Tentei acreditar nele, até que o ouvi por acaso em uma festa. Ele confessava aos amigos que seu amor por mim era uma "conexão profunda", mas que o sentimento por Aria era "fogo" e "excitante".
Ele planejava um casamento secreto com ela no Lago de Como, na mesma vila que me prometera para o nosso aniversário.
Ele estava dando a ela um casamento, uma família, uma vida - tudo o que me negara, usando como desculpa a mentira sobre uma condição genética fatal. A traição foi tão completa que a senti como um choque físico.
Quando ele chegou em casa naquela noite, mentindo sobre uma viagem de negócios, eu sorri e interpretei o papel da esposa amorosa.
Ele não sabia que eu tinha ouvido tudo.
Ele não sabia que, enquanto planejava sua nova vida, eu já planejava a minha fuga.
E, com certeza, não sabia que eu acabara de ligar para um serviço especializado em uma única coisa: fazer pessoas desaparecerem.
Kelsey Jensen e Bennett Randolph eram o casal que toda Nova York invejava. Tinham tudo: uma ampla cobertura com vista para o Central Park, um sobrenome que abria qualquer porta e um romance que vinha desde a adolescência. Pareciam perfeitos. Contudo, por trás das portas fechadas de seu lar minimalista e repleto de arte, havia um vazio. Um silêncio. Eles não tinham filhos.
A ausência de um herdeiro não se devia à falta de tentativas por parte de Kelsey, mas à recusa de Bennett. Sua mãe morrera durante o parto. Uma condição genética rara e hereditária, ele dizia. Uma bomba-relógio que, afirmava, carregava no próprio corpo e que transformaria qualquer gravidez numa sentença de morte para a mulher que amava.
"Eu não posso te perder, Kels", ele dizia, a voz embargada pela tensão, a mão apertando a dela com força. "Eu não vou."
E, por anos, Kelsey aceitou. Amava-o o suficiente para sacrificar seu desejo mais profundo de ter uma família. Canalizou seus instintos maternos para o trabalho como curadora de arte, dedicando-se a artistas e suas criações.
Então veio o ultimato.
O pai de Bennett, o formidável patriarca do império empresarial da família Randolph, estava morrendo. Do leito do hospital, envolto pelo cheiro de antisséptico e de dinheiro antigo, ele proferiu sua ordem final.
"Eu preciso de um herdeiro, Bennett. A linhagem dos Randolph não pode terminar com você. Resolva isso, ou a empresa vai para o seu primo."
A pressão mudou tudo. Naquela noite, Bennett veio até Kelsey com uma proposta.
"Uma barriga de aluguel", disse ele, a voz cuidadosamente neutra. "É a única maneira."
Kelsey, que há muito perdera a esperança, sentiu uma fagulha se reacender. "Uma barriga de aluguel? Sério?"
"Sim", ele confirmou. "Um arranjo puramente clínico. Nosso embrião, o útero dela. Você será a mãe em todos os sentidos que importam. Assim, poupamos você do risco."
Ele garantiu que cuidaria de tudo. Uma semana depois, apresentou-a a Aria Diaz.
A semelhança foi imediata e perturbadora. Aria tinha os mesmos cabelos escuros e ondulados de Kelsey, as mesmas maçãs do rosto salientes, o mesmo tom de verde-esmeralda nos olhos. Era mais jovem, talvez uns dez anos, com uma beleza crua, ainda não lapidada, que contrastava fortemente com a elegância sofisticada de Kelsey.
"Ela é perfeita, não é?", disse Bennett, com um brilho estranho no olhar. "A agência disse que o perfil dela é uma excelente combinação."
Aria era quieta, quase tímida. Mantinha os olhos baixos e murmurava as respostas. Parecia intimidada pela opulência do apartamento deles, por eles.
"Este é um negócio puramente comercial, Kelsey", Bennett sussurrou para ela naquela noite, puxando-a para perto. "Ela é apenas um recipiente. Um meio para um fim. Você e eu, nós somos os pais. Isso é para nós."
