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No hospital, enquanto uma médica costurava o corte em sua testa, a TV da sala de emergência começou a exibir um noticiário urgente.
"Fontes próximas à família Nunes revelam que Celina Mascarenhas, esposa do magnata Rogério Nunes, teria assumido publicamente a culpa por um vídeo íntimo para encobrir um caso extraconjugal. A fonte ainda afirma que ela realizou um aborto secreto após descobrir que o filho não era de seu marido."
Celina sentiu o mundo escurecer. A médica mal teve tempo de terminar o último ponto quando a porta da sala foi arrombada com um estrondo.
Gertrudes Nunes, a mãe de Rogério, entrou como um furacão, o rosto distorcido pela fúria. Sem uma palavra, ela desferiu um tapa forte no rosto de Celina.
"Sua vagabunda! Como ousa envergonhar o nome da minha família?"
Dois homens de preto agarraram Celina pelos braços antes que ela pudesse reagir.
"Levem-na para a fazenda. Ela precisa aprender uma lição no salão ancestral."
Celina foi arrastada para fora do hospital e jogada no banco de trás de um carro. Eles a levaram para a velha fazenda da família, um lugar que ela só tinha visitado uma vez.
Eles a jogaram no chão de pedra do salão ancestral, um lugar escuro e abafado que cheirava a mofo e incenso.
"Ajoelhe-se!" , Gertrudes ordenou.
Celina se recusou a obedecer. Os seguranças forçaram seus joelhos contra o chão frio, a dor ecoando pelo seu corpo já machucado.
Gertrudes pegou o celular e fez uma videochamada para Rogério.
"Rogério, olhe para a vergonha que você trouxe para dentro desta casa!" , ela gritou. "Uma mulher adúltera que abortou nosso neto!"
Do outro lado da tela, o rosto de Rogério parecia cansado e confuso.
Gertrudes continuou seu show. "Ela ainda teve a audácia de aparecer na festa da Isabella e causar uma cena! Você é muito mole com ela, meu filho!"
"Mãe, o que a senhora vai fazer?"
Celina ergueu o rosto, o sangue seco em sua testa misturado com suor. "Rogério! É mentira! Eu nunca te traí! O bebê..."
A voz dele soou baixa e distante. "Celina... aguente firme. Mamãe só está nervosa. Eu vou para aí assim que puder e te recompenso."
A chamada foi encerrada. Recompensá-la? A palavra soava como um insulto.
O salão ancestral era um forno. O sol do meio-dia batia no telhado de metal, transformando o lugar em uma estufa. Celina ficou ajoelhada no chão de pedra quente por horas. O suor escorria pelo seu corpo, misturando-se com o sangue em sua testa.
De repente, uma dor aguda, como uma faca, atravessou seu ventre.
Ela olhou para baixo. Um líquido quente e vermelho começou a manchar seu vestido.
Seu filho. Ela estava perdendo seu filho.
O desespero a dominou. Ela se arrastou até a porta maciça de madeira e começou a bater com os punhos.
"Socorro! Meu bebê! Por favor, ajudem meu bebê!"
A voz de Gertrudes soou fria do outro lado da porta. "Deixe esse sangue impuro escorrer. É melhor que não sobre nada dessa vergonha."
As unhas de Celina se quebraram contra a madeira, deixando rastros de sangue.
"É seu neto! É filho do Rogério!" , ela gritou, a voz rouca de dor e desespero.
A única resposta foi o som dos passos de Gertrudes se afastando.
Celina passou a noite inteira em uma poça do seu próprio sangue. A dor física era imensa, mas a dor em sua alma era insuportável.
Quando o dia amanheceu, a porta finalmente se abriu. Dois homens entraram e a levaram, sem dizer uma palavra, para uma clínica clandestina.
Ela se lembrava de estar em uma mesa de cirurgia, os olhos abertos, sentindo a vida se esvair de seu corpo.
Seu celular vibrou na bolsa ao lado. Era uma mensagem de Rogério.
"Me desculpe. Eu vou explicar tudo. Apenas me espere."
Uma lágrima silenciosa escorreu pelo canto de seu olho. Esperar? Não havia mais nada para esperar.
Dias depois, quando finalmente teve alta, a primeira coisa que Celina fez foi buscar sua certidão de divórcio. O documento em suas mãos era a única coisa real em meio ao pesadelo.
Então, ela pegou o celular e discou um número que não usava há cinco anos. Um número que ela prometeu a si mesma nunca mais ligar.
O telefone tocou três vezes antes de uma voz masculina, profunda e com um toque de diversão, atender.
"Ora, ora... se não é a minha filha pródiga. Pensei que tinha esquecido o número do seu velho pai."
Celina fechou os olhos. "Pai..." , ela sussurrou, a voz quebrada. "Eu preciso de você."
Uma semana depois, Isabella De Macedo, com a barriga proeminente e um sorriso radiante, organizou uma coletiva de imprensa para anunciar seus futuros projetos e limpar sua imagem.
Ela estava no auge de sua glória, braço dado com Rogério, respondendo às perguntas dos jornalistas com charme.
"Sim, Rogério e eu estamos muito felizes. Planejamos nos casar assim que o divórcio dele for finalizado."
Nesse momento, as portas do salão se abriram.
Celina entrou. Ela usava um vestido preto simples, mas andava com uma confiança que fez o salão inteiro silenciar. O curativo em sua testa era um lembrete sombrio de tudo o que ela passou.
Todos os flashes se viraram para ela.
Rogério ficou pálido. "Celina? O que você está fazendo aqui? Vá embora!"
Ela caminhou calmamente até ele e lhe entregou a certidão de divórcio.
"Estamos divorciados, Rogério."
Ele agarrou o pulso dela, os olhos em pânico. "Não faça uma cena, por favor. Depois conversamos. Eu te recompenso, eu juro."
Antes que ele pudesse continuar, as portas do salão se abriram novamente com um estrondo.
Um carro de luxo, um modelo que poucos ali já tinham visto pessoalmente, parou na entrada. Um homem de meia-idade, imponente e com uma aura de poder inquestionável, saiu do carro.
Um murmúrio percorreu a multidão.
"Meu Deus... é Caetano Lúcio!"
"O que o rei do agronegócio está fazendo aqui?"
Isabella, ao vê-lo, abriu um sorriso radiante. Ela largou o braço de Rogério e correu na direção do homem.
"Tio Caetano! Que surpresa maravilhosa! O senhor veio me prestigiar?"
Caetano Lúcio a ignorou completamente. Seus olhos estavam fixos em Celina. Ele caminhou até ela e estendeu a mão.
Celina, com a naturalidade de quem fez isso a vida toda, encaixou seu braço no dele.
Rogério correu até eles, a voz trêmula. "Celina, você enlouqueceu? Ele é o tio da Isabella! Saia de perto dele!"
Caetano olhou para Rogério. Um olhar frio, cortante.
"Minha filha?" , ele disse, a voz ressoando pelo salão silencioso. "Um verme como você não merece nem limpar os sapatos dela."
O queixo de todos caiu.
Celina se virou para Rogério, o rosto sereno, a voz clara.
"Rogério, eu te apresento. Caetano Lúcio. Meu pai."
O rosto de Isabella ficou branco como papel. O sorriso congelou em seus lábios. Ela finalmente entendeu.