Não vou aparecer nesse jantar. Vão ficar surpresos. Direi que estou doente. Este ano ficarei na minha casa, em cima do sofá, assistindo a algum filme clichê e chorando por estar solteira.
Minha colega, aparentemente, viu o meu estado. Ela se aproximou com cautela e perguntou:
- O que deu em você?
Eu estava com um bico, resmungando. Respondi a ela, chateada:
- Minha família quer me humilhar no Natal.
Minha colega se surpreendeu. Ela arregalou os olhos e perguntou:
- Como assim?
Meu estresse estava atacando minha gastrite. Juro que prefiro me enterrar na neve. Respondi, lembrando de cada palavra que minha irmã digitou:
- Eles armaram um encontro surpresa. Me esperam na ceia, vão levar um amigo do meu primo, solteiro. Querem me humilhar na frente de todos.
Chocada, minha amiga disse:
- Meu Deus. E o que você vai fazer?
Eu a olhei, pensando que deveria ser óbvio a resposta:
- Claro que eu não vou passar por isso.
Terminei de colocar a roupa e prendi o cabelo, fazendo um coque em cima da cabeça. Continuei:
- Não vou este ano para o Natal. Eles vão quebrar a cara.
Então, minha amiga disse:
- Mas... isso não é importante para a sua avó.
Eu logo respondi:
- É, mas não vale a pena ser humilhada dessa forma. Posso visitá-la quando ninguém estiver lá.
Ela me olhou com desânimo e disse:
- Sinto muito, amiga. Mas o que vai dizer a eles?
Respondi:
- Que peguei uma gripe.
Ela franziu a testa e disse:
- Acha que eles vão acreditar?
Ela cruzou os braços e continuou:
- Logo este ano que vão te apresentar alguém?
Eu dei de ombros e disse:
- O problema não é meu. O que importa é que eu não vou.
Decidida, saí dali e fui para meu posto no estande de aparelhos eletrônicos. Com a aproximação do Natal, o shopping estava muito lotado, e muitos clientes visitavam aquela loja. Seria mais um dia de dor de cabeça, suportando os clientes que só fazem reclamar. Então, minha amiga chegou e disse ao meu ouvido:
- E se você arranjasse um cara antes do Natal?
Eu achei estranho e disse:
- Um milagre?
Ela respondeu:
- É sério, é que... Você pode surpreendê-los. Imagina chegar lá com um homem. Vai calar a boca deles.
Eu parei e pensei. Isso era uma boa ideia. Então, eu refleti e disse:
- É, mas só um milagre. Sabe que tentei sair com os caras. Eles só querem uma empregada ou... você sabe. Ela sabia das histórias sobre os caras com quem saí. Então completei:
- Acha que vou encontrar alguém a tempo para levar no jantar da família?
Minha amiga e eu pensamos, então ela falou:
- Tem o Tinder. Não precisa ficar com ele. Só o leva no jantar, depois dá um sumiço.
Eu revirei os olhos e falei:
- Não é uma boa ideia. Só para provar que sou capaz de ter um namorado? Não vale a pena a dor de cabeça.
Sendo assim, resolvi fazer o meu trabalho, mas então um carinha se aproximou. Ele tinha um belo sorriso. Até achei estranho. Demorou um pouco até ele pedir informações sobre o aparelho, então ficou me encarando e disse:
- Sabe, só vim aqui para conversar com você. Eu nem quero comprar nada.
Olhei para o homem e quase o enforquei com as mãos. Ele me fez falar e falar para nada. Eu estava pronta para dar um fora quando minha amiga chegou e me empurrou com o ombro. Olhei para ela, furiosa, e ela disse, sussurrando:
- Olha aí o seu milagre.
Eu fiquei surpresa com a sugestão dela, mas ao olhar para o homem com o belo sorriso, algo dentro de mim se acendeu. Talvez aquela fosse a oportunidade perfeita para surpreender minha família e mostrar que não precisava me submeter à humilhação que eles planejavam.
Com um sorriso tímido, voltei minha atenção para o homem à minha frente e respondi:
- Bom, se você não está interessado em comprar nada, talvez possamos conversar um pouco mais.
Ele pareceu surpreso, mas seu sorriso se alargou.