Kelsey olhou para o marido, o homem que amara por mais da metade de sua vida, e escolheu acreditar nele. Precisava acreditar. Era a única forma de ter a família com que sempre sonhara.
Mas as mentiras começaram quase que imediatamente.
Os "ciclos de fertilização in vitro" exigiam que Bennett estivesse na clínica. Ele começou a perder jantares, depois noites inteiras.
"Apenas dando apoio à Aria", ele explicava em mensagens de texto tarde da noite. "Os hormônios a estão deixando emotiva. Os médicos disseram que é importante que a barriga de aluguel se sinta segura."
Kelsey tentou ser compreensiva. Cozinhava refeições e as enviava com Bennett. Comprava cobertores macios e roupas confortáveis para Aria, numa tentativa de diminuir a frieza do arranjo.
Seu aniversário chegou. Bennett havia prometido um fim de semana nos Hamptons, só os dois. Cancelou no último minuto.
"A Aria está tendo uma reação ruim à medicação", disse ele ao telefone, a voz apressada. "Eu preciso estar aqui. Desculpe, Kels. Eu compenso."
Ela passou o aniversário sozinha, comendo uma fatia de bolo da confeitaria, o silêncio da cobertura ensurdecedor.
O aniversário de casamento foi pior. Ele nem sequer ligou. Uma mensagem de texto chegou depois da meia-noite.
Emergência na clínica. Não me espere acordada.
Kelsey se pegava inventando desculpas para ele, tanto para os amigos quanto para si mesma. *É pelo bebê. É um processo estressante. Ele está tão envolvido quanto eu.* Agarrou-se a essas explicações como a uma tábua de salvação, recusando-se a ver a verdade que já corroía as bordas de sua vida perfeita.
A gota d'água veio numa terça-feira fria e chuvosa. Um táxi avançou o sinal vermelho e atingiu a lateral de seu carro. O impacto foi violento, um solavanco que a deixou tonta e trêmula. Seu primeiro instinto foi ligar para Bennett.
O telefone chamou, chamou e caiu na caixa postal.
"Bennett, eu sofri um acidente", disse ela, a voz trêmula. "Acho que estou bem, mas meu carro está destruído. Você pode... pode, por favor, vir?"
Ela esperou. Uma hora se passou. Depois, duas. Um policial gentil ajudou a chamar o guincho e a levou ao pronto-socorro para uma avaliação. O braço, torcido. O corpo, uma tela de hematomas que começavam a despontar.
Sentou-se na fria e estéril sala de espera, o telefone silencioso na mão. Ligou de novo. Caixa postal. E de novo. Caixa postal.
Finalmente, pegou um táxi para casa, a dor no braço uma pontada surda comparada à dor que sentia no peito. O apartamento estava escuro e vazio. Acendeu as luzes e viu uma taça de vinho pela metade na mesa de centro, uma leve marca de batom na borda. Não era o seu tom.
Tentou racionalizar. Talvez um amigo dele tivesse passado por ali. Talvez ele tivesse tido uma reunião. Mas a semente da dúvida, uma vez plantada, transformou-se numa hera espinhosa que envolvia seu coração.
Mais tarde naquela semana, Bennett organizou uma pequena reunião para alguns parceiros de negócios e amigos em um clube privado no centro da cidade. Kelsey, com o braço ainda dolorido pela torção e uma coleção de hematomas que clareavam, sentia um frio que não passava.
Ela chegou atrasada, retida por uma reunião na galeria. Ao se aproximar da sala reservada, ouviu o murmúrio baixo de conversas. Parou do lado de fora da porta, pretendendo entrar discretamente.
Foi quando ouviu a voz dele, clara e leve, vinda de dentro.
"Estou dizendo, nunca me senti assim antes", Bennett dizia. Seu tom era leve, cheio de uma paixão que ela não ouvia há anos. "Com a Kelsey é... é um amor profundo, uma conexão de alma. Mas com a Aria... é fogo. É estimulante."
Kelsey congelou, a mão pairando sobre a maçaneta. O sangue gelou em suas veias.
