Amor, Mentiras e uma Vasectomia
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Capítulo 3

Voltei para minha casa, a casa que Davi e eu escolhemos juntos, e parecia a casa de um estranho. As fotos na parede de nossos rostos sorridentes eram uma zombaria. Eu me movia pelos cômodos atordoada, minha alegria anterior substituída por um silêncio arrepiante.

Naquela noite, Davi chegou em casa. Ele era um ator perfeito. Entrou, sorrindo, e veio direto até mim, depositando um beijo na minha bochecha.

"Como estão minhas duas pessoas favoritas?", ele perguntou, sua mão repousando na minha barriga.

Eu me encolhi com seu toque, mas forcei um sorriso fraco. "Estamos bem. Só cansados."

"Eu trouxe uma coisa para você", disse ele, indo para a cozinha. Ele voltou com um copo de leite morno. "Para o bebê. Você precisa manter suas forças."

Ele me estendeu o copo, seus olhos cheios de falsa preocupação. Os mesmos olhos que olharam para seus amigos com um divertimento tão cruel apenas algumas horas antes. Meu estômago se revirou. Eu sabia, com uma certeza que me gelou até os ossos, que aquele leite não era apenas leite.

"Não estou com sede, Davi", eu disse, minha voz mal um sussurro.

"Só um pouquinho, pelo bebê", ele insistiu, seu sorriso se contraindo nos cantos. "Você não quer que nosso filho seja forte e saudável?"

Nosso filho. As palavras eram veneno.

"Não, sério, não consigo", insisti, afastando o copo gentilmente.

Seu rosto mudou em um instante. A máscara do marido amoroso caiu, substituída por um lampejo de irritação. Foi tão rápido que eu poderia ter perdido se não estivesse procurando por isso.

"Aleida, beba o leite", disse ele, sua voz baixa e firme. Não era um pedido. Era uma ordem.

Ele pressionou o copo contra meus lábios. Não tive escolha a não ser beber, o líquido morno e levemente adocicado descendo pela minha garganta. Senti uma sensação de pavor a cada gole.

Logo depois, uma sonolência pesada me dominou. Meus membros pareciam de chumbo, minhas pálpebras pesadas demais para manter abertas.

"Acho que preciso me deitar", murmurei, minhas palavras se arrastando.

Davi me guiou até o sofá, seu toque agora parecendo o de uma aranha. "Isso mesmo, querida. Apenas descanse."

O mundo se desvaneceu em uma névoa turva. Eu estava vagamente ciente de outras figuras na sala, sombras se movendo na periferia da minha visão antes de eu cair em um sono profundo e sem sonhos.

Acordei horas depois, meu corpo dolorido e um resíduo estranho e pegajoso na minha pele. Senti-me violada, uma sensação profunda e primitiva de erro que se instalou em meus ossos. A casa estava silenciosa. Davi já tinha saído para o trabalho.

Minha mente estava surpreendentemente clara. A raiva de ontem se aguçou em um propósito frio e focado. Levantei-me e caminhei até a estante na sala de estar. Escondida atrás de uma fileira de romances clássicos havia uma pequena caixa preta. Uma câmera escondida. Davi a instalara meses atrás, alegando que era para "segurança". Agora eu sabia o que ele estava protegendo.

Tirei o cartão de memória e o inseri no meu notebook. Minhas mãos estavam firmes. Eu tinha que ver. Tinha que saber a extensão total da traição deles.

Avancei rapidamente pelas horas vazias até ver movimento. A gravação era da noite passada, depois que eu desmaiei.

A tela mostrava Davi deixando duas pessoas entrarem em casa. Meu coração parou. Eram Elisa Ortega e Eduardo.

Eu assisti, prendendo a respiração, enquanto eles ficavam sobre meu corpo inconsciente no sofá.

Elisa olhou para mim, seu rosto uma máscara de puro ódio. "Ela parece tão em paz. É nojento."

"É só o sedativo", disse Davi, sua voz casual. "Funciona que é uma maravilha. Ela vai ficar apagada por horas."

