Então ouvi vozes do corredor. Abafadas no início, depois mais claras. A porta não devia ser tão à prova de som quanto eu pensava.
"Senhor, tem certeza disso? A Sra... quer dizer, a Sra. Menezes parecia muito angustiada. Ela disse que o Léo está no hospital."
Era o assistente de Franco, um jovem chamado Marcos que sempre tinha sido gentil comigo.
E então, a voz de Franco. Calma, controlada e absolutamente arrepiante.
"É só um truque pra chamar atenção, Marcos. Ela não suporta que eu esteja seguindo em frente. Ela sempre foi dramática."
Um pavor gelado se infiltrou em meus ossos. Pressionei meu ouvido contra a madeira fria da porta.
"Mas e se for verdade?", insistiu Marcos, sua voz hesitante. "E se o menino estiver realmente doente?"
Houve uma risada curta e seca de Franco. "Então é um problema que vai se resolver sozinho. Olha, a Clara nunca vai me deixar. Ela é muito devotada àquele filho dela para conseguir se virar sozinha. Nosso casamento é a identidade inteira dela."
Ele fez uma pausa, e eu podia praticamente ouvir o sorriso arrogante em sua voz.
"Ela acha que vou voltar pra ela quando tudo isso acabar. Deixe que pense. Isso a mantém quieta."
Marcos ficou em silêncio.
"Não me olhe assim", Franco estalou. "Isso é o que é necessário. Estou construindo um legado aqui. A Janine está me dando um herdeiro saudável. Um filho que pode assumir os negócios um dia. É isso que importa. Uma página virada."
Um herdeiro saudável.
A frase ecoou na sala pequena e escura, uma sentença de morte para meu filho, para meu casamento, para a mulher que eu costumava ser.
Tudo o que ele já me disse, cada "eu te amo", cada promessa, cada sonho compartilhado, era tudo uma mentira. Eu não era sua esposa. Eu era um inconveniente. Léo não era seu filho. Ele era um defeito. Um problema que se resolveria sozinho.
O mundo fora do meu corpo ficou em silêncio. Eu não conseguia mais ouvir as vozes. Não conseguia sentir o chão sob meus pés. Tudo o que eu sentia era um vazio vasto e frio se abrindo dentro de mim. O amor que eu tinha por Franco, um amor que eu nutri por dez anos, não apenas morreu. Ele nunca existiu. Era um fantasma, e eu era a tola que acreditou nele.
Lembrei-me do dia do nosso casamento. Ele estava diante de mim, seus olhos tão cheios do que eu pensava ser adoração, e ele havia prometido me amar e me proteger, na saúde e na doença. Ele segurou Léo pela primeira vez, seu rosto uma máscara de orgulho paterno, e jurou que sempre o protegeria.
Mentiras. Tudo.
O som de seus passos se afastou pelo corredor. Ele estava indo para sua coletiva de imprensa. Ele ia ficar diante do mundo e anunciar seu futuro brilhante, um futuro construído sobre as cinzas de sua primeira família.
Um clique. A fechadura da porta se soltou.
Eu não me movi.
Depois de um momento, a porta se abriu rangendo. Marcos estava lá, seu rosto pálido, seus olhos cheios de pena.
"Ele já foi", disse ele em voz baixa. "Pode ir."
Levantei-me do chão, minhas pernas como chumbo. Passei por ele sem uma palavra. A pena em seus olhos era um insulto. Eu não queria sua pena. Eu não queria nada.
A parte de mim que sentia alguma coisa estava morta.
Tudo o que restava era uma mãe. E o tempo de seu filho estava se esgotando.