A voz de um de seus amigos, Mark, soou hesitante. "Tem certeza de que isso é uma boa ideia, Bennett? Manter as duas? Isso vai explodir na sua cara."
"Não vai", disse Bennett, com uma arrogância que revirou o estômago de Kelsey. "Kelsey vai ter o bebê dela, e vai ficar feliz. E eu vou ter a Aria. Posso dar às duas tudo o que elas querem."
Kelsey sentiu o chão fugir sob seus pés. Apoiou-se na parede, a madeira fria em contraste com o calor que queimava sua pele.
Então veio o golpe final, devastador.
"Estou planejando um casamento para a Aria na Europa depois que o bebê nascer", confessou Bennett, a voz baixando para um sussurro conspiratório. "Secreto. Só nós dois e alguns amigos dela. Já paguei o adiantamento de uma vila no Lago de Como. Milhões. Ela merece. Ela merece tudo."
A mesma vila para onde ele havia prometido levá-la no seu décimo quinto aniversário de casamento.
Uma onda de náusea a dominou. Cambaleou para trás, derrubando um vaso decorativo de um pedestal no corredor. Ele se estilhaçou no chão de mármore com um estrondo ensurdecedor.
A conversa lá dentro cessou. A porta se abriu de repente, e Bennett apareceu, o rosto uma máscara de pânico ao vê-la.
"Kelsey! O que você está fazendo aqui fora?"
Os amigos dele espiaram por trás, os rostos uma mistura de pena e alarme.
Kelsey se aprumou, o choque dando lugar a uma calma gélida que não sabia que possuía. Olhou para o marido, o homem que planejava um casamento secreto com sua barriga de aluguel, e forçou um sorriso.
"Acabei de chegar", disse, a voz firme. "Estava prestes a entrar."
Os amigos de Bennett tentaram disfarçar, mergulhando em uma conversa alta e forçada sobre o mercado de ações. Bennett correu para o lado dela, a mão em seu braço.
"Você está bem? Está pálida."
O toque dele queimou como brasa. Ela se desvencilhou.
"Só estou cansada", disse, os olhos vazios. "Foi um dia longo." Olhou por cima do ombro dele, para dentro da sala. "A... a Aria está aqui esta noite?"
A pergunta era um teste. Um último e desesperado apelo por um fiapo de honestidade.
O rosto de Bennett se endureceu. "Aria? Claro que não. Por que ela estaria aqui? Ela é só a barriga de aluguel, Kelsey. Uma ferramenta. Lembra?"
Ele disse a palavra "ferramenta" com uma naturalidade tão fria que lhe roubou o ar. Esse era o amor dele. Esse era o fogo.
Ela assentiu lentamente. "Certo. A ferramenta."
Virou-se, sem olhar para os rostos chocados dos amigos nem para a preocupação frenética dele.
"Não estou me sentindo bem", disse por sobre o ombro. "Vou para casa."
Saiu do clube, seus passos medidos e deliberados. A calma gélida se espalhava por suas veias, congelando a dor, transformando-a em algo duro e afiado.
No táxi a caminho do Upper East Side, uma notificação acendeu a tela do tablet que Bennett havia deixado no banco de trás. Era uma mensagem de Aria.
Acabei de pousar, amor. A suíte é incrível. Mal posso esperar para você chegar e me tirar desta roupa. A maratona de compras foi insana... você realmente gastou tudo isso comigo?
Bennett lhe dissera que iria a Boston para uma viagem de negócios de dois dias.
Kelsey encarou a mensagem, as palavras borrando através de um véu de lágrimas que se recusava a deixar cair. Ele não estava em Boston. Estava a caminho de Aria.
Ela não foi para casa. Pediu ao motorista que a levasse a outro endereço. Um prédio de escritórios elegante e discreto em Midtown. A placa na porta era simples: "Blackwood Privacy Solutions".
Entrou, as costas eretas, a determinação absoluta. A vida que conhecia havia acabado. Era hora de apagá-la por completo.