O CEO E A ÓRFÃ BILIONÁRIA
img img O CEO E A ÓRFÃ BILIONÁRIA img Capítulo 5 Duas marcas
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Capítulo 6 O PRIMEIRO DIA img
Capítulo 7 BOM SENSO img
Capítulo 8 O HOMEM DA NOITE PASSADA img
Capítulo 9 INSOLENTE img
Capítulo 10 SECRETARIA img
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Capítulo 5 Duas marcas

ROBERTO NARRANDO

Peguei o paletó pendurado na cadeira e vesti. Não havia mais nada a fazer naquela noite, pelo menos não dentro dessas paredes envidraçadas. O escritório parecia sempre mais sufocante depois de conversas como essa.

Mauro entrou de novo, discreto, sem bater ,ele sabia quando eu não estava de humor.

- Vai pra casa, chefe? - perguntou, ajustando os óculos no rosto.

- É. - Respondi seco. - Manda desligar as luzes do décimo segundo andar quando sair. Não quero sombra nenhuma aberta pra eles.

Ele assentiu, sem insistir. Mauro não era homem de palavras inúteis. E talvez fosse por isso que ele era o único em quem eu confiava de verdade.

Atravessei o corredor espelhado da empresa, a cada passo vendo meu reflexo duro, engravatado, como se fosse outro homem me acompanhando. A noite de São Paulo já estava acesa lá fora, e eu me lembrava do garoto de quinze anos que quase morreu envenenado numa cidadezinha qualquer. Agora eu atravessava a capital como dono de um império, mas a sensação era a mesma: alguém sempre pronto pra puxar meu tapete.

O carro me esperava na garagem. Um Audi preto, blindado até os dentes. Entrei e afundei no banco de couro, respirando fundo. O motorista me cumprimentou, mas eu só fiz um gesto com a mão. Queria silêncio.

A cidade corria pelas janelas como um filme. Luzes, buzinas, a pressa das pessoas que pareciam ter um destino, mas nunca paravam pra pensar se era realmente delas a escolha. Eu tinha um destino, sim, mas não foi escolha. Foi imposição, sangue e veneno.

Chegamos ao condomínio fechado em Alphaville. Portões altos, seguranças armados, câmeras em cada canto. Um lugar construído pra afastar o mundo. Mas, no fundo, eu sabia que o perigo sempre encontrava uma brecha. Sempre.

Minha casa ficava no topo de uma das ruas mais altas. Moderna, de vidro e concreto, mais fria do que qualquer escritório. Era bonita, sim, digna de revista, mas não tinha cheiro de lar. Tinha cheiro de estratégia.

O motorista abriu a porta, mas eu desci sem esperar. Atravessei o hall iluminado, escutei o barulho dos sensores se ativando. A governanta apareceu no corredor, mas eu ergui a mão.

- Não quero jantar. Só um whisky no meu escritório.

Ela assentiu e desapareceu.

Subi as escadas, cada degrau ecoando como lembrança. Aquele espaço parecia mais um museu do que casa. Quadros caros, móveis sob medida, silêncio absoluto.

No escritório, abri a janela de vidro, deixando o vento frio da noite entrar. A cidade brilhava lá embaixo, mas parecia distante, intocável.

A governanta trouxe o whisky em um copo de cristal. Peguei sem agradecer, dei um gole que queimou a garganta, e inevitavelmente me lembrou da sensação do veneno, anos atrás. Bebi de novo, tentando sufocar a lembrança.

Não demorou muito até o celular vibrar em cima da mesa. Nome na tela: Fernanda Mourão. Outra vez.

Suspirei, passei a mão pelos cabelos e atendi.

- Roberto... - a voz dela era melosa, treinada, quase ensaiada. - Você me ignorou mais cedo.

- Estava ocupado.

- Sempre ocupado. - Ela riu, mas sem graça. - Um jantar amanhã à noite. Só nós dois. O que acha?

- Não posso.

- Você nunca pode. - O tom dela mudou, mais frio. - Sabe que está jogando contra você mesmo, não sabe? Nossos pais já conversaram, Roberto. Essa aliança seria o golpe final nos seus inimigos. Você se fecha num castelo de vidro, mas até castelos caem.

Fechei os olhos por um instante, respirei fundo.

- Se eu me casar um dia, Fernanda, não será por conveniência.

- Você fala como se tivesse escolha. - Ela suspirou, e antes que desligasse, lançou uma última frase: - Não demore a perceber que sozinhos nós dois somos fortes, mas juntos seríamos imbatíveis.

O silêncio voltou.

Fiquei olhando o celular, a tela apagada. O whisky já estava no fim. Foi quando ouvi passos atrás de mim. Mauro. Ele nunca esperava ser anunciado.

- Interrompi?

- Não. - Virei de costas pra ele. - Alguma novidade?

Ele trazia uma pasta preta em mãos. Colocou em cima da mesa, deslizando até mim.

- As novas contratações do setor de serviços gerais. Recursos Humanos mandou revisar antes de mandar pro arquivo.

- Desde quando eu perco tempo com faxineira? - retruquei, impaciente.

- Desde que você me mandou não ignorar detalhe nenhum. - Ele cruzou os braços. - E porque qualquer nome que entra pela porta pode ser uma peça nesse jogo.

Respirei fundo, abri a pasta. A rotina de sempre: formulários, fotos 3x4, assinaturas apressadas. Gente simples, em busca de emprego. Passei os olhos por cima, quase sem atenção. Mas algo me fez parar.

Uma ficha: Nome: Lua Alves. Idade: 18 anos. Função: serviços gerais.

Meu olhar parou ali. A marca de nascença no pulso esquerdo estava descrita no rodapé da avaliação médica: pinta arredondada próxima à veia principal.

Senti o sangue pulsar mais forte na têmpora.

Mas, antes que eu pudesse saborear a sensação de vitória, virei a página e vi outra ficha.

Nome: Lua Alves. Idade: 18 anos. Função: auxiliar de limpeza.

Dei um passo atrás na cadeira, franzi a testa. Era o mesmo nome. A mesma idade. E, no exame médico, a mesma observação: pinta arredondada no pulso esquerdo.

- Isso só pode ser uma piada... - murmurei, passando os olhos de novo, tentando encontrar uma diferença, qualquer coisa que denunciasse erro de digitação. Mas não. Os dois registros eram oficiais. Assinados, carimbados, com fotos diferentes de duas garotas distintas.

- Chefe? - a voz de Mauro , ecoou na porta. Ele carregava mais pastas de contratos. - Tá tudo certo com os arquivos?

Levantei os olhos lentamente, mostrando a ele as duas fichas abertas lado a lado.

- Você tá vendo o que eu tô vendo? - Mauro se aproximou, coçou a nuca, claramente desconfortável. - Já revisei isso três vezes, Roberto. Não é erro de digitação. São duas meninas diferentes, mas com dados idênticos.

Bati a mão sobre as pastas, a raiva me subindo como fogo.

- Isso não acontece por acaso. Alguém mexeu nisso. Alguém tá tentando me confundir.

CONTINUA ..

                         

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