Capítulo 4 O despertar

Acordei com o coração acelerado.

Ainda sentia o toque quente em minha testa.

A pena negra repousava intacta sobre o travesseiro, como uma lembrança física de que a noite anterior não havia sido apenas um sonho.

Hoje era meu aniversário de dezoito anos.

E mesmo que meu desejo fosse apenas silêncio e um pouco de paz, minha mãe havia planejado uma festa na clareira da floresta.

- "Só com as pessoas mais próximas", ela disse.

Mas a verdade era que, dentro de mim, nada estava mais como antes.

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Assim que pisei na clareira iluminada por lanternas mágicas penduradas entre os galhos, uma voz conhecida me puxou para um abraço apertado.

- MANINHA!!!

Meu coração quase parou.

Reconheci a voz antes mesmo de vê-lo.

- LUKE?! - gritei, surpresa.

Meu irmão mais velho, vestido com sua jaqueta de couro surrada e aquele mesmo sorriso insolente de sempre, estava ali, parado como se nunca tivesse ido embora.

- Surpresa. - ele disse, me puxando de volta para um segundo abraço.

- Não perderia o seu despertar... quer dizer... aniversário - piscou.

- Idiota. - murmurei, tentando não chorar.

- Olha só quem voltou! - disse Ju, surgindo ao lado dele com um sorriso brilhante. Ela lançou um olhar apaixonado para Luke e, sem disfarçar, entrelaçou os dedos nos dele.

- Vocês dois...? - arqueei a sobrancelha.

- Sim. - ela respondeu, sem tirar os olhos dele. - Finalmente.

Sorri. Aquilo realmente me fazia bem.

- Parabéns, Mô! - gritou Lu, se aproximando com um pratinho de bolo na mão e o cabelo preso de qualquer jeito.

- Tá tão bonita que parece que vai sair voando. Ou lançar magia pelos olhos. - brincou Will, aparecendo logo atrás da irmã, com aquele sorrisinho provocador de sempre.

- Vocês são péssimos. - resmunguei, tentando esconder a tensão em meu corpo.

- E a aniversariante tá muito estranha hoje - observou Lu.

- Tipo... você tá brilhando.

Eles tinham razão. Eu sentia isso também.

Meu corpo parecia carregado de eletricidade.

Meus sentidos estavam aguçados.

O som da floresta, os cheiros, os sussurros... tudo parecia vivo demais.

- Filha! - chamou minha mãe, Melissa, trazendo um bolo enorme coberto de velas flutuantes.

Ao lado dela, meu pai, Pedro, sorria com os olhos marejados.

- Não vai esquecer de fazer um pedido!

Suspirei. Fechei os olhos.

Tentei pensar em algo simples, como felicidade, paz, amor...

Mas o que meu coração gritou foi: verdade.

E então, eu soprei.

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Na mesma hora, uma rajada de vento atravessou a clareira.

As velas apagaram-se sozinhas.

As lanternas começaram a girar no ar.

As folhas dançaram em um redemoinho em torno de mim.

- O que é isso? - murmurou Will, recuando.

- Gente... - disse Lu, assustada. - O chão tá tremendo.

Minhas mãos começaram a brilhar.

Veios de energia surgiram em minha pele, como se algo ancestral estivesse se desenhando em mim.

- Morgana... - disse meu pai, baixinho.

- Ela está despertando. - completou minha mãe, segurando o braço dele.

Eu estava flutuando.

Meus pés deixaram o chão.

Uma luz prateada pulsava do meu peito.

- MÔ?! - Lu gritou.

- Calma! Respira! - disse Ju, tentando se aproximar, mas era como se uma barreira invisível tivesse se formado em volta de mim.

Senti tudo.

Fogo queimando sob minha pele.

Água correndo pelas minhas veias.

Sombras se remexendo atrás dos meus olhos.

Luz, vento, terra - todos os elementos girando dentro de mim como uma tempestade contida.

Meu corpo não aguentou.

Caí de joelhos no chão, arfando.

E então, o uivo ecoou.

Vindo da floresta.

Forte. Profundo. Ancestral.

O mesmo que eu ouvira no sonho.

Todos olharam na direção do som.

Entre as árvores... dois olhos vermelhos brilhavam.

Luke colocou-se na minha frente por instinto.

Will e Ju se aproximaram, tentando entender.

Mas eu sabia.

- Ele está aqui. - murmurei, erguendo os olhos para a lua cheia que despontava no céu.