- Você viu? Ela está chegando atrasada de novo. Só faz um mês que ela está aqui e já tem prioridades.
- Claro, né? É a favorita do chefe. - Respondeu a outra, com um tom baixo, mas não inaudível.
Meu maxilar travou e segurei o impulso de revirar os olhos.
- A última que tentou isso acabou sendo dispensada. - Continuaram.
Eu sabia que falavam da antiga secretária de Octávio. Os boatos diziam que ela tentou seduzi-lo e ele simplesmente a descartou sem hesitação. O que elas não sabiam era que minha relação com Octávio ia muito além de simples fofocas de escritório.
Elas então, começaram a rir e antes que eu pudesse me virar para confrontá-las, o elevador parou no quinto andar e as portas se abriram.
E como se o destino quisesse testar a minha paciência, Octávio entrou pelas portas, fazendo o ar mudar instantaneamente.
Ele estava impecável como sempre, vestido com um terno sob medida que moldava seu corpo alto e forte. Seu perfume amadeirado invadiu meus sentidos antes mesmo que eu pudesse reagir. E foi quando ele olhou para mim que tudo ficou... desconfortável.
-Bom dia senhor Sterling! - Falei baixo e educada o vendo se aproximar e tirar minha bolsa de mim.
Engoli em seco e olhei para ele, sem entender o que estava fazendo. De repente, seus olhos escuros se voltaram para mim, fazendo meu corpo congelar.
-Você não pode carregar peso. - Cochichou ele entre dentes, se colocando do meu lado.
Eu me virei para o olhar, me mostrando incrédula com o que eu acabara de ouvir. Octávio respirou forte e se virou para mim, colocando um sorriso nos lábios.
- O elevador executivo está em manutenção. - Disse ele sem emoção na voz, como se quisesse justificar sua presença ali. Ele encenava muito bem.
Assim que ele terminou de falar, assenti e me virei para frente, evitando seu olhar.
Eu sabia que as mulheres estavam de olho em mim, esperando qualquer deslize para que pudessem espalhar boatos pelos corredores.
Respirei fundo tentando ignorar todos e assim que o elevador chegou no último andar, desci acompanhada de Octávio, que segurou a alça da minha bolsa me impedindo de andar.
Todos entraram na sala de reuniões, menos nós. Ele esperou que todos passassem pelas portas para me olhar, mostrando seu semblante sério.
- Katherine, a partir de hoje você fará suas consultas com o médico da minha família. Quero um acompanhamento completo e alguém de confiança para lidar com a sua situação. - Disse ele me fazendo vincar as sobrancelhas.
-Senhor Sterling, ainda é muito cedo para falarmos sobre isso. Espero que tenha só mais um pouco de paciência. E não se preocupe, se não der certo eu devolvo todo o seu dinheiro.
Assim que falei ele fechou o semblante, mostrando sua áurea negra.
- Nada disso! - Disse ele com um tom alto, me encarando com os olhos escurecidos. Ele então, percebeu o que estava fazendo cerrou os dentes, se aproximando mais, mantendo-se bem perto. -Se não der certo dessa vez, vamos tentar de novo. Somos saudáveis, não tem como dar errado.
Assim que ele falou aquilo, eu o olhei ficando sem reação.
Ele tinha muito dinheiro e era um Homem de poder. Além de ser muito bonito e atraente. Por quê eu? - Me perguntei mentalmente o vendo dar um passo para trás e respirar fundo, olhando para os lados.
-Senhorita Hayes, vamos entrar, temos uma reunião para fazer. Conversaremos sobre isso mais tarde na minha sala.
-Sim senhor! - Falei respirando fundo tentando esconder meu desconforto e então, entrei primeiro na sala o deixando para trás.
A reunião parecia se arrastar por horas, mesmo eu sabendo que só estava ali a poucos minutos.
As vozes ao redor da grande mesa soavam abafadas, como se estivessem a quilômetros de distância. Meus olhos deslizavam pelos gráficos e apresentações exibidos no projetor, mas as palavras embaralhavam-se diante da minha exaustão.
Eu estava cansada.
Uma leve tontura me atingiu quando tentei focar na tela, e meu estômago revirou de forma sutil, mas incômoda. Engoli em seco, ajustando minha postura na cadeira, respirando fundo para dissipar aquela sensação.
Talvez fosse apenas o cansaço acumulado. Eu mal tinha dormido nos últimos dias, entre o trabalho e as visitas constantes ao hospital para cuidar da minha mãe. Meu corpo, inevitavelmente, começava a cobrar por isso.
- Senhorita Hayes? - Levantei o olhar e me deparei com Octávio.
Seu tom de voz era impassível, mas seus olhos me analisavam com atenção.
- Sim senhor? - Respondi, tentando parecer mais composta possível.
- Sua opinião sobre isso? - Ele indicou algo no relatório sobre a mesa, como se tivesse plena certeza de que eu estava acompanhando a conversa.
Pisquei algumas vezes, forçando minha mente a funcionar. Eu havia revisado tudo na noite anterior enquanto estava no hospital, então eu sabia sobre o assunto de cor.
Respirei fundo e dei minha resposta, mantendo minha voz firme, ignorando a leve náusea que ainda se escondia em meu estômago.
Octávio não demonstrou nada, mas seus olhos permaneceram sobre mim por um segundo a mais antes de voltar sua atenção para os demais.
- Vamos fazer uma pausa e já voltamos. - Disse ele pedindo para que todos saíssem, mas de forma sutil. E assim que a sala ficou vazia, corri até uma das lixeiras para vomitar.
Octávio segurou meus cabelos e então o senti dar alguns tapas de leve nas minhas costas.
-Acho que não vamos precisar tentar de novo. Faça os exames e me traga os resultados o mais rápido possível.