Meu Príncipe secreto
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Capítulo 5 4

A noite parecia mais monótona do que uma palestra sobre a história da secagem da tinta. Com meu vestido solto e casacos que me transformavam em uma versão moderna do abominável homem das neves, eu tentava, em vão, encontrar calor em meio à atmosfera congelante do bar rústico. A madeira, que deveria proporcionar aconchego, parecia mais interessada em manter uma conversa animada com os flocos de neve que teimavam em se infiltrar.

Sentada à mesa, encarava os dois copos de cerveja como se fossem manuscritos antigos, cheios de mistérios que eu não tinha a menor vontade de desvendar. O lugar, decorado com enfeites natalinos e luzes piscantes, parecia um conto de fadas, mas eu estava mais para a princesa cansada da festa. Meu acompanhante, que já estava a caminho de se tornar uma sombra esquecida, tentava em vão manter uma conversa empolgante.

Enquanto ele desfiava histórias intermináveis sobre seu trabalho, eu me pegava divagando. Meus olhos vagavam pelo bar em busca de entretenimento, como se a resposta para o tédio estivesse escondida em algum lugar entre os clientes. Homens e mulheres riam e conversavam, provavelmente em encontros mais animados que uma pista de dança em pleno Carnaval, enquanto eu me via descobrindo detalhes fascinantes na textura das mesas e nas estampas curiosas das cadeiras.

Minha mente, claramente em greve por melhores condições de entretenimento, vagueava por territórios desconhecidos. Analisava as peculiaridades das decorações natalinas, imaginando se as renas dos enfeites secretamente competiam em corridas noturnas. Fiz uma pausa para contemplar a árvore de Natal, perguntando-me se as bolas brilhantes poderiam, de alguma forma, contribuir para uma conversa mais interessante do que a que eu estava tentando suportar.

Enquanto meu acompanhante continuava sua exposição sobre a complexidade do cotidiano dele, eu explorava mentalmente os cantos mais remotos do bar, procurando qualquer distração que me salvasse da tediosa jornada que era aquele encontro. Talvez, em algum lugar perdido entre os bastidores da noite, eu pudesse encontrar um manual de sobrevivência para encontros desinteressantes.

- Acho melhor terminarmos essa noite por aqui - acabei falando. Naquele momento, nem me importei se estava sendo indelicada. Como minha mãe diz: você não tem paciência com nada. Ela tinha razão. Paciência era algo que me faltava. Poderia ser até um defeito, mas tenho em mente que meu tempo é curto, e sempre tenho o pensamento de que estou perdendo os meus preciosos minutos com nada, caso continuasse em um relacionamento ou conversa que odeio ou não vão levar a nada.

- Mas, acabou de chegar - ele estava decepcionado. É, eu também. Decepcionada comigo mesma. Minha família tinha razão. Vou acabar solteira. Me vejo daqui a trinta anos, sozinha, em um canto de alguma festa familiar, olhando a vida de todos, agitada, com conversas animadas, sobre seus dias, como foi criar seus filhos, fofocar sobre os filhos dos outros, sendo que o máximo que pude fazer foi adotar gatos.

- O pouco que ouvi, desde que sentei nessa cadeira, foi o suficiente - e lá vou eu, estragar a noite do cara. Ele até parece ser um homem legal. Se eu tentasse mais algumas noites, talvez conseguisse achar um homem que poderia ser interessante para mim, mas no final, não somos iguais, não temos os mesmos gostos, e ele é sério. Como posso ficar com um homem que não vai rir da minha piada, ou vai dizer que não é hora de brincadeiras? - Você é um homem bem-sucedido, advogado, sério. Uma pessoa bastante invejável. Aposto que meus familiares iriam ficar de queixo caído, ao conhecer você, mas... vou uma pessoa que não gosta de levar quase nada a sério, odeio festas, vou as das famílias por ser obrigatório. Tenho impressão de que odeia gatos.

- Não gosto dos pelos no meu terno.

- Está vendo, eu amo gatos, não vou largar meus bebês para ficar com você.

Ele ficou irritado. Não sei o porquê. Só fui verdadeira.

