Paris. A palavra ecoava em sua mente. Não a Paris que conhecera com Bennett, a dos hotéis cinco estrelas e restaurantes premiados pelo Guia Michelin. Aquela seria a *sua* Paris. Um apartamento modesto no Le Marais, uma rotina tranquila, um emprego em uma pequena galeria de arte independente. Uma vida em que ninguém conhecia o sobrenome Randolph.
Ela deu início ao lento e doloroso processo de desmantelar a própria vida. Moveu-se pela cobertura como um fantasma, revirando quinze anos de memórias compartilhadas. Escondido em uma caixa de veludo no fundo do seu armário, estava um colar de diamantes, a relíquia da família Randolph que Bennett lhe dera no dia do casamento.
Isto pertenceu à minha avó, ele dissera, com o olhar sincero. "Representa o futuro da nossa família. Agora é seu, para sempre."
Para sempre. A palavra era uma piada amarga. Ela encarou as pedras frias e reluzentes. Não eram um símbolo de futuro; eram o preço do seu silêncio, o pagamento por sua cumplicidade na própria desilusão.
Ela foi a uma casa de leilões beneficente próxima e doou o colar anonimamente. O formulário de doação pareceu mais pesado que a própria joia.
Havia outras coisas das quais não conseguia se desfazer. Os álbuns de fotos repletos de sorrisos fraudulentos. As lembrancinhas bobas das primeiras viagens, quando ainda eram felizes. Os bilhetes escritos à mão que ele costumava deixar em seu travesseiro.
Naquela noite, ela levou tudo para a grande lareira da sala de estar. Um por um, alimentou as chamas. Observou seus rostos, capturados em momentos de felicidade fingida, se contorcerem, escurecerem e virarem cinzas. O fogo consumiu o passado dos dois, uma pira funerária para um amor que fora uma mentira.
Bennett voltou de sua suposta viagem de negócios no dia seguinte, cantarolando uma melodia que ela não reconheceu. Ele notou o espaço vazio sobre a lareira, onde a foto do casamento costumava ficar.
Onde está a nossa foto, Kels?, ele perguntou, franzindo a testa em uma leve confusão.
Mandei emoldurar de novo, ela mentiu suavemente. "O vidro estava trincado."
Ele aceitou a explicação sem questionar. Estava distraído demais, imerso demais em sua vida secreta. Ela sentia o cheiro nele - um perfume floral suave que não era o seu. Viu um único fio de cabelo, longo e escuro, na gola de seu casaco de caxemira. As provas estavam por toda parte, mas ele ainda circulava pela casa com a feliz ignorância de um homem que se julgava impune.
Tenho uma surpresa para você, ele anunciou alguns dias depois, passando o braço pela cintura dela. "Uma festa. Para o seu aniversário, para compensar o tempo que passei fora. Convidei todo mundo."
Seu verdadeiro aniversário fora semanas antes, e ela o passara sozinha. Aquela festa não era para ela. Era para ele. Uma encenação para o círculo social deles, uma forma de manter a fachada do casal perfeito.
Que... atencioso da sua parte, disse ela, a voz desprovida de emoção.
Ela compareceu à festa usando um vestido preto simples, em nítido contraste com os trajes brilhantes das outras mulheres. Sentia-se como uma espectadora em sua própria execução. A cobertura estava cheia de flores, o champanhe corria solto e um quarteto de cordas tocava em um canto. Era um cenário perfeito de opulência e felicidade.
E então ela a viu.
Aria Diaz. Parada perto do piano de cauda, parecia perdida e deslocada em um vestido vermelho vibrante que era um número menor do que deveria.
Uma convidada, uma mulher mais velha coberta de diamantes, passou por Kelsey. "Minha querida, você está deslumbrante esta noite", disse a mulher, com os olhos fixos em Aria. "Esse vermelho é uma escolha ousada para você!"
A mulher deu um tapinha no braço de Kelsey e seguiu em frente, deixando-a paralisada. As pessoas achavam que Aria era ela. A substituição era tão descarada, tão óbvia, que confundiam a cópia com o original.
Aria parecia apavorada. Segurava uma pequena bolsa de mão contra o peito como um escudo, os olhos arregalados percorrendo o salão. Era uma criança fantasiada em um mundo que não compreendia.
Bennett, percebendo o desconforto dela, interrompeu a conversa em que estava e foi até Aria. Pousou uma mão protetora na base das costas dela, sussurrando algo em seu ouvido que a fez corar levemente.
Kelsey caminhou na direção deles, os passos pesados, como se avançasse através da água.
Bennett, disse ela, a voz baixa e controlada. "O que ela está fazendo aqui?"
Bennett se encolheu, mas se recompôs rapidamente. Ele estampou um sorriso encantador. "Kelsey, querida! Eu queria que você conhecesse a Aria direito. Pensei que, já que ela está gerando nosso filho, deveria se sentir parte da família."
Ele se virou para a pequena plateia que começava a notar a cena. "Pessoal", anunciou, com a voz carregada de uma falsa bonomia. "Esta é Aria Diaz. Ela é uma grande amiga da família que gentilmente se ofereceu para ajudar a mim e a Kelsey a começarmos a nossa família. Pensem nela como a irmãzinha da Kelsey."
Irmãzinha. As palavras foram um rebaixamento público. Ela não era mais a esposa, a outra metade do casal poderoso. Era a irmã mais velha e benevolente, que aceitava graciosamente aquela mulher mais jovem e fértil em sua vida. A humilhação era física, um calor que subiu do peito para o rosto.
A atenção de Bennett já se voltara para Aria. Ele a guiava pela multidão, apresentando-a a seus amigos poderosos, com a mão sempre em suas costas. Kelsey os observava, um par que orbitava o próprio sol, deixando-a para trás, no frio e na escuridão.
Ela o viu rir, uma risada genuína e espontânea que não ouvia havia anos. Observou-o colocar uma mecha do cabelo de Aria atrás da orelha dela, um gesto tão íntimo e terno que fez seu próprio coração se contrair.
Forçou-se a circular, a sorrir, a aceitar elogios pela "festa maravilhosa". Mas seus olhos sempre voltavam para os dois.
Duas mulheres, suas amigas do conselho do museu, cochichavam atrás de suas taças de champanhe.
Você acredita nessa audácia?, disse uma. "Trazer a amante para a festa de aniversário da esposa?"
Eu os vi, respondeu a outra, de olhos arregalados. "Semana passada, na clínica de fertilidade do Dr. Evans. Estavam de mãos dadas na sala de espera. Todo mundo ficou olhando."
Dr. Evans. O especialista em fertilidade mais exclusivo e caro da cidade. Aquele com quem Bennett alegara ser "impossível marcar uma consulta".
As peças do quebra-cabeça se encaixaram, compondo um retrato de traição tão vasto e elaborado que lhe tirou o fôlego. Não se tratava apenas de um caso recente. Era uma farsa calculada, de longo prazo. Uma vida dupla vivida às claras. Seu casamento perfeito não estava apenas rachado; sempre fora uma casca oca.