"Espere, Eva!" Ele me alcançou, seus dedos roçando meu braço bom. Seu toque era hesitante, quase medroso. "Não vá. Por favor. Eu posso te proteger aqui. Eu prometo."
Eu finalmente olhei para ele, olhei de verdade. Deixei toda a frieza que sentia transparecer em meus olhos. "Me proteger? Você sabia. Você sabia que a Bianca e as amigas dela estavam me atormentando esse tempo todo, não sabia?"
Ele não conseguiu encontrar meu olhar. Ele olhou para o chão, um rubor de vergonha subindo por seu pescoço. "Sim", ele admitiu, a voz mal um sussurro.
Uma risada áspera e crua escapou da minha garganta. O som era feio, mas era real. Ele ficou parado e assistiu a tudo, afogando-se em sua própria culpa e fraqueza, só intervindo quando achou que eu era a única a cruzar a linha.
Levantei minha mão boa e dei um tapa em seu rosto. O estalo ecoou na sala silenciosa.
"Você é patético", eu cuspi.
"Como você se atreve!" Bianca gritou, seu próprio drama esquecido em um acesso de fúria. "Ele é um Monteiro! Você não pode tocar nele, sua lixo!"
Ela avançou para mim. Eu nem me mexi. Simplesmente estiquei o pé, fazendo-a tropeçar, e enquanto ela caía para a frente, chutei-a com força na parte de trás do joelho. Ela caiu com um grito de dor.
Antes que ela pudesse se recuperar, agarrei seu cabelo novamente e a arrastei de volta para o balde do esfregão. Enfiei o rosto dela na água imunda mais uma vez, para garantir.
"Eu te avisei sobre dizer meu nome", eu sibilei, minha voz tremendo com uma raiva que esteve enterrada por duas vidas.
"Caio! Me ajuda!" ela gorgolejou, a voz sufocada pela água e pelo terror.
Mas Caio apenas ficou lá, congelado, a mão na bochecha ardendo. Ele parecia um fantasma, completamente paralisado pelo caos que ele mesmo causou.
"Eva?"
Uma voz de mulher, hesitante e cheia de um amor que eu não ouvia há décadas, chamou meu nome da porta.
Toda a força me abandonou. Soltei Bianca, que desabou no chão em um monte de soluços.
Eu me virei.
E lá estavam eles. Minha mãe, Catarina Ferraz, exatamente como eu me lembrava das fotos antigas, com os mesmos olhos azuis penetrantes e queixo determinado que eu via no meu próprio reflexo. Meu pai, Ricardo Ferraz, estava ao lado dela, a mão em seu ombro, o rosto uma máscara de preocupação. Eles eram titãs do mundo da tecnologia, poderosos e brilhantes, e eram meus pais.
Na minha primeira vida, eles morreram em um acidente de avião antes de me encontrarem. Um soluço prendeu na minha garganta. Desta vez, eles eram reais. Eles estavam aqui.
Os olhos da minha mãe examinaram a cena - o balde do esfregão, uma Bianca chorando, um Caio atordoado. Então seu olhar pousou em mim, no meu braço dobrado de forma não natural, nos hematomas no meu rosto.
Um grito sufocado escapou de seus lábios. "Oh, minha filha."
Ela tropeçou para a frente, tropeçando nos próprios pés em sua pressa para chegar até mim. Ela não se importou com seu terno elegante ou com o chão polido. Ela caiu de joelhos na minha frente, suas mãos pairando sobre meu braço quebrado, com medo de me tocar.
Lágrimas escorriam por seu rosto enquanto ela me puxava para um abraço feroz e desesperado. "Nós te encontramos", ela sussurrou em meu cabelo, seu corpo tremendo. "Oh, Deus, nós finalmente te encontramos."
Meu pai estava lá um segundo depois, seus braços fortes envolvendo nós duas, criando uma fortaleza de amor e segurança com a qual eu só tinha sonhado.
Eu estava em casa.