Ela Deu um Rim, Ele Deu a Dor
img img Ela Deu um Rim, Ele Deu a Dor img Capítulo 3 No.3
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Capítulo 3 No.3

A cobertura parecia vazia, despojada da minha presença.

Eu me apagara sistematicamente.

Roupas, livros, objetos pessoais: tudo desaparecera.

Apenas as coisas de Ethan restavam, marcantes e masculinas contra a decoração minimalista que ele preferia.

Sobre o criado-mudo dele, encontrei a pequena caixa de veludo, ainda fechada, do desastroso pedido de casamento nos Hamptons.

Peguei-a e a abri.

O diamante era de fato grande, impecável e completamente frio.

Não representava nada.

Deixei-o cair na lixeira, ao lado dos restos de uma roupinha de bebê triturada - um macacãozinho neutro que eu comprara num momento de frágil esperança após o aborto espontâneo; uma esperança que Ethan esmagara, talvez sem saber, talvez sabendo.

Meu pedido de demissão da Reed Innovate abalou a empresa.

Minha equipe, as pessoas que eu orientara e liderara, ligou, implorando que eu reconsiderasse.

Ava, a empresa precisa de você. O Ethan precisa de você.

Preciso descansar, eu disse a eles, com a voz suave, mas firme. "E de independência."

A libertação contida naquelas palavras era uma sensação inebriante.

Ethan finalmente tornou a ligar, a voz uma mistura de confusão e irritação.

Ava, que diabos está acontecendo?

Primeiro você pede demissão, e agora sua assistente me diz que você esvaziou o escritório.

É sério que você ainda está chateada por causa dos Hamptons? A Chloe estava mesmo doente.

Estou me preparando para o meu casamento, Ethan, eu disse, e a mentira fluiu com facilidade.

Deixei que ele acreditasse no que quisesse.

Ah. Certo, ele respondeu, parecendo distraído. "Bem, não demore muito."

Escuta, a Chloe não está achando o cobertor de cashmere preferido dela, aquele da Hermès. Sabe onde está?

Eu desliguei.

A total falta de sensibilidade dele era um escudo que eu não precisava mais transpor.

Uma semana depois, o Instagram de Chloe exibia uma nova postagem: uma selfie de biquinho com a legenda: "Meu herói @EthanReed está trabalhando demais. Saudades do nosso tempo juntos. #abandonada".

Era uma manipulação infantil e descarada, e por um instante senti algo parecido com pena de Ethan, um sentimento que logo se extinguiu.

A ligação seguinte, no entanto, não pôde ser ignorada com tanta facilidade.

Era Ben Carter, a voz carregada de urgência.

Ava. É o Ethan. Ele... Meu Deus, Ava, ele se feriu gravemente.

Ele estava protegendo a Chloe. Foi um ataque, parece que de um ex-funcionário insatisfeito dela.

Ele está no Lenox Hill. É grave.

Precisam de você. Seu tipo sanguíneo... de novo.

Uma risada amarga me escapou.

Meu sangue raro, um recurso a ser explorado quando bem entendessem.

E a Chloe?, perguntei, com a voz impassível.

Fugiu do local, disse Ben, o tom carregado de desprezo. "Disse que o estresse era demais para os 'nervos frágeis' dela."

Ele a protegeu, levou a pior.

Ava, por favor. Ele pode não resistir.

Meu corpo ainda se sentia fraco pela remoção do rim, da doação anterior.

A ideia de doar mais, de me esgotar ainda mais por ele, era repulsiva.

E, mesmo assim...

Estarei no próximo voo, ouvi a mim mesma dizer.

Certos hábitos, certos padrões de autossacrifício profundamente arraigados, custam a morrer.

O procedimento me deixou exausta, com a visão turva.

Enquanto me recuperava num pequeno quarto particular, ouvi a voz de Ethan vindo da suíte ao lado. O som chegava mais nítido do que deveria, pois a porta estava entreaberta.

Ele falava com Ben.

A Chloe... ela está bem? Deve estar apavorada.

A voz dele era fraca, mas a preocupação por ela, inconfundível.

Ela está bem, Ethan. A essa altura, já deve estar num avião para algum lugar ensolarado, imagino, disse Ben, sem um pingo de simpatia na voz.

Que bom. Ela precisa estar segura, murmurou Ethan.

A Ava... ela vai entender. Sempre entende.

Ela faria qualquer coisa por mim. Ela nunca me deixaria. Nunca.

Aquelas palavras, ditas com tanta certeza, ignorando por completo minha autonomia e minha dor, foram o golpe de misericórdia.

Qualquer resquício tolo de compaixão que ainda restava em mim se extinguiu no mesmo instante, substituído por uma raiva gélida.

Ele nunca entenderia. Ele nunca mudaria.

E eu nunca, jamais voltaria.

Desta vez, o rompimento era absoluto. Irreversível.

            
            

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