A Amarga Vingança de uma Esposa
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Capítulo 4

Os dias seguintes à festa foram um borrão de silêncio. Bernardo não voltou para casa. Ele não ligou. A única comunicação foi uma única e seca mensagem de texto: *Alice está abalada. Vou ficar com ela para garantir que ela e o bebê estejam bem. Resolvo a bagunça em casa depois.* Ele não perguntou se Clara estava bem. Ele não parecia se importar.

As feridas físicas de Clara começaram a cicatrizar. Os pontos em sua testa eram uma linha tensa e irritada. Os hematomas em seu corpo desbotaram de um roxo violento para um verde-amarelado doentio. Mas as feridas internas ainda estavam abertas, infeccionando.

Depois de alguns dias vagando entorpecida pela cobertura vazia, ela se forçou a sair. Encontrou-se caminhando até um pequeno museu particular nos Jardins, um lugar que ela e Bernardo haviam descoberto juntos anos atrás. Tinha sido o santuário deles, uma fuga tranquila das exigências de suas vidas públicas.

Ela se lembrou de uma tarde chuvosa que passaram lá, aninhados em um banco em frente a um Monet. Ele a beijara então, um beijo suave e demorado, e sussurrara: "Isso somos nós, Clara. Atemporais."

Agora, a memória era apenas mais uma mentira.

Ao virar uma esquina para a galeria impressionista, ela os viu. Bernardo e Alice, em frente àquele mesmo Monet. Eles não estavam em um silêncio reverente. Estavam rindo, Alice se inclinando em Bernardo, a cabeça em seu ombro. Pareciam jovens, despreocupados, como um casal de universitários apaixonados, não um CEO poderoso e sua barriga de aluguel.

Um casal de idosos por perto sorriu para eles. "Que belo casal jovem", a mulher murmurou para o marido, alto o suficiente para Clara ouvir.

Alice sorriu, o rosto iluminado de orgulho. Ela se virou para o casal. "Obrigada! Ele me mima demais", disse ela, dando um tapinha possessivo no peito de Bernardo. Ela o apresentou não como seu empregador, não como um amigo da família, mas como "meu Bê".

Bernardo não a corrigiu. Ele apenas sorriu, um sorriso suave e indulgente que Clara não via há uma vida inteira. Ele se inclinou e beijou o topo da cabeça de Alice.

"Com você, eu me sinto jovem de novo", ele disse a Alice, a voz cheia de um calor genuíno que fez o sangue de Clara gelar. "Com você, eu me sinto... real. Não como se estivesse interpretando um papel."

Cada palavra foi um golpe de martelo no coração já despedaçado de Clara. Então era isso que a vida deles tinha sido para ele: um papel a ser interpretado. O marido dedicado, o CEO responsável. Com Alice, ele podia ser seu eu "real" - desimpedido, apaixonado, vivo.

Clara entendeu então. O apelo de Alice não era apenas sua juventude ou sua semelhança com Clara. Era sua simplicidade. Ela era uma garota de um mundo diferente, desonerada pelo peso do nome Randolph, pelo trauma do passado de sua família. Ela era sua fuga.

Clara se virou para sair, o coração um peso de chumbo no peito. Mas ao contornar uma escultura, ela deu de cara com Alice, que estava indo ao banheiro.

Alice deu um pulo, assustada. "Ah! Sra. Randolph! Eu... eu não a vi." Ela parecia confusa, culpada. "Nós estávamos apenas... Bernardo queria me mostrar um pouco de arte."

"Você não precisa me explicar nada, Alice", disse Clara, a voz monótona. "Não é da minha conta."

Nesse exato momento, uma pesada placa de bronze na parede acima delas, afrouxada por vibrações de construção recentes, de repente cedeu. Ela inclinou e caiu.

Em uma fração de segundo de puro instinto, Alice reagiu. Ela não gritou nem correu. Ela empurrou Clara com força, tirando-a do caminho.

