Capítulo 4 O jogo havia começado

Após ter decidido sair e passar horas vagando pelas ruas, Alicia finalmente entrou em um bar.

O lugar estava lotado, mas ela mal percebeu e, sentando-se, pediu uma bebida e deixou que o gosto ardente do álcool queimasse sua garganta, silenciando o barulho de seus pensamentos.

Uma taça levou à outra, e ela logo perdeu a conta de quantas havia tomado. O ambiente parecia envolvê-la como um refúgio provisório: a penumbra suave, o aroma de uísque caro, a música lenta ecoando ao fundo.

O que Alicia não sabia era que sua escolha de estar ali mudaria tudo.

Nas sombras do bar, um par de olhos a observava sem piscar. Eram azuis, de um tom profundo e ameaçador, como o mar em noite de tempestade - olhos que carregavam poder, perigo e segredos insondáveis.

Dante Vittorio Moretti

O nome, conhecido em toda a Europa, carregava peso suficiente para intimidar qualquer um.

Dono de mais da metade da Itália, ele investia nos setores mais lucrativos do continente: hotéis, cassinos, universidades, cruzeiros, restaurantes.

Tudo o que gerava riqueza estava sob seu controle, fazendo dele o maior acionista do banco mais poderoso da Suíça.

Para muitos, intocável. Para outros, perigoso.

Ninguém conseguiria chegar tão alto sem fazer inimigos.

Aos 28 anos, Dante era temido e invejado em igual medida, com uma fila de gente querendo destruí-lo.

Filho de Leonardo Moretti, homem cruel, e de Francesca Vittorio, mulher calculista e distante, crescera sem espaço para fragilidades.

Com a frieza herdada e sua própria determinação, ele ergueu um império de ferro que ninguém ousava desafiar.

Dante era imponente não apenas pelo poder, mas também pela presença.

Quase dois metros de altura, ombros largos, rosto anguloso, cabelo negro sempre impecável, e um olhar azul-escuro tão frio que parecia atravessar a alma.

O terno sob medida, o relógio Patek Philippe que valia mais do que um apartamento em Roma, e a forma como segurava o copo de uísque apenas completavam a figura de um homem impossível de ignorar.

Nesse momento, seus olhos estavam fixos em Alicia Michelle Morgan, que ele reconheceu de imediato.

Porém, não era apenas a beleza inegável da jovem que o fazia reconhecê-la - na verdade, ele sabia tudo sobre as famílias mais influentes da Europa.

Todos conheciam Alessandro Morgan, pois seu poder se estendia pela Inglaterra, Estados Unidos e Espanha.

Mas não foi o sobrenome que o prendeu. Foi a dor que se escondia no olhar dela, uma tristeza tão evidente que atravessava qualquer máscara.

Apesar de nunca ter sido do tipo compassivo, Dante sentia como se estivesse sendo puxado até aquela mulher triste, e resolveu não ignorar seus instintos.

Alicia, já entorpecida pelo álcool, sentiu um arrepio subir-lhe pela espinha, enquanto tinha a sensação de estar sendo observada.

Mesmo levemente embriagada, ela não podia ignorar esse sentimento e ergueu a cabeça levemente.

Lá estava ele: do outro lado do bar, um homem de terno negro a encarava sem piscar.

O olhar dele era tão intenso que a fez estremecer.

Não era simples desejo, nem mera curiosidade.

Era algo mais profundo, perturbador, impossível de decifrar.

O coração de Alicia disparou, e por um instante, ela pensou em sair dali.

Então, levantou-se, mas ele manteve o olhar fixo, se inclinando levemente para a frente como se analisasse cada um de seus movimentos.

De repente, o homem estalou os dedos, como se esse simples gesto pudesse mover o mundo à sua vontade.

Um segundo depois, seu assistente surgiu imediatamente, curvando-se em respeito.

"Diga, senhor."

Com a voz soando como o rugido de um predador escolhendo sua presa, e sem tirar os olhos de Alicia Michelle, ele disse: "Aquela ali é uma Morgan, e quero que você descubra tudo sobre ela para mim."

O assistente acenou com a cabeça, respondendo: "Sim, senhor."

"E encontre um jeito de colocá-la nas minhas mãos. Não importa como."

O assistente se afastou em silêncio, deixando Dante sozinho com seu uísque.

Alicia, do outro lado, sequer imaginava que havia atraído a atenção do homem mais perigoso da Europa. E quando Dante Moretti colocava os olhos em algo, jamais desistia.

Dois dias depois, em Milão, Dante observava a cidade de seu escritório, no último andar de um arranha-céu.

O espaço refletia seu poder: janelas de vidro exibindo o brilho da metrópole, o aroma marcante de mogno e couro no ar, a penumbra elegante iluminada apenas pelo abajur de sua mesa.

Com o copo de uísque na mão, ele fitava a tela do celular quando Matteo Ricci, seu fiel assistente, entrou carregando uma pasta.

