O melhor amigo do meu pai é o meu grande amor
img img O melhor amigo do meu pai é o meu grande amor img Capítulo 3 Alexandre Xavier
3
Capítulo 6 Alexandre Xavier img
Capítulo 7 Maria Vitória Bocci img
Capítulo 8 Alexandre Xavier img
Capítulo 9 Maria Vitória Bocci img
Capítulo 10 Alexandre Xavier img
Capítulo 11 Maria Vitória Bocci img
Capítulo 12 Alexandre Xavier img
Capítulo 13 Maria Vitória Bocci img
Capítulo 14 Alexandre Xavier img
Capítulo 15 Maria Vitória Bocci img
Capítulo 16 Maria Vitória Bocci img
Capítulo 17 Alexandre Xavier img
Capítulo 18 Maria Vitória Bocci img
Capítulo 19 Alexandre Xavier img
Capítulo 20 Maria Vitória Bocci img
Capítulo 21 Alexandre Xavier img
Capítulo 22 Maria Vitória Bocci img
Capítulo 23 Alexandre Xavier img
Capítulo 24 Maria Vitória Bocci img
Capítulo 25 Alexandre Xavier img
Capítulo 26 Maria Vitória Bocci img
Capítulo 27 Alexandre Xavier img
Capítulo 28 Alexandre Xavier img
Capítulo 29 Maria Vitória Bocci img
Capítulo 30 Alexandre Xavier img
Capítulo 31 Maria Vitória Bocci img
Capítulo 32 Alexandre Xavier img
Capítulo 33 Maria Vitória Bocci img
Capítulo 34 Alexandre Xavier img
Capítulo 35 Maria Vitória Bocci img
Capítulo 36 Alexandre Xavier img
Capítulo 37 Maria Vitória Bocci img
Capítulo 38 Alexandre Xavier img
Capítulo 39 Alexandre Xavier img
Capítulo 40 Maria Vitória Bocci img
Capítulo 41 Maria Vitória Bocci img
Capítulo 42 Alexandre Xavier img
Capítulo 43 Maria Vitória Bocci img
Capítulo 44 Alexandre Xavier img
Capítulo 45 Maria Vitória Bocci img
Capítulo 46 Alexandre Xavier img
Capítulo 47 Maria Vitória Bocci img
Capítulo 48 Alexandre Xavier img
Capítulo 49 Alexandre Xavier img
Capítulo 50 Maria Vitória Bocci img
Capítulo 51 Maria Vitória Bocci img
Capítulo 52 Alexandre Xavier img
Capítulo 53 Maria Vitória Bocci img
Capítulo 54 Alexandre Xavier img
Capítulo 55 Maria Vitória Bocci img
Capítulo 56 Alexandre Xavier img
Capítulo 57 Maria Vitória Bocci img
Capítulo 58 Alexandre Xavier img
Capítulo 59 Maria Vitória Bocci img
Capítulo 60 Alexandre Xavier img
Capítulo 61 Maria Vitória Bocci img
Capítulo 62 Alexandre Xavier img
Capítulo 63 Maria Vitória Bocci img
Capítulo 64 Alexandre Xavier img
Capítulo 65 Maria Vitoria Bocci img
Capítulo 66 Alexandre Xavier img
Capítulo 67 Maria Vitória Bocci img
Capítulo 68 Alexandre Xavier img
Capítulo 69 Alexandre Xavier img
Capítulo 70 Maria Vitória Bocci img
Capítulo 71 Maria Vitória Bocci img
Capítulo 72 Alexandre Xavier img
Capítulo 73 Maria Vitória Bocci img
Capítulo 74 Maria Vitória Bocci img
Capítulo 75 Alexandre Xavier img
Capítulo 76 Maria Vitória Bocci img
Capítulo 77 Alexandre Xavier img
Capítulo 78 Maria Vitória Bocci img
Capítulo 79 Alexandre Xavier img
Capítulo 80 Maria Vitória Bocci img
Capítulo 81 Alexandre Xavier img
Capítulo 82 Maria Vitória Bocci img
Capítulo 83 Alexandre Xavier img
Capítulo 84 Maria Vitória Bocci img
Capítulo 85 Alexandre Xavier img
Capítulo 86 Maria Vitória Bocci img
Capítulo 87 Alexandre Xavier img
Capítulo 88 Maria Vitória Bocci img
Capítulo 89 Maria Vitória Bocci img
Capítulo 90 Alexandre Xavier img
Capítulo 91 Maria Vitória Bocci img
Capítulo 92 Alexandre Xavier img
Capítulo 93 Maria Vitória Bocci img
Capítulo 94 Alexandre Xavier img
Capítulo 95 Maria Vitória Bocci img
Capítulo 96 Alexandre Xavier img
Capítulo 97 Maria Vitória Bocci img
Capítulo 98 Alexandre Xavier img
Capítulo 99 Maria Vitória Bocci img
Capítulo 100 Alexandre Xavier img
img
  /  2
img

Capítulo 3 Alexandre Xavier

Os meus dias se tornavam cada vez mais cheios.

