A resposta de Gabriel foi um sussurro gelado que atravessou a porta e perfurou meu coração.
"Eu já cuidei disso, Bia. O bebê dela... não vai sair do hospital. Já conversei com uma enfermeira. Um 'acidente' na incubadora. Uma falha no equipamento. Ninguém vai suspeitar de nada em meio a tantos bebês prematuros."
Um soluço silencioso escapou dos meus lábios. Meu filho. Meu Leo. Eles estavam planejando matar meu filho. O bebê que eu mal tinha conseguido segurar nos braços.
"E então?", Beatriz pressionou. "Qual é o próximo passo?"
"O nosso filho, Beatriz", disse Gabriel, e a intimidade em sua voz era inconfundível, doentia. "Nosso filho, que você teve em segredo, vai tomar o lugar dele. Vamos dizer que, após o trauma, Lívia teve um colapso e não reconhece a criança. Ele será apresentado como o 'milagre' que você salvou. O filho de Gabriel Costa, nascido em circunstâncias heroicas. Ninguém nunca saberá a verdade."
A verdade me atingiu com a força de um trem. Beatriz e Gabriel. Amantes. Eles tinham um filho juntos. E planejavam substituir meu bebê, assassinar meu Leo, para colocar o filho deles em seu lugar.
Meu casamento, minha gravidez, minha quase morte... tudo fazia parte de um plano ainda maior e mais monstruoso do que eu imaginava. Eles não queriam apenas reabilitar Beatriz, eles queriam construir uma nova família sobre as cinzas da minha.
De repente, ouvi o som de choro vindo de dentro da sala. Era Beatriz.
"Oh, Gabriel, eu me sinto tão culpada", ela soluçou, mas o som era falso, ensaiado. "Usar a Lívia assim... ela sempre foi tão boa para mim. E o bebê... é só um bebê inocente."
"Shh, shh", Gabriel a acalmou, sua voz agora suave e manipuladora. "Você não tem culpa de nada. Você fez o que era preciso. Você é a vítima aqui, lembra? A médica brilhante que foi injustiçada. Você merece essa segunda chance. E nosso filho merece um futuro brilhante. Lívia e o filho dela são um sacrifício necessário."
Um sacrifício necessário.
A bile subiu pela minha garganta.
Eu me afastei da porta, cambaleando para trás, tentando processar a enormidade da crueldade deles.
Nesse exato momento, o telefone de Gabriel tocou dentro da sala. Ele atendeu, e sua voz ficou profissional, distante.
"Sim?... Entendido... O pagamento foi feito?... Ótimo. Diga a ela para proceder conforme o combinado. Sem erros."
Ele desligou. O pagamento. A enfermeira. A morte do meu filho. Estava acontecendo. Agora.
Um terror puro e primitivo tomou conta de mim, substituindo o choque e a dor. Meu bebê. Eu precisava salvar meu bebê.
Com um esforço sobre-humano, me virei e comecei a andar, tão rápido quanto meu corpo ferido permitia, na direção oposta, para longe daquela sala do inferno.
Minha mente corria. Eu não podia confrontá-los. Eles me silenciariam, me internariam como louca, diriam que era o trauma falando. Eu não tinha provas, apenas as palavras deles que ecoavam na minha cabeça.
Mas eu tinha um celular.
Puxei o aparelho do bolso do meu roupão, minhas mãos tremendo tanto que mal conseguia segurá-lo. Voltei silenciosamente para perto da porta, o coração batendo contra minhas costelas como um pássaro preso.
Estendi o braço, posicionei o celular e apertei o botão de gravar vídeo, mirando na fresta da porta.
Eu precisava de provas.
Depois, com a gravação segura, me virei e fugi. Corri pelo corredor, ignorando as pontadas de dor, o único pensamento na minha mente sendo a imagem do meu pequeno Leo, sozinho e indefeso em uma incubadora.
Eu precisava chegar até ele. Precisava tirá-lo de lá.
E então, eu iria destruir Gabriel e Beatriz Costa. Eu iria expor a verdade, não importava o custo. Eles pegaram tudo de mim, mas não iriam pegar meu filho.
A guerra havia começado.