Se virando para ele, Dante perguntou, com a voz fria e impaciente: "Conseguiu?"

Matteo acenou com a cabeça e lhe entregou o relatório.

"Aqui tem tudo o que você precisa saber sobre Alicia Michelle Morgan."

Dante abriu a pasta e leu com calma, mas a cada linha, seu semblante se tornava mais tenso.

Alicia Michelle Morgan – herdeira de um Império. Nacionalidade: Estadunidense. Família: Morgan

Pai: Alessandro Morgan, ex-presidente da Morgan Enterprises, uma das corporações mais poderosas da Europa. Mãe: Eleanor Morgan, ex-vice-presidente da mesma corporação em Londres.

Irmãos: Aaron Morgan – Atual CEO da Morgan Enterprises England. Alexandra Morgan – Diretora de Relações Internacionais na Morgan Enterprises USA. Sofía Morgan – Estudante de Arquitetura na Universidade de Madri.

Formação: Finanças e Administração em Harvard; mestrado em Comércio Internacional pela Universidade de Londres.

Histórico recente: até poucos dias atrás, Alicia estava noiva de Marcus Aponte, um empresário ambicioso que via no casamento com uma Morgan a oportunidade de consolidar sua ascensão.

A cerimônia seria realizada na Mansão Morgan, na Itália, mas, uma hora antes do evento, Alicia descobriu que Marcus a traía com sua melhor amiga, Viviana.

O escândalo a levou a cancelar o casamento imediatamente, abandonar a mansão e confrontar o noivo em seu apartamento, onde, em um gesto definitivo, atirou-lhe o anel de noivado e encerrou de vez a relação.

Desde então, decidiu permanecer na Itália, apesar da pressão da família para que retornasse, mantendo-se distante dos negócios do império Morgan.

Matteo permaneceu em silêncio enquanto Dante revisava as informações, mas podia sentir a atmosfera ficando mais densa a cada segundo.

Até que finalmente Dante deixou a pasta cair sobre a mesa e cerrou o maxilar.

Agora, o nome Marcus Aponte despertava uma raiva fria dentro dele.

"Interessante", ele murmurou, tomando outro gole de uísque.

"Eu sabia que esse nome chamaria sua atenção", Matteo comentou.

Um sorriso irônico curvou os lábios de Dante, pois Marcus Aponte não era apenas um empresário ambicioso e inescrupuloso.

Dante odiava aquele homem com cada fibra do seu ser.

Oito anos antes, Dante havia amado uma única mulher: Alana Rossetti.

Linda, doce e de uma família prestigiosa, Alana foi a única pessoa que conseguiu romper a armadura de Dante.

Por mais de um ano, eles viveram um romance apaixonado, com promessas de um futuro juntos.

Mas Marcus, com sua lábia venenosa, se intrometera, a seduzindo na ausência de Dante e a engravidando.

Dante não soube da traição de imediato, mas, quando voltou da viagem, encontrou Alana devastada, com os olhos inchados de tanto chorar.

Ela implorou por perdão, dizendo que tudo havia sido um erro, que Marcus a manipulara, e, apesar da dor que lhe consumia o peito, Dante estava disposto a perdoá-la. Estava pronto, até mesmo, para aceitar aquela criança como se fosse sua.

Mas então veio o golpe mais cruel.

Com a covardia que sempre o caracterizara, Marcus Aponte se encarregou de garantir que Alana jamais teria aquele filho.

O homem comprou a cumplicidade da própria família dela, que a pressionou, ameaçou e a isolou até que não lhe restasse alternativa. O bebê nunca nasceu.

Alana tampouco foi a mesma depois disso.

Dante tentou resgatá-la, lutar contra o peso que a esmagava, mas tudo foi em vão. Poucos meses depois, ela desapareceu de sua vida para sempre.

Desde então, Dante jurara vingança.

Agora, o destino colocava diante dele a oportunidade perfeita.

Alicia Michelle Morgan, humilhada e traída pelo mesmo homem. Uma mulher que poderia ser tanto sua arma quanto seu caminho para finalmente destruir Marcus Aponte.

Dante recostou-se na cadeira, fitando a foto de Alicia no relatório.

"Ele a quebrou com essa traição, não foi?", ele murmurou.

"Tudo indica que sim", Matteo respondeu.

"Perfeito."

Então, Dante bebeu o último gole de uísque antes de olhar para seu assistente com determinação.

"Encontre uma forma de me aproximar dela."

Matteo franziu a testa.

"Senhor, se ela descobrir suas intenções..."

Dante o interrompeu com um olhar penetrante, dizendo: "Não preciso que ela descubra nada, apenas que confie em mim."

Matteo suspirou e concordou.

"Vou cuidar de tudo."

Caminhando até a janela, Dante fixou o olhar na noite de Milão, reconhecendo que o jogo havia começado e, desta vez, ele seria o único no controle.