Eu ainda pensava em tudo, a manhã no hospital, a tarde na palestra, noite no seminário.

Cheguei em casa tarde da noite, mas foi o silêncio que me atingiu primeiro. Um silêncio que não era paz, era alerta. Um presságio, um aviso sutil de que algo estava prestes a acontecer. Um tipo de vazio denso, que se espalhava pelo corredor como névoa antes da tempestade. Subi os degraus devagar, sentindo o peso do dia se acumular nos ombros. A maleta escorregava da minha mão, o paletó já amarrotado pelas idas e vindas, por vestir e despir ao longo das horas, ou por simplesmente estar ali, à espera.

Passava das onze da noite. Eu havia avisado que não viria direto pra casa, depois da palestra, talvez esticasse no hospital. Maria Clara não precisava me esperar, mas o evento acabou cedo, a chuva mudava os planos naquela noite. Nossos dias estavam cheios, corridos. E o que um dia foi promessa de vida mansa, de descanso, se perdia lentamente em trabalhos intermináveis.

O andar de cima estava escuro, exceto pela fresta de luz vinda do nosso quarto. A porta entreaberta, hesitei. Me sentia exausto. Coisas simples, rotineiras, já não eram leves. Com os anos, tudo pesa.

- Oh, que delícia! - a voz feminina entre gemidos atravessou a porta, cortando o ar como uma lâmina.

Um suspiro, outro. O som era molhado, abafado, íntimo. No primeiro instante, estranhei. No segundo, duvidei.

- Quica, isso, gostosa, vai, vai, isso... Ahhhh! - Uma voz masculina entre sussurros e grunhidos que nunca tinha ouvido antes me atingiram. Ali, naquele corredor familiar a minha pulsação saltou. Um calor estranho subiu pelo meu rosto. A mão apertou a maçaneta. E, sem pensar, empurrei a porta já aberta.

A cena explodiu diante de mim.

Corpos se moviam na minha cama, em completa escuridão. A Minha esposa montada sobre outro homem. Os cabelos castanhos desgrenhados, colados à testa suada. As costas nuas, desenhando curvas que antes eram minhas. O lençol lilas, escorregava, revelando o que jamais imaginei ver: os seios dela, arfando, à mostra; os lábios entreabertos num êxtase que não me pertencia.

Eles se moviam juntos, embalados no ritmo da traição. Até que o som da porta batendo interrompeu tudo, enquanto velando tudo aquilo, engoli em seco a dor, o peso da traição, as minhas mãos tremiam, meu corpo suava, apesar da chuva fina que caia lá fora.

Ela virou o rosto, os olhos dela encontraram os meus, congelaram. O homem de pele negra, mais jovem, talvez uns dez anos a menos que eu, musculos saltitantes, cabelos crespos, engasgou de susto. A empurrou para lado, e em seguida sentou na cama, tentou pegar a calça do chão, mas a nudez deles já estava cravada na minha memória.

- Maria Clara? - A minha voz saiu rouca de raiva, embargada.

Minha voz saiu baixa, áspera, como se rasgasse minha garganta. O lençol subiu com pressa, mas já era tarde. O corpo dela, mesmo coberto, gritava luxúria. A pele avermelhada. Agora de quatro na cama, tentando se recompor. A culpa estampada no rosto como se tivesse sido esculpida a fogo.

- Xande... eu... - Ela tentou dizer, quando não havia desculpa. Nenhuma palavra cabia naquele espaço.

Eu olhava para ela e não conseguia reconhecê-la. A mulher com quem dividi minha vida, minha cama, meus sonhos... agora exposta, entregue a outro, no lugar que era meu.

- Na nossa cama? - Tudo que consegui dizer.

A pergunta escapou antes que eu pudesse contê-la. Não era somente raiva. Era choque. Incredulidade.

O homem abaixava a cabeça, tentando se vestir às pressas. O cheiro no quarto era outro. Umidade, suor, perfume feminino misturado com colônia. Uma mistura agridoce e vulgar.

- Você nunca está aqui! - ela explodiu, os olhos marejando. - Nunca! Quando está, é só hospital, plantão, cirurgia, tese, congresso, artigo! Você me deixou sozinha há anos, Alexandre!

