A Amarga Vingança de uma Esposa
img img A Amarga Vingança de uma Esposa img Capítulo 2
2
Capítulo 5 img
Capítulo 6 img
Capítulo 7 img
Capítulo 8 img
Capítulo 9 img
Capítulo 10 img
Capítulo 11 img
Capítulo 12 img
Capítulo 13 img
Capítulo 14 img
Capítulo 15 img
Capítulo 16 img
Capítulo 17 img
Capítulo 18 img
Capítulo 19 img
Capítulo 20 img
Capítulo 21 img
img
  /  1
img

Capítulo 2

O e-mail de confirmação da Vértice Sigilo Absoluto chegou uma semana depois. *Fase Um Concluída. Seus novos documentos de identidade estão sendo processados. Conclusão estimada: 4-6 semanas.* Uma onda de alívio, tão potente que pareceu uma liberação física, tomou conta de Clara. Ela não era mais apenas uma vítima; era a arquiteta de sua própria fuga.

Paris. A palavra ecoava em sua mente. Não a Paris que ela conhecia com Bernardo - a de hotéis cinco estrelas e restaurantes com estrelas Michelin. Esta seria a sua Paris. Um pequeno apartamento em Le Marais, uma vida tranquila, um emprego em uma pequena galeria de arte independente. Uma vida onde ninguém conhecia o nome Randolph.

Ela começou o lento e doloroso processo de desmantelar sua vida. Moveu-se pela cobertura como um fantasma, separando quinze anos de memórias compartilhadas. Escondido em uma caixa de veludo no fundo de seu armário estava um colar de diamantes, a joia da família Randolph que Bernardo lhe dera no dia do casamento.

"Isso pertenceu à minha avó", ele lhe dissera, com os olhos sinceros. "Representa o futuro da nossa família. É seu agora, para sempre."

Para sempre. A palavra era uma piada amarga. Ela olhou para as pedras frias e brilhantes. Não eram um símbolo de um futuro; eram o preço de seu silêncio, o pagamento por sua cumplicidade em seu próprio coração partido.

Ela foi a uma casa de leilões de caridade próxima e o doou anonimamente. O formulário de liberação parecia mais pesado que o próprio colar.

Outras coisas, ela não conseguia doar. Os álbuns de fotos cheios de memórias sorridentes e fraudulentas. As lembrancinhas bobas de suas primeiras e mais felizes viagens. Os bilhetes manuscritos que ele costumava deixar em seu travesseiro.

Naquela noite, ela os levou para a grande lareira da sala de estar. Um por um, ela os alimentou para as chamas. Observou enquanto seus rostos, capturados em momentos de felicidade fingida, se enrolavam, enegreciam e viravam cinzas. O fogo consumiu seu passado, uma pira para um amor que havia sido uma mentira.

Bernardo voltou de sua "viagem de negócios" no dia seguinte, cantarolando uma melodia que ela não reconheceu. Ele notou o espaço vazio na lareira onde a foto do casamento deles costumava ficar.

"Onde está nossa foto, Clara?", ele perguntou, a testa franzida em leve confusão.

"Mandei para emoldurar de novo", ela mentiu suavemente. "O vidro estava trincado."

Ele aceitou a explicação sem pensar duas vezes. Estava muito distraído, muito cheio de sua vida secreta. Ela podia sentir o cheiro nele - um perfume floral fraco que não era o dela. Viu um único e longo cabelo escuro na gola de seu casaco de caxemira. As evidências estavam por toda parte, mas ele se movia pela casa com a ignorância feliz de um homem que acreditava estar se safando de tudo.

"Tenho uma surpresa para você", ele anunciou alguns dias depois, o braço envolvendo sua cintura. "Uma festa. Pelo seu aniversário, para compensar minha ausência. Convidei todo mundo."

Seu verdadeiro aniversário tinha sido semanas atrás, aquele que ela passara sozinha. Esta festa não era para ela. Era para ele. Uma performance para o círculo social deles, uma maneira de manter a fachada do casal perfeito.

"Isso é... atencioso", disse ela, a voz desprovida de emoção.

