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Rogério não voltou para casa por dois dias. Celina ficou sozinha na mansão vazia, o silêncio sendo seu único companheiro.
Na sala, ela parou em frente à grande foto do casamento deles. Com as mãos firmes, ela a tirou da parede. A moldura de prata era pesada. Sem hesitar, ela a jogou na lixeira. O som abafado do vidro se quebrando foi a trilha sonora do fim.
O celular dela vibrou. Era uma mensagem de Rogério.
"Celina, preciso de um favor. Pegue o colar 'Estrela da Manhã' no meu cofre e peça para o motorista trazer para mim no Haras Medeiros. É o aniversário da Isabella."
O 'Estrela da Manhã' . Um colar de diamantes que ele lhe dera no primeiro aniversário de casamento, dizendo que ela era a única estrela dele.
Celina olhou para a mensagem e riu. Uma risada sem humor, cheia de dor.
Ela foi até o cofre, pegou o colar e o entregou ao motorista, que a esperava na porta.
"Eu vou com você" , disse ela, segurando a pasta com os papéis do divórcio. O motorista hesitou, mas não ousou desobedecer.
O carro parou em frente a uma propriedade luxuosa. Música alta e risadas flutuavam no ar. Era uma festa grandiosa.
Assim que Celina entrou, todos os olhares se voltaram para ela. Ela usava um vestido simples, sem maquiagem, o cabelo preso de qualquer jeito. Ela era um borrão cinza em um mar de cores e brilho.
Os sussurros começaram imediatamente.
"O que ela está fazendo aqui? Que sem noção."
"Ouvi dizer que ela empurrou a Isabella. Quase fez a coitada perder o bebê."
"Ela não se enxerga? Rogério já está com outra, grávida. Por que ela insiste?"
Celina ignorou a todos. Seus olhos estavam fixos no centro da festa, onde Rogério e Isabella estavam.
Rogério a viu e franziu a testa. "O que você está fazendo aqui?"
"Feliz aniversário, Isabella" , disse Celina com um sorriso frio. "Vim trazer o seu presente."
Ela entregou a caixa de veludo. Os olhos de Isabella brilharam. Ela abriu a caixa e ofegou ao ver o colar.
"Rô, que lindo! Coloca em mim?" , ela pediu, manhosa.
Rogério olhou para Celina por um segundo, um brilho de algo que parecia culpa em seus olhos. Mas ele pegou o colar e o prendeu no pescoço de Isabella.
Isabella se virou e deu um beijo estalado na bochecha dele, o olhar triunfante fixo em Celina.
Celina não disse nada. Apenas observou a cena.
De repente, Isabella cambaleou de novo, como se fosse desmaiar. "Ai... Rô... estou tonta."
Rogério a segurou imediatamente. "O que foi? Você está bem?"
Nesse momento, Celina estendeu a pasta para ele.
"Assine isso."
"O que é isso agora, Celina?" , ele disse, irritado.
Antes que ela pudesse responder, Isabella gemeu, segurando a barriga. "Ai, minha barriga... está doendo... Rô, me leva para o hospital, por favor!"
O pânico tomou conta de Rogério. Ele pegou a caneta da mão de Celina, assinou o papel sem sequer olhar e jogou a pasta de volta para ela.
"Pronto! Agora pare de me incomodar!"
Ele pegou Isabella no colo e correu em direção à saída.
Celina ficou parada, segurando o acordo de divórcio assinado. Ela se virou para ir embora.
Enquanto caminhava pelo salão, alguém deliberadamente colocou o pé em seu caminho. Celina tropeçou e caiu com força no chão. Sua cabeça bateu na base de metal de uma mesa.
Uma dor lancinante explodiu em sua testa. O mundo girou.
Rogério, que estava quase na porta, ouviu o barulho e se virou. Ele viu Celina no chão, o sangue escorrendo por seu rosto. Por um instante, ele hesitou, deu um passo na direção dela.
Mas Isabella se agarrou a ele, chorando. "Rô, a dor está piorando! Por favor, vamos logo! Eu não quero perder nosso filho!"
O rosto de Rogério se fechou. Ele deu as costas para Celina e saiu sem olhar para trás.
Celina ficou caída no chão. O sangue turvava sua visão. Ao redor dela, apenas olhares de desprezo e zombaria. Ninguém se moveu para ajudá-la.
Com as mãos trêmulas, ela se apoiou no chão e se levantou. O mundo ainda girava. Foi quando ela notou. Seu anel de casamento, que andava frouxo em seu dedo há meses, não estava mais lá. Tinha se perdido na queda.
Que assim seja, pensou ela.
Ignorando os olhares, ela mancou para fora da festa, deixando um rastro de sangue no chão polido.
Na rua, ela parou um táxi.
"Para o hospital, por favor" , disse ela, a voz fraca.
O motorista se assustou. "Minha senhora, sua cabeça está sangrando!"
Celina passou a mão na testa. Seus dedos voltaram vermelhos. Ela olhou para o próprio sangue e, por alguma razão, sorriu. Um sorriso quebrado e assustador.
"Não se preocupe" , disse ela. "Eu não vou morrer."