E lá estava ele, Franco Viana, em um palco no terraço de um prédio, com os braços abertos como um rei, ao lado de uma jovem, linda e muito grávida Janine Moraes, sua corretora de imóveis cruel. Meu marido "falido" estava literalmente fazendo chover dinheiro, orquestrando uma jogada de marketing obscena.
Eu liguei para ele, desesperada. "Franco, é o Léo! Ele está passando mal, não consegue respirar. Estou presa no trânsito. Preciso de você." Ele me dispensou, alegando estar escondido de credores em um motel barato em Osasco, e então desligou, virando-se para beijar sua amante com ternura.
Ele não nos amava. Ele estava no topo de um prédio com sua amante grávida, jogando fora mais dinheiro do que eu tinha visto em um ano, enquanto nosso filho lutava por cada fôlego. A fúria e a traição queimavam como ácido no meu estômago.
Como ele podia mentir tão descaradamente, tão monstruosamente, enquanto nosso filho estava morrendo? Como ele pôde escolher um espetáculo público e uma nova família em vez de seu próprio filho?
Uma represa se rompeu dentro de mim. O amor, a confiança, os anos que dediquei a este homem – tudo se foi. Ele tinha feito sua escolha. Agora eu tinha que salvar nosso filho. Sozinha.
Capítulo 1
O grito agudo e apavorado do meu filho Léo rasgou as paredes finas do nosso apartamento na Zona Leste.
Deixei cair o prato que estava lavando. Ele se estilhaçou na pia, mas eu não me importei.
Corri para o quarto dele. Ele estava no chão, seu corpinho rígido, o rosto assumindo um tom aterrorizante de azul. Seus olhos, geralmente perdidos em seu próprio mundo autista, estavam arregalados com um terror que ele não conseguia nomear.
"Léo! Léo, meu amor, olha pra mamãe!"
Ele não respondeu. Apenas convulsionava, um tremor silencioso e violento sacudindo seu corpo de cinco anos.
Peguei-o nos braços, meu coração martelando contra minhas costelas. Isso não era como suas crises habituais. Isso era novo. Isso era apavorante.
Minhas mãos tremiam enquanto eu procurava meu celular e discava 192. A atendente estava calma, mas suas palavras foram uma sentença de morte. "A ambulância mais próxima está a vinte minutos, senhora. Houve um acidente grave na Marginal Tietê."
Vinte minutos. Léo não tinha vinte minutos.
Desliguei, peguei minhas chaves e minha bolsa gasta, e saí correndo pela porta com Léo nos braços. Meu carro, um sedã de dez anos com o motor engasgando, era minha única esperança. Era uma relíquia humilhante da nossa vida antiga, aquela antes do meu marido, o magnata imobiliário Franco Viana, declarar que estava falido.
O motor protestou, tossiu e finalmente pegou. Engatei a marcha e acelerei em direção ao Hospital das Clínicas, rezando para que conseguíssemos chegar.
O trânsito era um pesadelo. Buzinas soavam. As pessoas xingavam. E no banco de trás, meu filho lutava por cada respiração.
Para evitar o pior do congestionamento, peguei um desvio que me jogou bem no coração de São Paulo. Avenida Paulista.
Foi um erro terrível. As ruas estavam lotadas, não apenas de carros, mas com uma multidão enorme de pessoas, todas olhando para cima, seus rostos iluminados pelos gigantescos painéis digitais.
Estava chovendo. Mas não era água.
Notas de cem reais flutuavam do céu.
As pessoas gritavam, riam, pegando o dinheiro. Era o caos. Um espetáculo.
Meus olhos seguiram a cascata de dinheiro para cima, para um dos maiores telões. E lá estava ele. Meu marido.
Franco Viana.
Ele estava em um palco temporário montado no terraço de um prédio, com os braços abertos como um rei. Ele sorria aquele sorriso carismático que havia conquistado mil investidores e uma esposa tola. Ao seu lado, uma mulher, jovem, linda e muito grávida. Janine Moraes. Sua corretora de imóveis, afiada e cruel.
Ela se agarrava ao braço dele, com uma expressão presunçosa, enquanto Franco orquestrava aquela jogada de marketing obscena.
Meu marido "falido", que dizia estar se escondendo de credores, estava literalmente fazendo chover dinheiro na Avenida Paulista.
Peguei meu celular, meus dedos escorregadios de suor. Eu tinha que tentar. Pelo Léo.
Ele atendeu no segundo toque. Sua voz era impaciente.
"O que foi, Clara? Estou no meio de uma coisa importante."
"Franco, é o Léo! Ele está passando mal, não consegue respirar. Estou tentando chegar ao hospital, mas estou presa no trânsito. Preciso de você."
Minha voz estava falhando, um apelo desesperado.
Houve uma pausa. Eu podia ouvir a multidão rugindo ao fundo da ligação dele.
"Clara, você sabe que não posso ser visto", disse ele, sua voz um sussurro baixo e conspiratório. "Os credores estão por toda parte. Estou escondido num motel barato em Osasco. Não posso arriscar."
Uma mentira. Uma mentira descarada e monstruosa. Eu estava olhando diretamente para ele.
"Mas o Léo..."
"Ele é um garoto forte. Vai ficar bem", disse Franco, displicente. "Apenas o leve ao médico. Eu... eu te transfiro um dinheiro quando conseguir despistar esses caras. Amo vocês."
Ele não nos amava. Ele estava no topo de um prédio com sua amante grávida, jogando fora mais dinheiro do que eu tinha visto em um ano.
"Eu te amo", ele repetiu, uma frase oca e sem sentido.
Então ele desligou.
No telão gigante, eu o vi se virar para Janine. Ele a abraçou, puxando-a para perto e beijando sua testa com ternura. A multidão abaixo aplaudiu.
Ele deu as costas para a cidade, para o espetáculo que havia criado, e conduziu sua nova família para um helicóptero preto e elegante que acabara de pousar no telhado.
As hélices do helicóptero começaram a girar, levantando vento e mais dinheiro.
No meu carro quebrado, presa no caos que ele criou, eu o vi decolar e desaparecer no céu cinzento.
Meu filho soltou um gemido baixo e dolorido do banco de trás.
A fúria e a traição queimavam como ácido no meu estômago. Mas teriam que esperar.
"Estou chegando, meu amor", sussurrei, com a voz rouca.
Bati a mão na buzina, meus nós dos dedos brancos. Uma represa dentro de mim havia se rompido. O amor, a confiança, os anos que dediquei a este homem – tudo se foi, levado por uma chuva de dinheiro fraudulento.
Ele tinha feito sua escolha.
Agora eu tinha que salvar nosso filho. Sozinha.