Eles haviam contratado os melhores detetives particulares. Ninguém conseguiu sequer uma pista. Por momentos, Adrian cogitou que ela fosse uma invenção da própria mente - uma figura criada pela pressão e pelas longas noites sem dormir.
O chefe, ao despertar do coma, chegou a dizer que viu um anjo de olhos castanhos o trazendo de volta. Se ela não tivesse reaparecido, ele teria acreditado nisso.
"Bobagem," pensou. "Ela era real."
Ele a via frequentemente nos plantões do hospital. Sempre educada, sempre atenta. Cumprimentava Adrian com um leve aceno antes de se dedicar ao cuidado de Joseph. Mas aquela noite... Ela estava diferente. Desesperada. Suplicava para tirarem Joseph dali. E quando o médico surgiu com a ordem de transferência, Adrian confiou nela - agiu por instinto. E acertou. Joseph acordou no dia seguinte, lúcido, e logo descobriram a conspiração por trás do coma.
Adrian estava perdido nesses pensamentos quando o telefone tocou. Ele caminhou até sua pequena mesa - discreta, organizada, posicionada à direita da mesa presidencial - e atendeu.
Era Alexya, secretária da presidência.
- A senhora Joyce Zhang está aqui, senhor Adrian.
Ele prendeu o suspiro.
- Um momento.
Virando-se para Joseph, anunciou com a neutralidade treinada de quem já vira aquele filme antes:
- Senhor, sua mãe está aqui.
Joseph fechou os olhos por um segundo e massageou a têmpora com dois dedos.
- Deixe-a entrar. - disse, resignado.
Segundos depois, Joyce Zhang atravessou a porta com passos elegantes e decididos. Vestia, como sempre, um hanfu de seda vermelha bordado em dourado, com o cabelo preso num coque impecável e lábios reluzentes de gloss rosado. Seu perfume floral doce preenchia a sala antes mesmo que ela chegasse à mesa.
- Joseph, meu querido! - disse ela, estendendo os braços e abraçando o filho com entusiasmo.
Depositou um beijo demorado na bochecha dele, deixando ali uma marca visível de batom.
Joseph discretamente retirou um lenço do bolso e limpou a mancha.
- Mãe. A que devo o prazer da sua visita?
- Não se faça de desentendido. Você vai se animar quando souber! - disse ela, sentando-se à frente dele sem esperar convite. Tirou da bolsa uma pasta marrom com um selo floral.
Joseph voltou a se sentar, já se preparando mentalmente.
-Você não vai acreditar - disse Joyce, puxando uma foto - Adivinha quem voltou para o país!
Ela deslizou a imagem sobre a mesa. Mostrava uma jovem posando em um jardim florido. Tinha longos cabelos pretos e olhos escuros. Usava um vestido claro com mangas bufantes, como uma heroína de drama de época.
- Dan Quinn. Estudou com a Mia no ensino médio, lembra? Foi para a Europa, se formou com louvor em genética equina, uma área muito respeitada hoje em dia.
Joseph olhou para a foto e depois para a mãe.
- Ah.
- "Ah"? Só isso? - Ela se ajeitou na cadeira, empolgada. - Joseph, essa menina é um sonho. Poliglota, toca piano, não fuma, não bebe, participa de trabalho voluntário, ama crianças, sabe cozinhar e costurar! Participa da Sociedade Mulheres Pelo Mundo e da Liga do Chá Imperial. E é vegetariana, sabia? Diz que energia espiritual flui melhor assim!
Joseph manteve o rosto impassível. Internamente, contava quantas vezes já ouvira a mesma ladainha, com nomes diferentes.
- E tem mais - prosseguiu Joyce. - Ela foi medalhista nacional de natação. Medalhista, Joseph. Sabe o que isso significa? Saúde, disciplina, resistência!
- Um currículo digno de um herói olímpico, mãe. - disse Joseph ironicamente.
Joyce ignorou seu sarcasmo e continuou:
- E está solteira! Ela voltou com os pais, estão morando na casa de campo em Qing Garden. Gente fina, tradicional, da comunidade chinesa. Imagine os filhos que vocês terão...
Joseph se recostou na cadeira e cruzou os braços.
- Mãe, não estou procurando ninguém agora.
- Você nunca está! - retrucou ela, com a voz ficando mais aguda. - Já tem trinta e três anos, Joseph! Aos trinta, seu pai já tinha uma família e uma empresa consolidada!
- E uma amante - rebateu ele com frieza.
Joyce fez uma careta.
- Não vamos falar do seu pai. Estou falando de você. E do seu futuro. Um homem bem-sucedido como você precisa de uma esposa. Uma parceira de verdade. Você não pode passar a vida sozinho, comendo comida congelada e assistindo série no sofá!
Joseph arqueou uma sobrancelha.
- Você acha que é isso que eu faço?
- Eu sei que é! E o pior: nem me dá netos. Sua irmã mais velha tem três filhos e um marido maravilhoso. Você só tem esse... - ela apontou para Adrian - secretário sombrio que só sabe dizer "não".
Adrian, em pé ao lado, ergueu uma sobrancelha com elegância, mas nada disse.
- Jantar amanhã. - insistiu Joyce, voltando ao ataque. - Em casa. Você, Dan e os pais dela. Nada demais. Só um jantar. Eles querem te conhecer.
Joseph olhou para Adrian.
Sinal silencioso.
O secretário deu um passo à frente.
- Sinto muito, senhora Zhang. A agenda do Sr. Zhang está lotada este mês.
- Bobagem. - disse ela. - Ele tem tempo. É só não ser teimoso.
- Sr. Zhang, a videoconferência das 16h começa em dez minutos. - acrescentou Adrian, como quem encerra uma discussão.
Joseph fingiu verificar o relógio e se levantou.
- Mãe, me desculpe, mas preciso trabalhar. Podemos remarcar.
Joyce se levantou com um suspiro dramático.
- Você está fugindo. Só espero que um dia não seja tarde demais. Procure um dia na sua agenda. Estarei esperando.
Virou-se e saiu sem se despedir.
O silêncio voltou à sala. Joseph passou a mão pelos cabelos e encarou o teto por um momento.
- Adrian, meu maior problema hoje é essa obsessão da minha mãe com casamento. O que sugere que façamos?
Adrian sentou-se na cadeira que Joyce acabara de deixar.
- Sua mãe só vai desistir quando você estiver casado. E como você não tem namorada, só restam duas opções: casar com uma das candidatas dela... ou inventar um casamento de conveniência.
Joseph olhou fixamente para ele. Aos poucos, seus olhos se estreitaram. Uma ideia tomava forma.
- Adrian... você é um gênio.