Ela disse meu nome como se fosse uma acusação.

- Isso justifica... isso? - gesticulei, sem saber onde fixar o olhar. No lençois caídos? Nos dedos dela ainda marcados pelo prazer? - Eu achei que estávamos juntos nisso. Que sabíamos os custos. Você sabia com quem casou.

Ela riu. Um riso curto. Ácido.

- Eu casei com um homem apaixonado pelo jaleco. Que salva o mundo inteiro, mas me deixava morrendo aos poucos. Você não me tocava mais, Xande. Eu me sentia invisível.

Isso não era verdade, eu tinha tentando na noite anterior e ela disse que estava com dor de cabeça. - E resolveu se mostrar pra outro? Na nossa cama?

Minha voz falhou. Então veio o enjoo. Uma náusea surda. Nojo. Pena. Frustração.

- Isso muda tudo, Clara. - Era claro que mudava, todas as suas recusas, os seus horários excessivos de trabalho.

- Já estava mudando há muito tempo. Você só não percebeu. - Gritou, enquanto a ficha caia.

O silêncio caiu de novo. Mas, desta vez, não era denso. Era definitivo.

Peguei meu paletó. Não olhei para trás. O som dos passos dela, o murmúrio do outro homem, os suspiros abafados, os lençóis... tudo virou ruído distante. Eles discutiam entre si, quando parti.

Desci como se os degraus pertencessem a outro mundo. Um universo que não era mais meu.

A casa... a casa que construí... agora era apenas o lugar onde fui traído.

Do lado de fora,a chuva caía, o ar estava úmido. Respirei como se buscasse um pedaço de mim mesmo.

****

O bar estava quase vazio, só o som da TV ao fundo e o tilintar esporádico de copos no balcão. Aquele lugar esquecido pela cidade era o refúgio silencioso de Heitor. Sempre que a vida ameaçava ruir, ele me trazia ali. Hoje, era a minha vez de desabar.

O gelo no copo girava devagar. Como se aquele uísque pudesse me anestesiar. Como se tivesse o poder de apagar a imagem que ainda queimava nas minhas retinas. Clara. Outro homem. O lençol que nunca mais será só nosso.

- Clara está com outro. E não é de hoje - falei sem rodeios, sem filtro. A voz saiu baixa, carregada de vergonha. - Pela forma como os corpos se encaixavam... aquilo não era novo. Era íntimo. Familiar.

Heitor abaixou os olhos. O silêncio dele era mais respeitoso do que qualquer frase de consolo.

- Desculpa, cara. Eu nem sei o que te dizer.

- Engraçado... - dei um leve riso sem humor. - Quando a gente tá dentro da tempestade, não percebe o quanto o barco já estava fazendo água.

Ele assentiu. Como quem já soubesse, mas se recusava a ser o mensageiro.

- E você ainda ama ela?

A pergunta ficou no ar, reverberando entre a fumaça da cozinha e o cheiro agridoce do álcool barato. Amor. Parecia ser palavra difícil agora.

- Eu amava o que a gente foi um dia - respondi, encarando o âmbar do copo. - O resto virou encenação. Ela tem razão. Eu me escondi atrás da medicina, me enterrei em plantões, congressos, aulas... - Dei um gole. - Mas não foi por ego. Eu achava que estava protegendo a gente. Fazendo tudo valer a pena, um aposentadoria digna, uma vida confortável, como sempre planejamos.

- Às vezes, o legado cobra caro - disse ele, meio rindo, meio triste.

- Cobra. E não é parcelado.

Mais um silêncio ficou entre nós.

Então Heitor largou o copo sobre a mesa, me olhou de lado, como quem pondera se deve ou não dizer algo.

- A minha cobrança também chegou, Alex. A Laura me ligou. - Soltou como se fosse um peso.

- Laura que Laura? - perguntei, mais por impulso do que por interesse. A cena de Clara me traindo ainda corroía por dentro.

- A mãe da minha filha, Maria Vitória. - Disse me olhando seriamente, após um longo suspiro.

Maria Vitória. O nome ressoou estranho. Como algo que incomoda e atrai ao mesmo tempo. Talvez fosse o contraste entre "Maria" - contido - e "Vitória" - explosivo. Mas era só um nome. Sendo filha dele, eu apostei no segundo.

- Me ligou pra reclamar da menina. Disse que não tá dando conta, quer que eu vá buscá-la. - Desabafou.

- Quantos anos ela tem?

Ele deu de ombros, bebendo mais um gole.

- Não faço a menor ideia, talvez cinco, seis, não me lembro ao certo.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022