- Você não quer um namorado. Odeia pessoas - ótimo, agora estou vendo animação. Encostei os cotovelos na mesa de madeira, apoiando meu rosto, para o ouvir. - Eu achei até interessante. É bonita, mas não é por minha causa, que quer desistir desse encontro, é por sua.

- Foi o que eu disse.

- É uma mulher... você acha que vai conseguir algo melhor do que eu?

Há não, ele é um daqueles. Um babaca que odeia ser rejeitado e vai me colocar em um nível mais baixo, só para não sair perdendo. Porém, ele não me conhece.

- Claro - balancei a cabeça, em deboche. - Eu nunca vou encontrar alguém tão incrível, maravilhoso e único. Você é do tipo de homem que é um milagre. Caiu na minha frente e estou desperdiçando. - Ele ficou ainda mais furioso. - Nunca vou ter um namorado. Ninguém vai me amar, como você me amaria.

Sem dizer mais uma palavra, ele se levantou. Ao fazer isso, pegou a carteira e pegou uma nota, que iria colocar sobre a mesa, mas, fui mais rápida. Eu sei o que ele quer e não vou ser boba.

- Não! - levantei rápido. - Seria uma ofensa a vossa majestade. Deixe que eu pago. Você não pode sair daqui com esse prejuízo.

Nesse momento, todos ao nosso lado viram o que estava acontecendo. Dei um sorriso, orgulhoso. Eu sei que posso estar exagerando, mas... gosto de um drama. Foi ótimo o ver saindo dali, bufando. O sorriso não abandonou o meu rosto. Fui até o bar. Já que estava ali, tinha que sair com, pelo menos, um pouco de álcool na cabeça, afinal, vou ter que desistir do meu plano.

- Noite difícil? - o carinha perguntou. Ele até era gato, mas óbvio que não tinha interesse em mim. Achei ter o ouvido falando com um sotaque. Não consegui identificar. Olhando, com mais atenção, ele era alto, tinha olhos castanhos escuros, uma barba rala, cabelos cacheados, mas curtos. Estava elegante para um bar tão simples como esse. Ao me encarar, senti uma fagulha no peito. - Você teve um encontro difícil.

- Mais ou menos, eu não esperei muito. Mas confesso que isso me deixou sem opções.

- Opções? - Seu rosto era engraçado. Não sei o que. Tinha algo de gentil, ao mesmo tempo que sedutor.

- Desculpa, mas, de onde é? - Fiquei curiosa, sentando no banco de madeira, que tinha em frente ao balcão. Ele estava ao lado, próximo a mim. Deu um sorriso e completei, esperando que ele não me achasse curiosa demais. - É que... tenho uma curiosidade, e quando fala comigo, minha mente começa a buscar por uma resposta.

- Entendo. - Disse tímido. - Sou da Jordânia.

- Jordânia? - Fiquei surpresa.

- É, mas sempre quis saber como era o Natal na América. É bem diferente do nosso. - Ele bebeu a sua bebida antes de continuar. - Venho sempre a Nova York, mas nunca nessa época. Queria saber como é a sensação da neve, o clima frio e a família reunida. Mesmo que eu não tenha família aqui, então, não acho que eu vá conseguir realizar esse desejo.

- Pelo menos tem neve. - Brinquei, e ele riu. Um sorriso bonito. - Meu sonho é fazer a minha família engolir a língua.

- Como? - Franziu o cenho, confuso.

- Desculpa, tenho que explicar o meu ponto. - Pedi outro drink para me ajudar. - Tenho uma família complicada. Na verdade, eu também sou complicada. - O homem, que eu ainda nem sabia o nome, pareceu bem interessado na minha história. - Todos os anos, eles se reúnem na casa da minha avó. É bom, mas...

- Mas?

- Eles me pressionam. - Fiz uma cara feia.

- Por quê?

- Um namorado. - Ele levantou uma das sobrancelhas. - Passam-se os anos e não apresento ninguém a eles. Não deveria ser nada de mais, porém, a cada ano, sem ninguém, eles me cobram, me enchem de perguntas, duvidam de mim e dizem que ficarei sozinha para sempre.

