O chat estava cheio de lances. Não apenas para a aposta de paternidade, mas para outra coisa. Rolei para cima, meu coração batendo um ritmo doentio e pesado.
Lá estava. Uma agenda. Uma "agenda de reservas". Meu nome estava no topo. Abaixo havia datas, horários e nomes. Eduardo. Marcos. Sérgio. Uma lista dos amigos de Davi. Ao lado de cada nome havia um valor em reais.
Eles estavam me vendendo.
Enquanto eu estava drogada e inconsciente, eles estavam deixando esses homens entrarem na minha cama. Na minha casa. No meu corpo.
Uma onda de humilhação pura e não diluída me dominou. Eu não era uma esposa. Eu não era nem mesmo uma pessoa para eles. Eu era uma mercadoria. Uma coisa para ser usada, abusada e vendida para o maior lance.
Uma nova mensagem apareceu no chat de um homem chamado Fernando.
"Ela está disponível hoje à noite? Estou disposto a dobrar o último lance."
A resposta de Davi apareceu quase instantaneamente. "Desculpe, Fernando. Ela está fora do mercado até a festa. Grande final, sabe."
Eduardo adicionou um emoji de risada. "É, pense nela como uma acompanhante de luxo. Você tem que reservar o evento principal com antecedência."
Uma acompanhante. Eles estavam me comparando a uma acompanhante. O nojo era tão intenso que parecia um veneno físico em minhas veias.
Mais mensagens chegaram, cada uma uma nova camada de degradação. Eles brincavam sobre meu corpo, meu "desempenho", minha total falta de consciência.
Nesse momento, uma notificação apareceu no topo da tela. Uma nova mensagem de Elisa.
Cliquei nela.
"Grande notícia, pessoal! Meu voo está marcado! Estarei de volta em dois dias. Faremos uma festa de boas-vindas no Pavilhão Imperial. Todos vocês estão convidados!"
Meu sangue gelou. O Pavilhão Imperial. Foi lá que Davi e eu tivemos nossa recepção de casamento. Outra memória sagrada que eles planejavam profanar.
"E eu tenho uma pequena surpresa para deixar todos animados para o grande prêmio", continuou a mensagem dela.
Uma imagem carregou.
Meu estômago despencou. Senti uma vontade violenta de vomitar.
Era uma foto de ultrassom. A minha foto de ultrassom. Aquela que eu tinha emoldurado na minha mesa de cabeceira.
Abaixo da imagem do meu filho ainda não nascido, Elisa havia adicionado uma legenda em letras garrafais e berrantes.
"O POTE DE OURO."
Um tremor começou em minhas mãos e se espalhou por todo o meu corpo. Uma premonição sombria, uma certeza do que eles planejavam para mim naquela festa, começou a se formar em minha mente. Isso não era apenas sobre humilhação. Era sobre algo muito mais sinistro.
Eu tinha que agir rápido. Não podia deixá-los vencer.
Com os dedos trêmulos, encaminhei rapidamente todo o histórico do chat, as fotos, a agenda - tudo - para um endereço de e-mail seguro que eu havia criado anos atrás. Fiz backup em um drive na nuvem. Fiz cópias das cópias. Provas.
Passos na escada. Davi estava descendo.
Fechei rapidamente a interface oculta e coloquei o celular de volta na mesa, exatamente onde estava. Virei-me no momento em que ele entrou na sala.
"O que há de errado?", ele perguntou, seus olhos se estreitando ligeiramente. "Você parece pálida."
"Acabei de sentir o bebê chutar", menti, forçando um sorriso trêmulo. "Me assustou."
Ele pareceu acreditar, sua expressão se suavizando naquela familiar máscara de falsa preocupação. A máscara que agora me dava arrepios.
"Bem, falando em boas notícias", disse ele, seu sorriso se alargando. "Eu estava falando com a Elisa. Ela está voltando para casa! Vamos dar uma festa para ela no Pavilhão Imperial em dois dias. Para comemorar."
Meu coração martelava contra minhas costelas. "O Pavilhão? Davi, eu não sei... estou tão cansada ultimamente."
"Besteira", disse ele, seu tom instantaneamente desdenhoso. "É pela Elisa. Depois de tudo que você a fez passar, é o mínimo que você pode fazer para estar lá e recebê-la em casa adequadamente."
Lá estava de novo. A mentira. A base de toda a fantasia doentia deles.
"Eu realmente não me sinto bem para isso", eu disse, minha voz suplicante.
Seu sorriso desapareceu. "Aleida, você vai. E não se discute mais." Sua voz era baixa, ameaçadora. "Você deve isso a ela. Você estará lá, estará sorrindo e mostrará a todos que família feliz e solidária nós somos."
Ele se aproximou, sua presença de repente ameaçadora. Ele agarrou meu braço, seu aperto surpreendentemente forte.
"Você me entendeu?", ele sibilou, seu rosto a centímetros do meu.
Olhei em seus olhos e não vi nada além de uma escuridão fria e vazia. Sem amor. Sem remorso. Apenas uma determinação arrepiante.
Eu não tinha escolha. Para o meu plano funcionar, eu tinha que ir. Tinha que entrar na cova dos leões.
"Sim", sussurrei, minha voz trêmula. "Eu entendi."
Ele soltou meu braço e me forçou em direção à porta. "Ótimo. Agora vá se arrumar. Precisamos causar uma boa impressão."
Ele estava me arrastando para minha própria execução. Mas ele não sabia que era eu quem acabara de armar a armadilha.