Capítulo 5 Entre a cruz e a espada

Alicia Michelle Morgan sempre fora uma mulher astuta. Criada no coração do império da família, aprendera desde cedo os jogos de poder, as artimanhas da ambição e o gosto amargo da traição. Nada parecia capaz de surpreendê-la - até que se viu diante de uma armadilha tecida com precisão quase cirúrgica por Matteo Rossi.

Os Morgan preferiam manter distância dos assuntos da Família Moretti na Itália, mas quando sua secretária anunciou que Matteo estava em sua empresa, um desconforto percorreu o estômago de Alicia como um presságio.

Enquanto ela ignorava as inúmeras ligações de Marcus e deixava o celular de lado, Alicia concluiu que nada de bom poderia sair de seu encontro com Matteo.

O homem era tão calculista que, sem jamais agir por impulso, observava e estudava cada movimento e movia as peças como em um jogo de xadrez. E neste tabuleiro, Alicia Michelle era a rainha a ser sacrificada.

Matteo compreendia que não poderia obrigá-la a se aproximar de Dante, pois Alicia tinha caráter, firmeza, uma mente perspicaz demais para ser dobrada.

Por isso, ele escolheu o caminho mais seguro: garantir que ela não tivesse alternativa.

A Morgan Enterprises possuía dezenas de subsidiárias espalhadas pelo mundo, e Matteo cuidara de fazer com que a mais estratégica da Europa mergulhasse em dificuldades financeiras. Nada real, claro - os Morgan tinham solidez suficiente para enfrentar qualquer turbulência. Mas Matteo trabalhara nas sombras, com transações disfarçadas, perdas forjadas como falhas administrativas, investimentos que evaporavam no papel.

Quando Alicia assumiu a empresa, na ausência de Aaron, se deparou com um relatório alarmante: as contas estavam no vermelho e, se nada fosse feito de imediato, a subsidiária, essencial para o comércio internacional, entraria em colapso.

Foi nesse exato ponto que Matteo avançou sua peça.

Frente a frente com ele, Alicia disse: "Senhor Ricci, devo admitir que é uma surpresa vê-lo na minha empresa."

"Estou ciente dos seus problemas, senhorita Morgan. Não apenas financeiros, mas também pessoais. Mas fique tranquila, não vim aqui por isso."

"Ainda bem."

Matteo se inclinou, pousando uma pasta sobre a mesa enquanto dizia: "Eu tenho a solução para os seus problemas empresariais."

Alicia cruzou os braços, arqueando as sobrancelhas com desdém.

"Não preciso da sua ajuda."

Matteo sustentou o sorriso e respondeu: "Tem certeza? Porque, se em quarenta e oito horas não houver uma injeção de capital, essa subsidiária declarará falência. E, quando seu irmão voltar, encontrará uma catástrofe impossível de remediar."

O coração de Alicia disparou, pois ela sabia que ele não estava mentindo. As opções existiam, mas todas exigiam tempo - e tempo era justamente o que ela não possuía.

Suspirando, Alicia olhou para a pasta.

"O que é isso?"

Matteo aproximou-se um pouco mais, explicando: "Um contrato de investimento. Alguém disposto a salvar sua empresa. Claro, em troca de uma condição."

Folheando rapidamente as páginas, Alicia sentiu suas mãos tremerem.

O investidor era Dante Moretti.

Incrédula, ela ergueu os olhos e disse: "Isso só pode ser uma piada."

Sorrindo, Matteo respondeu: "De jeito nenhum. Dante está pronto para te salvar."

Um gosto amargo subiu à garganta de Alicia, pois ela sabia o que Dante queria. Há anos corria o rumor de que ele não buscava amantes ocasionais, mas uma esposa - uma mulher que se tornaria parte de sua vida, sua posse mais valiosa.

Por vezes, em tom de brincadeira, Alicia comentara com Viviana que acabaria casando com ele, mas no fundo jurara a si mesma que jamais cairia nessa armadilha. Agora, diante dessas páginas, percebia que Dante encontrara o meio perfeito de encurralá-la.

"Isso não é um investimento, é uma compra."

Matteo deu de ombros. "Se preferir chamar assim... Dante só deseja uma coisa, que você se case com ele. A transação é simples."

A fúria incendiou o sangue de Alicia.

"Nunca."

Matteo suspirou, como se lamentasse pela resposta.

"Seja realista, Alicia. Você não tem escolha. Nenhum banco concederá crédito em tão pouco tempo, nenhum investidor sério colocará dinheiro em uma filial em crise, e não creio que queira arrastar seus pais e seu irmão para esse problema, já que você acabou de envolvê-los em um escândalo ao ser enganada. Dante é sua única alternativa. Ou prefere deixar a empresa falir e obrigar Aaron a lidar com o escândalo?"

A lembrança do irmão lhe pesou nos ombros, pois Aaron confiara a ela a gestão da filial italiana. Se fracassasse, seria vista como incompetente e, pior, mancharia a reputação e o legado da família Morgan.

Alicia respirou fundo, tentando manter a compostura.

"E se eu recusar?"

Matteo inclinou a cabeça, se divertindo com a situação.

"Não vamos forçá-la. Mas, se disser não, o contrato desaparece, a empresa afunda e a culpa será sua. Dante não exige resposta imediata. Você tem 24 horas para pensar."

Alicia cerrou os punhos até as unhas marcarem a pele.

Matteo então se aproximou ainda mais, inclinando-se sobre a mesa, a voz carregada de persuasão: "Você sabe que Dante pode lhe oferecer muito mais do que imagina. Se aceitar, não será uma prisioneira... será uma rainha."

As palavras ecoaram como uma sentença. Dante não queria apenas possuí-la; queria transformá-la em sua aliada, sua esposa, sua joia mais preciosa.

Mas Alicia não era uma joia. Era um Morgan.

"Saia do meu escritório."

Matteo abriu um sorriso arrogante.

"Te vejo amanhã, Alicia. Estou certo de que tomará a decisão correta."

E, com essa provocação final, ele deixou a sala.

Alicia viu-se entre a cruz e a espada.

Se aceitasse, entregaria sua liberdade. Se recusasse, perderia tudo.

O relógio já havia começado a correr, e ela estava presa em uma ampulheta cruel, que a empurrava em direção a uma gaiola dourada.