- Mas você ainda é jovem. - Apontou.

- Não é? - Concordei. - Mas, eles querem me casar. Parece que isso é uma prioridade.

- E você quer ficar sozinha, ou esses comentários acabam te afetando?

Boa pergunta. Ninguém nunca parou para perguntar o que eu quero.

- Quero ficar em paz e não me preocupar com isso. - Passei a prestar atenção no copo à minha frente. - Às vezes, também me questiono se vou ficar sozinha. Eu... não quero deixar isso me preocupar, mas ao chegar em casa e não tem ninguém, dá uma falta de animação.

- Então, você marcou um encontro. - Apontou.

Acho que todos ali ouviram o que aconteceu.

- Na verdade, esse é o terceiro esta semana.

- Terceiro? - Se surpreendeu.

- Vou te dizer algo que não disse a nenhum deles. Cheguei mais perto do desconhecido, que fez o mesmo, em minha direção. - Estou sob pressão. - Murmurei.

- Por quê?

- Minha família, este ano, quer me apresentar um homem. Não faço ideia de quem seja. Eles acham que será uma surpresa, mas minha irmã me contou.

- Tipo um casamento arranjado?

Voltamos à posição anterior, pois estava começando a sentir uma dor no pescoço.

- Tipo isso, mas é humilhante. - Bebi o líquido, com sabor de morango, inteiro. - Imagina só, você ser surpreendida com um cara que nem sabe quem é. No dia de Natal.

- No dia do Natal? - Até o estranho se surpreendeu. - Sua família é peculiar.

- Peculiar é educado. - Brinquei. - Estava planejando levar um date, para evitar o constrangimento, porém, acabei dispensando todos eles. Sou um fracasso. - Encostei-me à mesa, pensando. - Acho que eles têm razão. Ficarei sozinha para sempre. E este ano, terei que dar uma desculpa para não ir à ceia de Natal.

- Não pode fazer isso com a sua família. - O encarei, com o cenho franzido.

- Você ouviu o que eu disse?

- Sim, mas é sua família.

- Eles quem querem me humilhar.

- Quer um namorado falso para evitar que eles tragam alguém para apresentar a você.

- Todos os meus encontros deram errado, por minha causa.

- O que é um encontro para você?

Não sei se foi o sotaque ou a pergunta que não entendi direito.

- Um encontro para mim? - Novamente perguntei, e ele confirmou com a cabeça. - Bem, conversas sobre coisas importantes, interesse, se é um psicopata ou um babaca, mas isso é meio que subliminar, eu tenho que perceber. - Ele riu. - O cara tem que ser gentil, engraçado, ouvinte, pois amo reclamar. - Estava ficando sem graça, pois o estranho estava perto de mim que me deixou sem graça. Talvez, fosse a beleza, elegância ou a simpatia, mas ele conseguiu me deixar com vergonha. - Mas no momento eu só quero alguém para me salvar.

- Um Natal, nada de romance e no fim, podemos ser amigos?

- É. - Respondi sem graça. - Tipo isso.

- Mas antes a gente tem que saber nossos nomes. - Franzi o cenho. - O meu é Zayd.

Estendeu a mão, como um cumprimento.

- Estela. - Apertei sua mão, ainda tímida. - O que isso significa?

- Quero um Natal típico do seu país, e você precisa de um namorado falso para a apresentar a sua família.

Arregalei os olhos e disse:

- Espera, quer fazer isso?

- É a primeira coisa que faço, sem pensar.

Acho que me animei demais. Talvez, fosse o álcool, ou a minha loucura. Porém, o abracei, sem perceber, animada.

Então, ao perceber isso, me afastei, sem graça.

- Desculpa, eu me empolguei.

- Acho que temos que conhecer seus parentes. Antes de chegar na sua casa.

- Eles moram em outra cidade. Tenho que ir, uma semana antes. É tipo uma tradição. Mas se você não puder...

- Na verdade, está tudo bem. Só tenho que resolver umas coisas, antes.

                         

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