Eu mal conseguia respirar enquanto era levada pelos bastidores, o vestido prateado colando em minha pele suada, as pernas trêmulas ameaçando ceder a cada passo.
alcancei minhas amigas abraçando-as com força como uma despedida, porque era isso que estávamos fazendo ali, nos despedindo para o nosso futuro incerto, um abraço rápido e desesperado antes que os seguranças nos separassem.
- Seja forte - sussurrei para Alice, as lágrimas escorrendo enquanto nos agarrávamos. - Vamos nos encontrar de novo. Promete.
- Prometo - respondeu ela com as lágrimas escorrendo sob a maquiagem pesada. - Não desista, Becca. A gente vai fugir disso.
Jenny nos puxou para o abraço, os olhos cheios de determinação apesar do medo.
- Na primeira chance, a gente escapa e nos encontramos - disse, com a voz baixa para não ser ouvida. - Não importa o que aconteça!
Os seguranças nos separaram, as mãos firmes nos nossos ombros, e eu fui levada para fora, com o coração apertado como se estivesse sendo rasgado. Elas eram minha família, as únicas que eu tinha desde que perdi meus pais. E agora, estávamos espalhadas, vendidas como mercadoria.
Mas não tive tempo de processar, porque o homem de terno cinza me esperava do lado de fora, ao lado de um carro preto luxuoso, um motorista esperando com a porta aberta. Ele sorriu, parecendo ainda mais encantador, o que me fez recuar instintivamente.
- Vamos? - disse ele com uma voz suave, estendendo a mão em minha direção, como se fôssemos velhos amigos.
Eu hesitei, sentindo o medo me paralisando. Quem era ele? O que queria comigo? Mas as palavras de Lara voltaram a minha mente "sejam arrematadas no leilão e saiam daqui, ou vão virar prostitutas nas ruas". Não havia uma escolha ali, ele era a minha melhor opção de dar o fora dali.
Aceitei a mão dele, sentindo o calor emanar dele acertando meu corpo trêmulo. Ele apertou levemente meus dedos entre os seus antes de me guiar até o carro, eu entrei no carro sentindo o couro frio contra a pele, antes que ele se sentasse ao meu lado, o carro partindo suavemente.
O caminho foi um borrão de ruas iluminadas e sombras, meu corpo ainda sentindo os resquícios da droga, a náusea voltando em ondas. Tentei memorizar o caminho, os prédios, qualquer coisa que pudesse me ajudar a fugir mesmo no escuro da noite.
Ele não disse uma palavra no caminho, o que eu agradeci, estava nervosa demais para qualquer pergunta, conversa ou toques. O homem ao meu lado claramente era rico, isso era óbvio, o carro, o terno, o jeito que falava com o motorista, isso sem falar de todo o dinheiro que gastou me comprando.
Mas rico significava poder, e poder significava que fugir seria mais difícil. Meu coração batia forte, o pânico subindo e fazendo minhas mãos suarem no colo. E se ele fosse como os monstros que me pegaram? Não, pare, Becca. Foque. Encontre uma saída.
Chegamos a uma mansão enorme, cercada por muros altos e portões de ferro que se abriram automaticamente. O jardim era impecável, com fontes e estátuas, e a casa em si era como algo saído de uma revista, colunas brancas, janelas altas, luzes acesas como se esperasse uma festa.
Meu estômago revirou de novo. Isso era a casa dele? O que aconteceria agora? Ele me levaria para o quarto, me forçaria a... Não, não eu não podia pensar nisso. Tinha que ganhar tempo para fugir.
Ele saiu do carro, oferecendo a mão para me ajudar, mas eu ignorei, descendo sozinha mesmo com as pernas trêmulas.
- Bem-vinda à minha casa - disse ele, em um tom casual como se isso fosse um encontro normal. - Pode me chamar de Benjamin. E você é...?
- Rebecca - respondi, tentando não mostrar o medo, mas não temos muita certeza se consegui.
Ele assentiu, guiando-me para dentro, o hall de entrada enorme, com um lustre de cristal pendurado no teto.
- Rebecca. Lindo nome - ouvi ele atrás de mim, falando com uma voz amigável, mas eu podia sentir o olhar dele me avaliando. - Não precisa ter medo. Eu não sou como os outros homens que estavam lá, desesperados para levar as garotas para a cama. Vamos conversar sobre o acordo que quero fazer.
- Acordo? - Meu coração acelerou, o medo misturado com confusão.
Mas antes de me responder ele seguiu esperando que eu o seguisse até uma sala de estar, com sofás de couro e uma lareira crepitando. Benjamin andou até uma poltrona e eu me sentei na ponta do sofá ao lado, longe o suficiente para conseguir correr, mas perto de uma forma que não entregasse todo o pavor que eu estava sentindo.
Coloquei as mãos no colo, o vestido prateado agora parecendo uma armadura que não protegia nada, na verdade deixava tudo à mostra, minhas costas, as coxas e meus seios aparecendo quase completamente.
