A Vingança Invisível da Herdeira
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Capítulo 2

Eu não fui para casa. Não conseguia. Em vez disso, fui para o único lugar que sabia que eles estariam. O velho jequitibá na beira do Parque Ibirapuera, o lugar que Dante uma vez me disse ser o ponto de encontro de infância dele e de Kíria. Ele disse isso com desdém, como se fosse uma memória boba. Agora eu sabia a verdade.

A chuva começou a cair, uma garoa fria e miserável que encharcou meu vestido fino. Eu os vi à distância. Kíria Bittencourt chorava em seus braços, seu corpo tremendo com soluços dramáticos.

Dante a segurava como se ela fosse feita de cristal, sua expressão terna e cheia de um amor que ele nunca me mostrou.

"Ela descobriu", Kíria lamentou. "A Elisa sabe que é a verdadeira herdeira dos Bittencourt. Ela foi até a mansão. Ela vai tirar tudo de mim!"

Parei, escondida pelas sombras das árvores. Outra mentira. Outra peça do quebra-cabeça que eu nunca soube que existia. Eu era uma Bittencourt? A filha do magnata hoteleiro, Beto Bittencourt? Era impossível. Eu cresci em um orfanato.

"Shh, está tudo bem", Dante a acalmou. "Eu vou resolver isso. Eu te disse que resolveria."

"Mas como, Dante?", ela chorou. "E o bebê? Você me prometeu um bebê!"

O bebê. Nosso bebê. Aquele que eu perdi em um aborto espontâneo há três meses. A perda que me quebrou, aquela pela qual Dante me abraçou, sussurrando que tentaríamos de novo.

"Kíria, me escute", disse ele, a voz baixa e intensa. "Eu nunca amei a Elisa. Eu a conquistei por você. Eu precisava que ela gerasse nosso filho para que você não precisasse pausar sua carreira."

O mundo girou. Meu estômago se revirou violentamente.

Não era nosso bebê. Era o bebê deles.

Eu fui apenas o recipiente. Uma barriga de aluguel involuntária.

"Tudo foi por você", ele sussurrou, acariciando o cabelo dela. "Tudo."

Um soluço estrangulado escapou dos meus lábios. Lembrei-me das flores que ele me trazia toda semana, das conversas tarde da noite, do jeito que ele segurava minha mão. Lembrei-me dele massageando minha barriga inchada, conversando com o bebê lá dentro, nosso bebê.

Era tudo falso. Uma decepção calculada e cruel.

"Mas e a criança?", Kíria insistiu, afastando-se para olhá-lo. "Ela se foi."

"Podemos ter outra", disse Dante, a voz dura. "Mas há algo que você não sabe. O aborto não foi um acidente. A transferência de embriões... era o seu óvulo, mas não era o meu sêmen. Era de um doador. Eu não suportava a ideia do nosso filho crescendo dentro dela."

A chuva se intensificou, caindo em lençóis, grudando meu cabelo no rosto. O frio penetrou em meus ossos, mas eu não o senti. Tudo o que senti foi um horror oco e retumbante. Ele não apenas me usou. Ele me violou da maneira mais profunda imaginável. A criança pela qual eu chorei, a criança que eu acreditava ser um pedaço dele e de mim, era filha de um completo estranho.

Meus joelhos cederam e eu caí no chão molhado, minhas mãos afundando na lama. Lembrei-me de como ele cuidou de mim durante a gravidez. Ele cozinhava para mim, garantia que eu tomasse minhas vitaminas, me proibia de dançar. Não era por amor a mim. Era pela carga preciosa que eu carregava para outra mulher.

Uma onda de náusea me atingiu e eu vomitei, o gosto amargo da traição enchendo minha boca. Tossi, cuspindo bile e lágrimas.

Através da chuva, eu o vi se ajoelhar.

Ele tirou uma caixa de veludo.

"Kíria Bittencourt", disse ele, a voz ressoando com sinceridade. "Eu te amei a vida inteira."

"Mas o que as pessoas vão dizer?", ela sussurrou, suas lágrimas subitamente desaparecidas, substituídas por um olhar calculista. "Sobre a Elisa..."

"Não dirão nada", declarou Dante. "Porque ninguém nunca saberá. Beto Bittencourt já concordou. Ele precisa da aliança com o Grupo Lobo de Mídia mais do que precisa de uma filha perdida. Você continuará sendo a herdeira Bittencourt. E Elisa Castro... ela vai desaparecer."

Ele abriu a caixa, revelando um anel de diamante que brilhava mesmo na luz fraca e chuvosa. "Eu cuidei de tudo. Ela não é nada. Você é tudo. Case-se comigo."

O rosto de Kíria se abriu em um sorriso triunfante. Ela jogou os braços ao redor do pescoço dele e o beijou.

Não foi um beijo gentil. Foi uma reivindicação faminta e possessiva. Eles se agarraram na tempestade, uma imagem perfeita de amor e vitória.

Eles finalmente se separaram, rindo, e foram embora, me deixando sozinha na lama e na chuva.

O som que saiu da minha garganta não foi um soluço. Foi uma risada. Um som quebrado e histérico que ecoou no parque vazio.

Minha vida inteira era uma piada. Uma tragédia escrita e dirigida por eles.

Eu fui uma tola. Uma peça de xadrez. Uma barriga de aluguel. Um fantasma.

Mas enquanto eu estava ali, algo dentro de mim mudou. O desespero começou a se transformar em uma raiva fria e dura.

Eles tiraram tudo de mim. Meu amor, meu corpo, meu filho, minha carreira, minha própria identidade.

Peguei meu celular, meus dedos tremendo, mas determinados. Encontrei o e-mail do Teatro Municipal, aquele que me oferecia uma posição de primeira bailarina, aquele que eu ignorei por Dante.

Meu polegar pairou sobre o botão de resposta.

Eles achavam que eu ia desaparecer. Eles achavam que eu não era nada.

Eu lhes mostraria. Eu faria Dante Lobo assistir enquanto eu renascia das cinzas em que ele me deixou. Eu pegaria de volta tudo o que ele e Kíria roubaram.

Eu o faria se arrepender do dia em que ouviu o nome Elisa Castro.

Digitei minha resposta. "Eu aceito."

Então me levantei, a lama e a chuva escorrendo de mim, e saí do parque, deixando a garota que amava Dante Lobo para trás para sempre.

            
            

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