Ela foi à festa com um vestido preto simples, um contraste gritante com os vestidos brilhantes das outras mulheres. Sentia-se como uma observadora em sua própria execução. A cobertura estava cheia de flores, o champanhe fluía livremente e um quarteto de cordas tocava no canto. Era um quadro perfeito de opulência e felicidade.

E então ela a viu.

Alice Dias. Perto do piano de cauda, parecendo perdida e deslocada em um vestido vermelho vibrante que era um tamanho menor.

Uma convidada, uma mulher mais velha pingando diamantes, passou por Clara. "Minha querida, você está deslumbrante esta noite", disse a mulher, com os olhos fixos em Alice. "Esse vermelho é uma escolha ousada para você!"

A mulher deu um tapinha no braço de Clara e seguiu em frente, deixando Clara paralisada. Eles achavam que Alice era ela. A substituta era tão descarada, tão óbvia, que as pessoas estavam confundindo a cópia com o original.

Alice parecia apavorada. Ela segurava uma pequena bolsa contra o peito como um escudo, os olhos arregalados e percorrendo a sala. Era uma criança brincando de se vestir em um mundo que não entendia.

Bernardo, vendo sua angústia, imediatamente interrompeu sua conversa e foi para o lado dela. Ele colocou uma mão protetora na base de suas costas, sussurrando algo em seu ouvido que fez um leve rubor subir por suas bochechas.

Clara caminhou até eles, seus passos pesados, como se estivesse andando na água.

"Bernardo", disse ela, a voz baixa e uniforme. "O que ela está fazendo aqui?"

Bernardo se encolheu, mas se recuperou rapidamente. Ele estampou um sorriso encantador. "Clara, querida! Eu queria que você conhecesse a Alice direito. Pensei que, já que ela está carregando nosso filho, deveria se sentir parte da família."

Ele se virou para a multidão que começara a notar a pequena cena. "Pessoal", anunciou ele, a voz ressoando com falsa bonomia. "Esta é Alice Dias. Ela é uma querida amiga da família que graciosamente se ofereceu para ajudar a mim e a Clara a começar nossa família. Pensem nela como a... irmãzinha da Clara."

Irmãzinha. As palavras foram um rebaixamento público. Ela não era mais a esposa, a outra metade do casal poderoso. Era a benevolente irmã mais velha, aceitando graciosamente esta mulher mais jovem e mais fértil em suas vidas. A humilhação era uma coisa física, um rubor quente que se espalhou de seu peito para o rosto.

A atenção de Bernardo já estava de volta em Alice. Ele a guiou pela multidão, apresentando-a a seus amigos poderosos, a mão nunca deixando suas costas. Clara os observava, um par orbitando seu próprio sol, deixando-a na escuridão fria e externa.

Ela o viu rir, uma risada genuína e sem esforço que não via há anos. Observou-o colocar uma mecha de cabelo solta atrás da orelha de Alice, um gesto tão íntimo e terno que fez seu próprio coração se apertar.

Ela se forçou a socializar, a sorrir, a aceitar condolências por seu "braço torcido" e elogios pela "festa adorável". Mas seus olhos continuavam voltando para eles.

Duas mulheres, amigas dela do conselho do museu, sussurravam atrás de suas taças de champanhe.

"Você acredita na cara de pau?", disse uma. "Trazer a amante para a festa de aniversário da esposa?"

"Eu os vi", sussurrou a outra, com os olhos arregalados. "Semana passada, na clínica de fertilidade do Dr. Matos. Eles estavam de mãos dadas na sala de espera. Todo mundo estava olhando."

Dr. Matos. O especialista em fertilidade mais exclusivo e caro da cidade. Aquele que Bernardo havia afirmado ser "impossível de conseguir uma consulta".

As peças do quebra-cabeça se encaixaram, formando uma imagem de traição tão vasta e elaborada que era de tirar o fôlego. Isso não era apenas um caso recente. Era um engano calculado e de longo prazo. Uma vida dupla vivida à vista de todos. Seu casamento perfeito não estava apenas rachado; era uma casca oca desde o início.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022