Tentou ligar o carro, mas não tinha as chaves. Procurou desesperadamente no porta-luvas, nos compartimentos laterais, debaixo dos bancos. Nada.
Inspirou fundo, tentando se acalmar. Talvez pudesse encontrar outra forma de escapar.
Abriu a porta da garagem em silêncio e voltou para dentro, deslizando pelos corredores escuros. Sua única opção era procurar no escritório de Alexander. Com sorte, lá estariam as chaves... ou algo que a ajudasse a fugir.
O escritório ficava na ala direita da casa. Caminhou com cautela, prendendo a respiração toda vez que o chão rangia sob seus pés. A casa estava completamente silenciosa, exceto pelo leve sussurro da chuva nas janelas.
Quando chegou à porta, girou a maçaneta com cuidado e empurrou.
Estava trancada.
-Droga... -sussurrou, mordendo o lábio.
Seu pulso acelerou. Onde poderia estar essa chave? Olhou ao redor, procurando alguma outra entrada. A janela era estreita demais e não parecia uma opção viável. Então se lembrou: Alexander costumava carregar as chaves no bolso.
Se não estivessem ali, deviam estar no quarto dele.
Um arrepio percorreu sua espinha ao perceber o que precisava fazer.
Voltar ao quarto de Alexander não era algo que lhe agradava, mas não havia outra escolha. Moveu-se rapidamente, escondendo-se nas sombras.
Ao chegar, empurrou a porta devagar. Lá dentro, Alexander dormia profundamente, com a respiração calma e ritmada.
Isabella avançou com cuidado, rezando para que ele não acordasse.
Seus olhos varreram o cômodo até pousarem na mesinha de cabeceira. Sobre uma pilha de documentos, descansavam algumas chaves. Aproximou-se com o coração disparado e as pegou com delicadeza.
No instante em que seus dedos as tocaram, ouviu um leve movimento atrás de si.
Ficou imóvel.
Esperou, prendendo o fôlego.
Alexander apenas se virou para o outro lado, murmurando algo em sonho.
Aproveitou a chance e saiu do quarto com a mesma cautela com que havia entrado.
Assim que chegou ao escritório, testou uma das chaves, e a fechadura cedeu com um leve clique.
Entrou rapidamente e fechou a porta atrás de si.
Acendeu o abajur da escrivaninha e começou a vasculhar os documentos com pressa.
Havia relatórios financeiros, contratos, correspondências... mas nada que indicasse que ela era sua esposa.
Procurou nas gavetas e encontrou uma pasta com seu nome: Isabella Ramírez.
Abriu-a com as mãos trêmulas.
Dentro havia cópias de seu histórico médico, mas o que a fez congelar foram várias fotos... fotos dela antes do acidente, caminhando pela rua, entrando em uma clínica.
Havia imagens de sua gravidez avançada, sozinha, sem Alexander.
Era evidente: ele a estava vigiando.
Seu estômago se contraiu de pavor.
Sentiu um nó na garganta ao encontrar um documento que a fez tremer dos pés à cabeça.
Era uma ordem de tutela.
Alexander Blake havia solicitado a guarda legal de sua gravidez, alegando que ela não tinha condições de tomar decisões por conta própria devido à amnésia.
Seus lábios se entreabriram em puro horror.
Ele não apenas a havia feito acreditar que eram casados...
Ele planejava ficar com seus filhos.
O som de passos no corredor a tirou do torpor.
Apagou o abajur imediatamente e prendeu a respiração.
A porta se abriu com força.
Alexander estava ali, parado no batente, com o olhar sombrio e penetrante.
-O que está fazendo aqui, Isabella? -sua voz era suave, mas havia algo perigoso em seu tom.
Ela apertou os documentos contra o peito, sentindo o coração prestes a explodir.
Alexander avançou lentamente em sua direção.
-Você não devia ter visto isso.
Isabella deu um passo para trás, mas se viu encurralada entre a escrivaninha e a presença imponente dele.
-Você... você mentiu -sussurrou, com a voz trêmula-. Eu não sou sua esposa. Você... foi quem causou o acidente.
Alexander soltou um longo suspiro e fechou a porta atrás de si.
-Isabella, me escuta...
-Não! -gritou ela, sentindo as lágrimas quentes embaçarem sua visão-. Você planejava tirar meus filhos de mim!
O rosto de Alexander se endureceu.
-Eu só queria te proteger.
-Proteger de quê?! De você mesmo?!
Alexander ficou em silêncio por um momento, como se calculasse o que dizer. Então suspirou e deu um passo à frente.
-As coisas não são tão simples, Isabella.
Ela balançou a cabeça, tremendo da cabeça aos pés.
-Eu não posso ficar aqui.
-Você não tem escolha.
A voz dele foi apenas um sussurro, mas bastou para que ela entendesse a verdade.
Alexander Blake não pretendia deixá-la escapar.