Vingança em Mar Aberto
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Capítulo 3

O frio que senti naquela noite não vinha do ar condicionado do hospital, era um frio que nascia na alma, um gelo que se espalhava pelas minhas veias, congelando cada memória feliz que eu já tive com Gabriel.

Enquanto eu dirigia para longe daquele lugar de horrores, com meu filho seguro na cadeirinha no banco de trás, a história da minha vida se reescreveu na minha mente, cada capítulo tingido com a cor da traição.

Lembrei-me dos meus pais.

Eles morreram em um estranho acidente de carro anos atrás. O carro deles perdeu os freios em uma estrada sinuosa. Na época, foi considerado uma tragédia, um azar terrível. Gabriel estava ao meu lado, me confortando, me ajudando a lidar com a papelada, com o luto avassalador.

Beatriz, na época, ainda era uma médica respeitada, e cuidou de todos os laudos. Ela disse que foi uma falha mecânica imprevisível.

Agora, uma dúvida terrível e doentia começou a se formar. Teria sido realmente um acidente? Ou meus pais, que nunca aprovaram completamente meu casamento com Gabriel, que sempre desconfiaram de sua ambição sem limites, teriam sido... eliminados?

Eles eram um obstáculo. E Gabriel era um mestre em remover obstáculos.

Depois da morte deles, eu fiquei sozinha, quebrada. E Gabriel foi meu salvador. Ele me reconstruiu, me amou, me pediu em casamento. Ele era a luz no fim do meu túnel de escuridão.

Ou assim eu pensava.

Agora eu via a verdade. Ele não foi meu salvador, ele foi o arquiteto da minha desgraça. Ele me encontrou no meu momento mais vulnerável e me moldou na esposa perfeita e submissa que ele precisava.

Uma esposa que não faria perguntas. Uma esposa que o amaria incondicionalmente, cega para a escuridão que se escondia por trás de seu sorriso encantador. Uma esposa que serviria como a fachada perfeita para seu caso doentio com a própria irmã.

Meu casamento não foi uma história de amor. Foi uma transação comercial.

Eu era um ativo, um peão para estabilizar sua imagem pública enquanto ele conduzia seus negócios sujos e seu relacionamento incestuoso.

E então, eu engravidei.

Eu me lembro da alegria dele, das lágrimas em seus olhos quando eu contei a notícia. Ele disse que era o dia mais feliz de sua vida, que nosso filho seria a prova do nosso amor.

Que mentira. Que piada cruel.

Minha gravidez não foi uma bênção para ele. Foi uma oportunidade.

O erro médico de Beatriz havia manchado o nome da família Costa. E meu filho, nosso filho, seria a ferramenta para limpar essa mancha.

O "milagre" do meu parto, a "redenção" de Beatriz, tudo foi construído sobre o sofrimento planejado do meu corpo e sobre o corpo frágil e inocente do meu bebê.

Pior ainda, a revelação de que eles planejavam matar Leo e substituí-lo pelo filho deles... Isso quebrou algo dentro de mim.

Aquele bebê, fruto de um relacionamento doentio, seria criado como meu, como o herdeiro do império Costa, enquanto meu próprio filho seria descartado como um dano colateral.

Tudo o que eu acreditava ser verdade era uma ilusão.

Meu amor. Meu casamento. Minha família. Meu milagre.

Tudo era um sonho lindo construído sobre um pesadelo.

Um sonho que Gabriel e Beatriz criaram para me manter dócil e controlada.

E naquela noite, enquanto eu dirigia sem rumo, com meu filho dormindo pacificamente no banco de trás, o sonho se desfez.

E eu acordei.

Acordei para a realidade fria e brutal de que eu estava casada com um monstro, e que a mulher que eu considerei uma heroína era sua cúmplice.

Minha antiga vida estava morta, queimada até as cinzas pela verdade. E das cinzas, uma nova Lívia estava nascendo.

Uma Lívia que não sentia mais amor, apenas ódio.

Uma Lívia que não queria mais ser uma esposa, mas sim uma executora.

A estrada à minha frente estava escura e desconhecida, mas uma coisa era certa: eu não iria parar até que Gabriel e Beatriz Costa pagassem por cada mentira, cada lágrima, cada grama de dor que me causaram.

Eles queriam um sacrifício? Eu lhes daria um.

Mas não seria eu, nem meu filho.

Seriam eles.

                         

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