"Acontece que a minha casa não precisa de zelador. Fora daqui, os dois!", Colby gritou uma vez mais, ignorando a sua barriga de oito meses de gestação enquanto os empurrava em direção à saída.
Alto e forte, Ruben mal se moveu, mas Lesly não era páreo para a altura de Colby. Cambaleando para trás, ela bateu na mesa de jantar e derrubou tudo no chão.
Apesar da dor provocada pela batida, Lesly permaneceu em silêncio, a postura denotando um misto de fragilidade e resiliência, perfurando o coração de Ruben.
Agarrando o pulso de Colby, ele disse friamente: "Lesly já pagou pelos seus erros. Você precisa ser tão implacável com ela?"
Colby congelou por um momento, percebendo rapidamente a crua realidade.
A punição recebida por Lesly naquele dia não serviu para vingar Colby, mas para pavimentar o caminho para a própria Lesly. Afinal, poderia haver punição mais dura do que ser humilhada publicamente daquela forma?
Não, não havia e jamais haveria.
Os olhos de Colby rapidamente passaram do desespero para uma frieza resoluta enquanto ela encarava Ruben fixamente, a voz soando mais firme do que nunca. "Vamos nos divorciar de uma vez, Ruben. Isso permitirá que a sua amante se torne a sua esposa."
Ruben franziu o cenho em uma carranca. "Ah, impossível! No meu mundo, o casamento é para a vida toda e não para ser encerrado por um divórcio."
Colby ouviu as palavras duras dele, as lágrimas rolando livremente pelas bochechas.
Vê-la assim despertou uma ponta de culpa em Ruben e ele se sentiu inclinado a consolá-la, mas pensar que justamente ela, que sempre fora tão gentil e generosa, estava lhe perturbando insistentemente por causa de uma questão tão pequena, serviu apenas para endurecer o seu coração.
"Trate de refletir sobre isso. Vou pedir para o motorista te levar para casa logo mais. E lembre-se de que esta casa está no meu nome e quem toma as decisões sobre ela sou eu", ele disse friamente, então se virou e saiu com Lesly.
No momento em que o corredor ficou novamente em silêncio, Colby se atreveu a passar o olhar pela casa transformada. As antigas lembranças dos seus pais haviam desaparecido, substituídas por uma decoração moderna. Ruben havia permitido que Lesly simplesmente destruísse o seu lar.
As lágrimas corriam copiosamente pelo rosto de Colby agora. Anos antes, vitimados por uma morte súbita, os pais dela deixaram para trás a casa com uma hipoteca não paga. Quando o banco veio para tomá-la, Colby implorou desesperadamente para que a deixassem ficar com ela. Foi então que Ruben entrou na sua vida.
Ele se apaixonou por ela à primeira vista, mas respeitou a sua juventude e não tomou atitude alguma. Depois de pagar a hipoteca, ele fingiu comprar a casa para que Colby não se sentisse em dívida. Durante dois anos, ela morou lá sem pagar aluguel até a noite em que atingiu a maioridade, quando Ruben finalmente declarou o seu amor. Nessa mesma noite, ela se apaixonou perdidamente por ele e os dois fizeram amor pela primeira vez. Quando a relação se solidificou, eles passaram a viver na casa de Ruben.
Houve até um momento em que ele se ofereceu para passar a casa para o nome de Colby, mas ela recusou. "Nunca me esquecerei de como você protegeu essa casa para mim. Essa é uma prova irrefutável do seu amor."
No entanto, nunca passou pela cabeça de Colby que, apenas cinco anos depois, Ruben usaria a escritura dessa mesma casa, ainda no nome dele, para permitir que outra mulher a frequentasse e até modificasse a decoração.
O mais doloroso nisso tudo, era que Colby simplesmente não conseguia entender como o coração dele havia mudado tão drasticamente.
Ela notou uma fotografia dos seus pais debaixo do sofá e tentou alcançá-la, mas a dor a fez se lembrar de que a enorme barriga de grávida não permitia que se abaixasse.
Então, sobrecarregada por uma onda de mágoa e tristeza, ela desabou em prantos uma vez mais. O seu marido havia partido, o seu mundo estava desmoronando, e ela não podia perder a única fotografia que os seus pais lhe haviam deixado.
Incapaz de se abaixar, Colby se ajoelhou, e quando os joelhos tocaram o chão, estilhaços de louça quebrada perfuraram a sua pele, fazendo o seu rosto empalidecer de dor instantaneamente. Subitamente, sentindo uma dor aguda na barriga, ela ligou para a emergência, lutando para respirar.
Enquanto esperava pela chegada da ambulância, Colby ligou para Brenda. "Aquela aposta que fizemos antes do casamento ainda está de pé, Brenda?"
Uma risadinha abafada ecoou do outro lado da linha. "Claro que sim, mas agora você está carregando o filho dele e as coisas mudaram um pouco. Assim que você der à luz, garantirei que saia de cena."
Após desligar, Colby se lembrou de como, por ocasião do casamento, Brenda a desafiou para uma aposta, testando a lealdade de Ruben e a duração daquele amor supostamente tão invencível.
Do alto da sua ingenuidade, Colby realmente acreditava que os sentimentos dele jamais mudariam de direção.
Na ocasião, Brenda sorriu, meneando a cabeça e dizendo que os homens tendiam a mudar de ideia com o passar do tempo. Se Ruben permanecesse fiel e todo aquele amor durasse por três anos, ela iria pessoalmente persuadir a família a aceitar Colby.
No entanto, se as coisas não ocorressem dessa forma, era Colby quem teria que ceder, saindo da vida dele para que Brenda pudesse encontrar uma mulher que estivesse à altura do status do seu precioso neto.
Colby concordou sem qualquer hesitação na ocasião. Agora, no entanto, tudo parecia tão irônico. Faltava apenas um mês para o terceiro aniversário deles, e o seu filho estava para nascer por volta dessa data também. Mas apesar de tudo isso, Ruben tinha um caso com outra mulher.
Quando a ambulância finalmente chegou com os paramédicos, Colby estava quase inconsciente de dor. Após um rápido exame, eles perceberam que o bebê já estava a caminho.
Evidentemente, as condições eram menos do que ideais, mas Colby não poderia aguentar até chegar ao hospital. Não havia tempo a perder. Assim, depois de algumas medidas básicas de higienização, ela seguiu a liderança dos paramédicos, e meia hora depois, a sala era preenchida pelo choro estridente de um recém-nascido.
Olhando para o pequeno e enrugado ser nos seus braços, Colby conseguiu sorrir em meio às lágrimas.
"Papai, mamãe, eu nasci nesta casa, e vinte e três anos depois, o meu filho também nasceu aqui. Por favor, mamãe, papai, me abençoem aí de cima para que eu consiga realizar os meus desejos", ela sussurrou a prece, enaltecendo o legado dos seus pais, esperando assim que eles a ajudassem a se afastar de vez da família Gibson com o seu filho.
Tão logo recebeu a notícia, Brenda correu para lá com uma equipe médica que ela considerava mais profissional. Mas a essa altura, o bebê já estava mamando no peito de Colby.
Com um ar repleto de animosidade, Brenda lançou um olhar severo e autoritário para ela. "Quando o bebê completar o primeiro mês de vida, vou organizar a sua partida definitiva e te darei outro cartão com dez milhões. Depois disso, você vai sumir do mapa e nunca mais voltará."