A placa caiu com um baque surdo, atingindo o ombro de Alice. Ela gritou de dor e desabou no chão.

Bernardo veio correndo, o rosto uma nuvem de fúria. Ele viu Alice no chão e Clara de pé sobre ela, e seu rosto se contorceu de raiva.

"O que você fez?", ele rugiu para Clara, a voz ecoando pela galeria silenciosa. "Você está nos seguindo agora? Está tentando machucá-la?"

A acusação era tão monstruosa, tão completamente divorciada da realidade, que Clara só conseguiu encará-lo em silêncio atordoado. Ele achava que ela tinha feito isso. Ele achava que ela era capaz de tal violência.

Ele não esperou por uma resposta. Ajoelhou-se, pegando uma Alice soluçante em seus braços, a voz baixando para um murmúrio terno. "Está tudo bem, meu bem. Eu te peguei. Estou aqui."

Ele a levantou como se ela não pesasse nada e passou por Clara, os olhos queimando de ódio. "Fique longe de nós", ele sibilou.

Clara os seguiu, um autômato entorpecido, de volta ao mesmo hospital, ao mesmo pronto-socorro que estava se tornando um palco sombrio para o ato final de sua vida.

Desta vez, a lesão de Alice era mais séria. Um ombro deslocado e uma possível fratura. Os médicos a levaram às pressas para um quarto particular. Bernardo andava de um lado para o outro do lado de fora como um tigre enjaulado.

A situação tornou-se crítica quando os médicos perceberam que Alice havia perdido uma quantidade significativa de sangue de um corte profundo causado pela borda da placa. Eles precisavam fazer uma cirurgia, mas seu tipo sanguíneo era raro. O-negativo. O estoque do hospital estava perigosamente baixo.

"Eu sou O-negativo", anunciou Bernardo sem hesitar, arregaçando a manga. "Peguem o meu. Peguem o quanto precisarem."

"Senhor, só podemos tirar uma unidade com segurança", advertiu uma enfermeira. "O senhor ficará fraco."

"Eu não me importo", retrucou Bernardo. "A vida dela é mais importante. Se ela precisar de mais, vocês peguem mais. Entenderam?"

Ele deitou em uma maca, a mandíbula tensa, enquanto a enfermeira tirava seu sangue. Clara observava do corredor, uma testemunha silenciosa e invisível. Ele estava literalmente dando o sangue de sua vida por essa garota, uma garota que ele conhecia há apenas alguns meses. Uma garota que era uma mentira.

Ele deu uma unidade, depois exigiu que tirassem outra, ignorando os protestos dos médicos. Ele ficou pálido, a respiração superficial. Depois que a segunda unidade foi retirada, ele tentou se levantar e desabou, desmaiando pela perda de sangue.

As enfermeiras correram para ajudá-lo, colocando-o em um soro em um quarto do outro lado do corredor do de Alice.

A cirurgia de Alice foi um sucesso. Ela estava segura.

Clara certificou-se de que Bernardo estava estável, que as enfermeiras o estavam atendendo. Ela não entrou em seu quarto. Apenas ficou na porta, observando-o.

Mesmo em seu estado inconsciente, um nome escapou de seus lábios em um sussurro fraco e desesperado.

"Alice..."

Não Clara. Nunca Clara.

Naquele momento, qualquer traço remanescente de amor, qualquer vestígio de sua história compartilhada, morreu. Não havia nada além de um vazio vasto e frio.

Seu telefone vibrou no bolso. Era um número que ela não reconhecia.

"Sra. Jensen?", disse uma voz nítida e profissional. "Aqui é da Vértice Sigilo Absoluto. Seu novo passaporte e documentos estão prontos para retirada. Seu voo para Paris está confirmado para amanhã de manhã."

A voz era uma tábua de salvação, uma promessa de um futuro. Um futuro sem ele.

                         

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