A Rainha Inabalável Retorna
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Capítulo 3

Alina estava em seu closet, o cheiro da colônia de Bernardo pairando no ar como um fantasma. Sua mão repousava sobre uma pequena caixa de veludo na cômoda dele. Dentro estava o primeiro par de abotoaduras que ela lhe dera, simples nós de prata. Ele era apenas um programador júnior esforçado naquela época, cheio de grandes sonhos e um charme autodepreciativo. Foi ela quem viu seu potencial. Seu pai, um respeitado professor de história, o orientou, o conectou, o tratou como o filho que nunca teve.

Ela se lembrou do pedido de casamento de Bernardo, em uma toalha sob as estrelas, depois que eles garantiram sua primeira rodada de financiamento. "Vou passar a vida inteira te fazendo feliz, Alina", ele prometera, os olhos brilhando com o que ela pensava ser amor. "Vou proteger você e nossa família de tudo."

Uma risada amarga e sem humor escapou de seus lábios. Que tola ela tinha sido.

A voz de Bernardo ecoou do corredor, tirando-a do passado. "Alina, você está pronta? As pessoas estão começando a chegar para o velório."

Ela vestiu o vestido preto que ele havia separado para ela, sentindo-se como uma boneca sendo posicionada para uma peça. Ele a conduziu escada abaixo, a mão na base de suas costas um toque possessivo e repulsivo.

O velório estava sendo realizado em sua casa, uma mansão moderna e ampla que ela havia projetado. Deveria ser um lugar de amor e risadas. Agora, era um túmulo.

A primeira coisa que a atingiu foi a música. Não era o sombrio quarteto clássico que ela havia solicitado. Em vez disso, uma música pop alta e pulsante, com um baixo irritante, ecoava pela sala de estar de plano aberto. Era uma daquelas canções vazias e sem cérebro que Léo ouvira no rádio e odiava.

Seus olhos percorreram a multidão de presentes, seus rostos um borrão de simpatia educada. E então ela a viu.

Karina Alves.

Ela estava perto do pequeno caixão branco de Léo, que estava cercado por uma montanha de lírios brancos. Ela usava um vestido preto justo e inadequadamente curto. E estava tirando uma selfie. Ela ergueu o celular, fez biquinho e tirou uma foto com o caixão de seu filho ao fundo.

Uma onda de fúria pura e inalterada percorreu Alina. Ela se soltou do aperto de Bernardo e marchou em direção à garota.

"Que porra você pensa que está fazendo?", a voz de Alina era um rosnado baixo.

Karina ergueu os olhos, sua expressão de inocência de olhos arregalados. "Ah! Sra. Vasconcelos. Eu só estava... prestando minhas homenagens." Ela postou a foto em seu story do Instagram com uma legenda leviana: "Dando tchau pro pequeno. #triste #luto."

A mão de Alina disparou e deu um tapa no celular da mão de Karina. Ele caiu com um baque no chão de mármore.

"Fora", Alina sibilou. "Fora da minha casa. Agora."

O lábio inferior de Karina começou a tremer. Lágrimas brotaram em seus olhos. Foi uma atuação magistral. "Sinto muito", ela choramingou. "Não quis desrespeitar. É só... o jeito da minha geração de lidar com o luto. E o Léo... ele amava essa música."

"Isso é mentira!", Alina gritou, o som rasgando a música da festa. "Ele odiava essa música! Você não sabe nada sobre o meu filho!"

Bernardo apareceu instantaneamente, puxando-a para trás, seu aperto como ferro em seu braço. Ele se colocou entre ela e Karina, protegendo a mulher mais jovem.

"Alina, pare! Você está fazendo um escândalo!", ele sussurrou duramente em seu ouvido.

"Ela está profanando o velório do nosso filho!", Alina chorou, lutando contra ele. "Mande-a embora!"

"Ela está de luto à sua maneira", disse Bernardo, a voz alta o suficiente para os convidados próximos ouvirem. Ele estava jogando para a plateia. "Karina era muito próxima de Léo. Talvez mais próxima do que você, com suas viagens de negócios e reuniões de diretoria."

As palavras foram um golpe calculado, projetado para ferir e isolá-la. Os murmúrios começaram ao redor deles. As pessoas se moveram desconfortavelmente, seus olhares de compaixão se transformando em julgamento.

"Não acredito que você a está defendendo", disse Alina, a voz caindo para um sussurro chocado. "Olhe para ela. Olhe o que ela está fazendo."

Karina, vendo sua oportunidade, começou a soluçar dramaticamente. "Sinto muito, Sr. Moraes. Eu não deveria ter vindo. É que... eu me sinto tão culpada. Talvez se eu tivesse sido uma babá melhor... mas a Sra. Vasconcelos sempre disse que eu era muito mole com ele. Ela disse que ele precisava ser mais independente."

Era outra mentira, uma distorção venenosa de uma conversa que nunca tiveram.

"Sua vadia mentirosa", Alina cuspiu, avançando novamente.

Desta vez, Bernardo a empurrou para trás, com força. "Já chega!"

A multidão ofegou. Ele havia colocado as mãos nela na frente de todos.

Karina escolheu aquele exato momento para jogar sua carta na manga. "Eu... eu tenho um vídeo", disse ela, a voz trêmula enquanto pegava o celular do chão. "Eu não queria mostrar a ninguém, mas... todos vocês precisam ver o quanto ele sentia falta da mãe."

Ela ergueu o celular, inclinando a tela para que todos pudessem ver.

                         

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