Ela jogou água fria no rosto, tentando conter a náusea que subia por sua garganta. A dor em seu peito era um peso físico, uma pressão esmagadora que dificultava a respiração. Parecia que seu coração estava literalmente se partindo.
Enquanto secava o rosto, ouviu um som suave vindo da sala de estar adjacente, um cômodo raramente usado durante as festas. Uma risadinha, seguida por um murmúrio baixo.
Seu coração parou. Ela conhecia aquele murmúrio.
Ela empurrou a porta, abrindo uma fresta. A sala de estar estava mal iluminada, mas ela podia vê-los claramente. Bernardo tinha Alice pressionada contra uma estante de livros, sua boca devorando a dela. Não era um beijo gentil; era faminto, possessivo.
Os gemidos suaves de Alice enchiam o pequeno espaço.
"Bernardo", ela sussurrou, as mãos emaranhadas no cabelo dele. "Alguém vai nos ver."
"Deixe que vejam", ele rosnou contra os lábios dela, a mão deslizando por suas costas, segurando sua bunda através da seda vermelha de seu vestido. "Eu quero te exibir." Ele se afastou um pouco, os olhos escuros com uma luxúria que Clara não via direcionada a ela há anos. "Com a Clara, é tudo sobre a mente, a alma. Com você... é isso." Ele gesticulou para seus corpos, pressionados um contra o outro. "Isso é o que é real."
As palavras cortaram Clara, uma confirmação final e brutal de seu medo mais profundo. Ela não estava apenas sendo substituída; estava sendo desvalorizada, seu amor e companheirismo descartados como algo cerebral e sem paixão.
"Seja uma boa menina para mim esta noite", sussurrou Bernardo, seus lábios traçando sua mandíbula. "E eu te compro aquela pulseirinha da Cartier que você queria."
"Sim, Bernardo", Alice ronronou, a cabeça inclinada para trás em submissão.
Ele lhe deu um último beijo forte e então eles se moveram em direção à porta. Clara recuou para o lavabo, o coração martelando contra as costelas. Ela os viu sair, o braço dele possessivamente em volta da cintura de Alice, e uma onda de agonia, tão profunda que era física, a atingiu.
Ela se lembrou de sua própria intimidade, como sempre fora cuidadosa, contida, quase reverente. Ele sempre alegou que era porque tinha muito medo de machucá-la, de uma paixão que pudesse levar a uma gravidez que a mataria. Era uma mentira. Ele não tinha medo da paixão. Ele simplesmente não a sentia por ela. Ele a estava guardando para outra pessoa. Para a garota jovem e dócil que se parecia o suficiente com ela para ser uma fantasia, mas diferente o suficiente para ser uma fuga.
Ela sentiu uma onda de compreensão fria e amarga. Claro que ele estava obcecado por Alice. Ela era a única coisa que Clara não podia ser: jovem, desimpedida e, na mente dele, fértil. Uma lousa em branco na qual ele poderia escrever seu próprio futuro, livre do trauma da família Randolph.
A dor era uma coisa viva dentro dela, uma fera arranhando suas entranhas. De alguma forma, ela conseguiu se recompor, voltar para a festa brilhante, a máscara da anfitriã perfeita deslizando de volta ao lugar.
Ela viu Alice do outro lado da sala, um rubor triunfante em suas bochechas. Uma pequena marca escura, um chupão, era visível logo acima da gola de seu vestido. A visão daquilo foi um novo tormento.
Alice a viu e, para o choque de Clara, veio em sua direção. Parecia nervosa, segurando uma taça de champanhe.
"Sra. Randolph", ela começou, a voz um pouco trêmula. "O champanhe... está um pouco forte para mim. Você poderia... poderia me trazer um pouco de água?"
A audácia era de tirar o fôlego. A amante, recém-saída de um encontro secreto com o marido, pedindo à esposa para lhe buscar uma bebida.
As entranhas de Clara se contorceram em um nó apertado e furioso. Sua mão, a do braço torcido, tremeu.
E então, o desastre.
Alice, talvez sentindo a mudança no comportamento de Clara, deu um passo nervoso para trás. Ela esbarrou em uma alta torre de taças de champanhe, uma peça central da festa. A torre balançou precariamente. Por um segundo horrível, pareceu pairar no ar, e então desabou em uma cascata ensurdecedora de vidro quebrado e champanhe espumante.
Clara estava diretamente em seu caminho. Ela ergueu o braço bom para proteger o rosto, mas foi inútil. Cacos afiados de vidro choveram sobre ela, cortando seus braços e ombros. Um pedaço grande atingiu sua testa, e um jorro quente de sangue escorreu por seu rosto. Ela gritou, tropeçando para trás, e caiu com força no chão de mármore.
Através do zumbido em seus ouvidos, ela viu Bernardo. Ele estava correndo, o rosto uma máscara de terror. Por um momento fugaz e tolo, ela pensou que ele estava correndo para ela.
Mas ele passou direto por ela.
Ele foi até Alice, que havia sido salpicada de champanhe, mas estava ilesa. Ele a puxou para seus braços, protegendo-a com seu corpo como se ela fosse a que estava em perigo.
"Alice! Você está bem? Se machucou? O bebê!", ele gritou, as mãos verificando-a freneticamente.
Ele ignorou Clara completamente. Ela jazia no chão, sangrando e quebrada, invisível para ele. Ele olhou para ela uma vez, os olhos frios e irritados, como se ela fosse apenas um inconveniente, uma bagunça a ser limpa. Então ele virou as costas para ela, seu foco total em Alice, murmurando palavras suaves de consolo em seu cabelo.
Clara deitou no mármore frio e encharcado de champanhe, os cacos de vidro cravando em sua pele. Ela olhou para os destroços da torre de champanhe, uma metáfora perfeita para sua vida despedaçada. A dor de seus cortes era aguda, mas não era nada comparada à agonia de ser tão completa e totalmente abandonada.
Ela conseguiu se levantar, seu vestido preto agora manchado de sangue. Saiu da festa, deixando um rastro de pegadas ensanguentadas no mármore branco imaculado. Ninguém a parou. Ninguém pareceu notar que ela havia partido.
Ela pegou um táxi para o pronto-socorro mais próximo, o mesmo em que estivera apenas uma semana antes.
"A senhora está sozinha?", perguntou a enfermeira da triagem, os olhos cheios de pena profissional ao olhar para o corte na testa de Clara.
"Sim", disse Clara, a voz um sussurro oco. "Eu me viro sozinha."
De seu cubículo com cortinas, ela podia vê-los. Bernardo havia levado Alice para o mesmo hospital, para um quarto particular no final do corredor. Ele estava cuidando dela, ajeitando um cobertor em seus ombros, o rosto um retrato de terna preocupação.
Ele acariciou a bochecha de Alice, o polegar limpando gentilmente uma lágrima inexistente. "Não se preocupe com nada", ele murmurou, a voz ecoando pelo corredor silencioso. "Eu vou cuidar de tudo."
Era um eco doloroso das palavras que ele um dia dissera a ela. As enfermeiras do andar sussurravam, comentando sobre como ele era dedicado, que parceiro amoroso ele parecia ser.
Clara os observava, uma espectadora da vida que deveria ter sido dela. Ela o via como ele realmente era agora: um homem que não queria apenas uma substituta, ele já a havia substituído. Em seu coração, em sua vida, ela já havia partido.
E naquela sala de hospital fria e estéril, Clara soube que tinha que oficializar. Ela tinha que desaparecer. Para sempre.