- Eu comprei você por um milhão porque preciso de uma esposa falsa - disse, direto, como se estivesse falando de negócios e puxou alguns papéis de uma pastar. - Meu pai está doente, teve um infarto recente e precisa de paz e felicidade. E como ele está obcecado por me ver casado e com netos a caminho, eu preciso de você para acalmá-lo, dar paz antes... antes do pior. Você finge ser minha esposa por um ano, eu te pago o que quiser, e depois você está livre.
Eu pisquei rapidamente com o cérebro tentando processar. Esposa falsa? Não era o que eu esperava, não um monstro, mas um homem desesperado pelo melhor para a família, por ver o pai bem. Ainda assim, o medo não ia embora. Ele era rico, poderoso, e eu estava presa aqui.
Meu coração batia disparado, minha mente correndo com os pensamentos enquanto meu corpo estava em conflito sobre o que pensar, o que sentir naquele momento, com aquele homem ao meu lado.
- E se eu não quiser? - perguntei, a voz tremendo, testando os limites. Ele suspirou, passando a mão pelo cabelo.
- Você pode recusar, mas o contrato que assinei com a casa de leilão quando paguei diz que eu teria que voltar para lá com você se o acordo não desse certo. Mas olha, Rebecca, eu não sou um monstro. Aqui - ele se apressou em dizer, me passando os papéis. Era um contrato, com termos claros: um ano de casamento de fachada, quarto separado, sem toques íntimos quando um pagamento generoso no final. Liberdade total depois. - É isso que vai resolver tudo pra você. Você ganha o dinheiro, eu consigo que meus pais fiquem felizes. Sem obrigações além de fingir.
Eu li o contrato com as mãos tremendo, o medo ainda me corroendo. Ali ao menos eu tinha uma chance de conseguir fugir, conseguir procurar ajuda para as minhas amigas e salvá-las antes que o pior acontecesse. Então se fosse preciso fingir, ganhar tempo, eu ia até encontrar uma saída.
- Está bem - disse, fingindo aceitar, já imaginando em como conseguiria fugir - Eu assino.
Ele sorriu, aliviado e me passou uma caneta, mantendo os olhos focados em mim enquanto eu assinava, mesmo que meu estômago se revirasse e minha garganta se apertasse.
- Agora vou mostrar seu quarto, imagino que deve ter sido uma noite cheia. - ele disse já se levantando e subindo para o andar de cima. O quarto luxuoso, com cama enorme, banheiro privativo e varanda com vista para o jardim. - Descanse. Amanhã conversamos sobre como tudo vai funcionar. Boa noite, Becca.
Ele saiu, trancando a porta? Não ouvi o clique, mas o medo me mantinha alerta. O quarto era bonito, toda a casa era, mas ali era a minha prisão. Meu coração batia forte, o pânico subindo enquanto eu andava de um lado para o outro. Onde estavam Alice e Jenny? Elas estavam seguras? Foram vendidas para homens como aquele velho? As lágrimas vieram, quentes e silenciosas, enquanto eu me encolhia na cama, o vestido prateado ainda no corpo. Eu precisava fugir, encontrar minhas amigas.
O cansaço veio como uma onda, o efeito da droga me puxando para um sono. E mesmo lutando, meus olhos se fecharam, sendo levada para um vazio onde eu sonhava com liberdade.
Na manhã seguinte, acordei confusa com o sol batendo no rosto através da varanda aberta. Por um momento, não soube onde estava, onde era aquele lugar. Até que tudo voltou a boate, o sequestro, ser leiloada. O pânico me atingiu, e eu me levantei, correndo para a varanda, sentindo o ar fresco batendo no rosto.
A vista era linda, o jardim verde estendendo-se até uma floresta, mas a altura era vertiginosa. Eu poderia pular? Não, quebraria a perna ou as duas com uma queda daquelas.
Lá embaixo, seguranças patrulhavam, cães ao lado. Impossível.
Um toque na porta me fez virar com o coração disparado. Eu vi Benjamin entrando com um sorriso no rosto, enquanto carregava uma bandeja com café.
- Bom dia - disse, naquele tom casual e o sorriso encantador sem seus lábios. - Dormiu bem? Como você não tem roupas, chamei um estilista para te arrumar. Minha mãe vai adorar te conhecer, mas você precisa estar impecável.
Eu congelei, o medo misturado com confusão. Estilista? Conhecer a mãe dele? Ele era gentil, educado, mas isso não mudava o fato de que me comprou.
- O que você quer dizer com impecável? - perguntei, tentando esconder o tremor, e acho que consegui já que ele riu, deixando a bandeja na mesa do outro lado do quarto antes de voltar para perto de mim.
- Minha mãe é ex-modelo, exigente com aparência - explicou. - E ela precisa acreditar que você é a esposa perfeita. Vamos conhecê-la hoje à tarde. Só isso.
Eu assenti, fingindo calma, mas minha mente corria. Gentil? Talvez. Mas ainda era o homem que me comprou. Enquanto ele saía para resolver algo eu observei a porta aberta, o corredor vazio. Era uma chance de fugir ou aquilo era um teste para saber como eu agiria? Não, não ainda. Eu precisava de tempo e de um plano. Por Alice, por Jenny, por mim, eu ia fingir e fugir na primeira oportunidade.