Comecei a arrumar minhas coisas. Roupas, sapatos, bolsas. Coisas que poderiam ser substituídas. Eu não me importava com elas.
O que eu queria estava na minha caixa de joias. Heranças de família, peças com histórias, com valor sentimental.
Abri a caixa de veludo azul e meu coração parou.
Faltava uma peça. A mais importante.
Um colar de esmeraldas que pertenceu à minha avó. Uma joia delicada, com um fecho único que meu avô mandou fazer. Era inconfundível.
Meu sangue gelou. Procurei freneticamente pela caixa, pela penteadeira, pelo chão. Nada.
Corri para a sala. Dante e Sueli ainda estavam na mesa, em um silêncio constrangedor.
"Onde está?" , perguntei, a voz tremendo de raiva.
"Onde está o quê, Liliana?" , Dante perguntou, parecendo cansado.
"Meu colar. O colar de esmeraldas da minha avó."
Dante franziu a testa, confuso. Mas Sueli... Sueli levou a mão instintivamente ao pescoço.
E lá estava ele. Brilhando contra a pele dela.
Ela estava usando meu colar.
"Tire isso. Agora" , eu disse, a voz baixa e perigosa.
Sueli forçou um sorriso trêmulo.
"Lili, eu só peguei emprestado. Achei tão lindo... me lembrou de um que minha mãe tinha."
"Minha avó está morta. E a sua também, provavelmente. Tire o colar."
"Liliana, não precisa ser grossa" , Dante interveio. "Ela só estava admirando."
"Admirando no pescoço dela? Dentro da minha casa? Isso tem outro nome, Dante. Chama-se roubo."
A palavra pairou no ar. Sueli começou a chorar.
"Eu não sou uma ladra! Eu ia devolver! Eu juro!"
"Eu não me importo! Tira!" , eu gritei, avançando na direção dela.
Dante se colocou entre nós. "Já chega! Peça desculpas a ela!"
"Pedir desculpas? Ela roubou uma herança de família e eu tenho que pedir desculpas?"
A raiva me cegou. Empurrei Dante para o lado e fui para cima de Sueli.
"Me dá isso!"
Na confusão, as mãos de Sueli se atrapalharam com o fecho. Ela puxou com força. O fio fino de platina arrebentou.
O colar caiu no chão de mármore com um som doentio.
As esmeraldas, pedras da cor da esperança, se espalharam pelo chão como lágrimas verdes.
O mundo parou.
Eu olhei para os cacos da minha herança, os cacos do meu casamento, os cacos da minha paciência.
E então, eu olhei para Sueli. Seu rosto não mostrava remorso. Mostrava triunfo.
Naquele momento, eu a odiei com cada fibra do meu ser. Avancei e dei um tapa em seu rosto.
O som ecoou na sala.
A reação de Dante foi instantânea. Ele me agarrou pelo braço e, com uma força que eu não conhecia, me acertou no rosto.
Um tapa.
Meu marido me bateu. Para defender a amante dele.
Caí no chão, mais pelo choque do que pela força do golpe. Meu rosto ardia. O gosto de sangue encheu minha boca.
Dante me olhou, horrorizado com o que tinha feito.
"Liliana... eu..."
Mas era tarde demais. Algo dentro de mim se quebrou e se solidificou em algo duro, frio e inquebrável.
Levantei a cabeça e olhei para ele, para a mulher choramingando no sofá, para as esmeraldas quebradas no chão.
"Você vai se arrepender disso, Dante" , eu disse, a voz calma, quase um sussurro. "Vocês dois vão."
Peguei meu telefone. Disquei um número que sabia de cor.
"Igor? Preciso de um favor. Traga sua melhor equipe de demolição para o meu apartamento. Agora."