até esbarrar com ele enquanto saio de um jantar de negócios, ou em um bar depois de um happy hour com os amigos. O fato é que eu não aceito nada menos que o homem perfeito.
- Meu Deus, você ainda não se livrou dessa lista horrorosa? - Sarah me repreendeu assim que me pegou rabiscando a lista pela centésima vez.
- Não é uma lista horrorosa- eu rebati- É como um lembrete para me manter longe de caras horríveis. E você como minha amiga, deveria me apoiar.
- Eu vou te apoiar meu amor - ela se inclinou sobre a minha mesa me encarando seriamente - Vou te apoiar quando você fizer muito sexo selvagem com um gostosão bonitão bem másculo e forte - ela fecha os olhos e passa a língua nos lábios - Hum, delícia!
- Meu Deus, você tem sérios problemas - eu ri e ela soltou uma gargalhada bem escandalosa.
Essa palavra a definia perfeitamente: escandalosa. Sarah era a definição da palavra "foda-se". Ela não ligava para o que pensavam dela, não se importava em manter as aparências ou fingir. Acho que ela nem sabia fingir e foi exatamente por isso que a contratei. Então depois de dois anos trabalhando como minha assistente, ela se tornou uma amiga maravilhosa e por esse jeito debochado, todo mundo ali no escritório mantinha uma certa distância dela. Em outras palavras, as pessoas tinham medo dela as expor... Expor seus podres melhor dizendo. Era incrível como a Sarah sabia os podres de toda aquela gente.
- Chegou pra você - ela estendeu um envelope elegante branco e meu coração deu um salto quando o abri e me deparei com um laço envolto em um papel cartão finíssimo e de muito bom gosto com a frase:
"Hellen e Nathan vão se casar"
- Puta que pariu! - eu soltei, fazendo Sarah estalar os olhos.
- Puta que pariu mesmo - ela respondeu terminando de recolher os documentos na minha mesa - Pra você falar palavrão meu amor, não quero nem saber o que tem nesse envelope aí.
O casamento da minha irmãzinha caçula. O lembrete de que minha vida amorosa era um verdadeiro show de horrores. Não me entenda mal, eu adoro minha irmã e devido a apenas três anos de diferença de idade, nós sempre fomos muito unidas e temos um ótimo relacionamento. O problema era toda essa coisa de madrinha de casamento.
Mas a quem eu quero enganar? Era óbvio que ser a madrinha da Hellen nunca seria um problema. O motivo de jamais querer pisar em Melbourne novamente era o fato de ter sido envergonhada na frente de mais de trezentos convidados chocados.
Meus pais gastaram uma pequena fortuna nos preparativos mesmo contra meus protestos, isso graças a minha mãe, a mulher mais deslumbrada que eu já conheci, que exigiu que a sua primogênita tivesse o maior casamento da cidade. O idiota do Liam adorava a badalação que aquele evento trazia e se aproveitando disso ele fazia questão de que todos testemunhassem nossas núpcias e a minha eventual humilhação.
Dei um salto da cadeira quando o telefone tocou, me despertando dos meus devaneios e lembranças que gostaria de esquecer.
- A megera na linha seis - Sarah me avisou e percebi que esquecer seria uma tarefa praticamente impossível, já que com toda essa história de casamento seria praticamente impossível.
- Oi mãe - atendi sem qualquer ânimo.
- Oi querida, recebeu o convite? Eu pedi para o entregador me avisar quando entregasse. Na verdade falei para entregar em mãos, já que não tinha certeza se aquela sua secretária entregaria...
- Ela é minha assistente mãe, não minha secretária- eu a interrompi, contrariada.
- Que seja....Eu pedi para sua irmã deixar o seu para a última hora de propósito mesmo, assim você não vem com aquelas desculpas esfarrapadas de que precisa trabalhar - ela continuou falando e eu me dei conta de que devido ao meu momento nostalgia, nem percebi que não havia reparado na data.
- Mais que merda - eu berrei no telefone me ajeitando na cadeira - É praticamente daqui a uma semana!
- Meu Deus Lilly, olha a boca - ela me repreendeu - Nós esperamos você para a semana das madrinhas.
- Mãe, eu...
- Nem pense em inventar uma desculpa, mocinha. Se você não estiver aqui na próxima segunda, pode esquecer que tem uma família.
E essa era a minha mãe. Mary Anne, a mulher mais intimidadora e irritantemente chata que eu já lidei e eu sabia que aquela ameaça era séria.
Não que ela fosse um monstro, só um pouco agressiva e bem rancorosa, já que eu não apareci nos últimos dois natais.
- É claro que eu vou estar lá, mãe - respondi tentando parecer o mais casual possível.
- Todo mundo está ansioso para vê-la, querida - ela respondeu com excitação na voz - Soube que o filho dos Cameron vai vir, lembra que ele gostava de você na escola? Ele é engenheiro agora e trabalha na...
- Tchau mãe - eu desliguei antes que ela me desse um dossiê completo sobre o rapaz e de mais uns quinze pretendentes.
Depois de sentir um frio percorrendo a espinha ao me imaginar pisando naquele lugar novamente, ficamos alguns minutos tentando bolar um plano para escapar de toda essa merda. As ideias da Sarah eram hilárias e incluía: aniversário do meu cachorro, morte da minha tartaruga... o detalhe é que não tenho nenhum desses bichinhos em casa, mas agradeci pela ajuda.
- Amiga, se anima! Hoje é a despedida da Leah e você disse que ia. Passo pra te pegar às dez - ela falou se levantando da cadeira empolgada.
Ótimo, mais uma noiva! O lembrete perfeito da minha vida amorosa arruinada. Eu tentei protestar, mas encher a cara numa noite de sexta não era uma má ideia. O negócio era se preparar mentalmente para um monte de gente suada se esfregando, música ensurdecedora e o mínimo de comunicação possível. Perfeito!
Um cenário de merda, pra uma vida amorosa de merda.
- E vê se aparece lá vestindo alguma coisa melhor do que esse terninho horroroso - foi seu último conselho.