Eduardo se inclinou, um sorriso lascivo no rosto. "Então, é assim que ela fica quando está maleável. Isso torna as coisas muito mais fáceis."

"Estamos apenas testando o novo soro esta noite", disse Elisa, tirando um pequeno frasco da bolsa. "O 'soro da submissão', como Eduardo tão elegantemente o chama. Quero ter certeza de que está perfeito para a festa. Quero que ela esteja completamente ciente, mas incapaz de resistir. Quero que ela saiba o que está acontecendo com ela."

Meu estômago embrulhou. Eles estavam planejando isso há semanas. Drogando-me, testando coisas em mim na minha própria casa.

"Por que você a odeia tanto, Elisa?", perguntou Eduardo, quase com admiração.

"Ela tentou tirá-lo de mim", cuspiu Elisa, gesticulando em direção a Davi. "Ela encheu a cabeça dele com ideias de uma vida normal, uma família. Ela tentou fazê-lo esquecer o que era importante. Eu."

Davi olhou para Elisa com uma expressão de pura adoração. "Ninguém jamais poderia me fazer esquecer de você."

Então, uma nova pessoa entrou em cena. Um homem que eu não reconheci. Ele era alto e bruto, com olhos frios e mortos.

"Este é o cara de quem eu estava falando", disse Eduardo. "Ele está disposto a pagar o lance mais alto por um 'teste' antes da festa. Será um belo bônus para a nossa aposta."

"A festa é em dois dias, quando a Elisa 'retornar' oficialmente", confirmou Davi. "Está tudo pronto."

Assisti horrorizada enquanto Elisa pegava uma amostra da minha bochecha com um cotonete. "Só preciso testar os níveis do sedativo. Garantir que ela esteja completamente apagada."

Ela olhou para o resultado em um pequeno dispositivo. "Perfeito. Ela está completamente indefesa."

Eles conversaram por mais alguns minutos, suas vozes um murmúrio baixo de conspiração, finalizando seus planos para minha degradação pública. Então Davi e Elisa saíram, deixando Eduardo e o homem estranho sozinhos comigo.

Eu não conseguia mais assistir. Fechei o notebook com força, um grito estrangulado escapando dos meus lábios. A profundidade da depravação deles era sem fundo. Isso não era apenas uma aposta. Era um plano sistemático e de longo prazo de abuso e exploração.

Respirei fundo, trêmula, forçando o desespero para baixo. Eu tinha que ser esperta. Tinha que ser forte.

De repente, ouvi a porta da frente se abrir. "Aleida? Cheguei mais cedo!"

Era Davi.

O pânico me dominou. Guardei rapidamente o notebook, minhas mãos tremendo.

"Estou aqui", chamei, tentando manter minha voz firme.

Ele entrou, sorrindo. "Fiquei preocupado com você. Você parecia tão mal ontem à noite. Está se sentindo melhor?"

"Muito melhor", menti, meu coração batendo forte. "Eu estava apenas descansando."

Ele pareceu acreditar em mim. "Ótimo. Preciso subir um minuto para pegar um arquivo."

Assim que ele sumiu de vista, meus instintos de sobrevivência entraram em ação. O celular dele estava na mesa de centro. Esta era minha chance.

Eu o peguei. A senha dele era o aniversário da Elisa. Claro.

Passei rapidamente pelos aplicativos dele. Parecia normal. Normal demais. Então eu notei - um leve brilho na parte inferior da tela. Pressionei meu polegar sobre ele, e uma segunda interface, oculta, apareceu. Era um sistema completamente separado no mesmo telefone.

Meus dedos voaram pela tela, abrindo um aplicativo de mensagens que eu não reconhecia. A primeira pessoa em sua lista de prioridades era Elisa. O histórico de conversas deles estava cheio de mensagens vis e distorcidas sobre mim.

Então eu vi um chat em grupo. Cliquei nele.

O nome do grupo fez o ar faltar nos meus pulmões.

"Leilão da Aleida."

            
            

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