- Muda o fato de que eu fui pega de surpresa. Você sabia quem ele era esse tempo todo, Ana! - a encarei, sentindo um nó na garganta. - Você me colocou nisso sem me contar tudo.
Sem esperar por respostas, virei nos calcanhares e saí da sala.
Ouvi Ana me chamar, mas continuei andando, sentindo minha cabeça girar. Eu confiava nela, sempre confiei, mas agora... Eu não sabia o que pensar.
Ao chegar no corredor, senti sua mão segurar meu braço.
- Kath, me escuta! - Disse ela, me virando para que eu a olhasse.
Parei, fechando os olhos por um instante, tentando acalmar os nervos e então, ela começou a se explicar
- Eu não te contei porque... não tinha necessidade. - Disse ela com sinceridade.
Soltei uma risada sarcástica, sem humor algum, a encarando.
- Não tinha necessidade? Ana, você me indicou para ser barriga de aluguel do seu primo! Como assim não tinha necessidade?
Ela suspirou, segurando minhas mãos com firmeza.
- Eu juro que não agi de má fé. Quando soube que Octávio procurava alguém, você foi a primeira pessoa que me veio à mente. Eu sabia que você precisava do dinheiro e pensei que seria uma boa oportunidade. Eu só quis te ajudar. - Disse ela com os olhos marejados.
Minha raiva começou a se dissipar, deixando espaço para a confusão e o cansaço.
Ana percebeu e sorriu, se aproximando um pouco mais.
- Se fosse algo de risco, você acha que eu colocaria você nisso? - sua voz estava baixa e sincera. - Katherine, eu conheço Octávio melhor do que ninguém. Sei da índole dele. Você pode confiar em mim só essa vez?
Eu engoli em seco, sentindo uma pontada de angústia no peito.
- Eu estou com medo, Ana... - minha voz falhou. - Eu não estou em condições de ter um bebê agora. E se eu me apegar? E se eu amar essa criança e não ter condições de cuidar dela? E se eu não quiser a entregar para ele?
Ela apertou minhas mãos com mais força.
- Você vai amar esse bebê- disse com um sorriso suave. - Mas não precisa ter medo. Eu sei que ele só quer a criança, mas Octávio jamais afastaria você do bebê. E outra, eu pensei em você porque gerar um bebê trás sentimentos novos e você precisa disso agora. Depois de tudo.
Meus olhos se fixaram nos dela.
- Como você pode ter tanta certeza de que realmente posso confiar nele?
Ana hesitou por um momento, mas depois soltou um suspiro.
- Porque eu já disse que o conheço. Ele já passou por muita coisa para tomar essa decisão de querer apenas o bebê, Katherine... Mas não cabe a mim te contar isso agora.
Fiquei em silêncio, absorvendo suas palavras. Respirei fundo, ainda sentindo o peso daquela conversa e de repente, Ana segurou minhas mãos com firmeza e sorriu de leve.
- Apenas confia em mim e aceita isso, Kath. No final, tudo vai dar certo. Essa criança vai servir para ajudar vocês dois.
Olhei para ela, sentindo a sinceridade em suas palavras. Meu coração ainda estava dividido entre o medo e a razão, mas... Ana nunca me colocaria em algo que pudesse me prejudicar.
Soltei o ar devagar e a puxei para um abraço apertado.
- Tudo bem... - murmurei, fechando os olhos por um instante. - Eu farei os exames, mas com uma condição.
Ela se afastou o suficiente para me olhar, erguendo uma sobrancelha.
- Qual?
- Você vai me contar tudo primeiro. Antes dele. - Falei com seriedade a vendo soltar um riso.
- Prometo. - Disse ela jurando de dedinho.
Soltei um suspiro e balancei a cabeça.
- Ótimo. Agora, vamos acabar logo com isso.
Voltamos juntas para a sala e assim que entramos, Octávio já nos observava, com os braços cruzados e uma expressão indecifrável.
Assim que me sentei, estendi o braço para que Ana colhesse o sangue. E do outro lado da sala, Octávio balançou a cabeça e resmungou:
- Vai entender vocês duas.
Ele veio até nós e pegou o notebook sobre a mesa antes de se sentar no sofá. Notei que os olhos dele estavam sobre mi, enquanto ele mexia no eletrônico.
Fingi que não percebi seu olhar e voltei minha atenção para Ana, que recolhia os frascos com cuidado.
- Ah, falando nisso - ela começou, com um sorriso travesso -Abriu uma nova loja de lingerie no shopping. Eu passei lá e comprei algumas peças pensando em você.
Arqueei uma sobrancelha ao ouvi-la falar.
- Em mim? - Perguntei soltando um riso.
- Sim! Você disse esses dias que está perdendo os sutiãs.
Soltei uma risada nasal.
- Eu não estou perdendo. Eles simplesmente pareceram encolher. - Falei a vendo olhar para os meus seios e sorrir.
- Claro que estão.
- De qualquer forma, obrigada pela consideração - Falei enquanto ela terminava de organizar o material.
- Podemos ir lá juntas, se quiser. Você pode escolher algo que goste mais.
Sacudi a cabeça.
- Não dá. Vou passar o final de semana no hospital com minha mãe. E também preciso visitar meu pai.
Ana fez uma cara de triste e suspirou.
- Tudo bem... Marcamos outro dia para darmos uma volta.
Ela terminou de guardar os equipamentos e se levantou, dando um tapinha leve no meu ombro.
- Agora é só esperar os resultados. - Disse ela e então, me levantei e a abracei.
-Obrigada Ana. Nos vemos mais tarde! - Falei a vendo sorrir e tocar meus cabelos.
-Eu passarei no hospital mais tarde para você descansar um pouco. - Disse ela indo até Octávio o dando um abraço, se virando e acenando para mim antes de sair.