O Senador Ferraz apareceu atrás de Camila, colocando uma mão afetuosa em seu ombro. "Camila, minha querida, pedi para a cozinheira preparar suas panquecas de mirtilo favoritas." Ele sorriu para ela com um calor que Helena nunca conhecera. Ele tratava a filha de sua amante com mais afeição do que jamais demonstrara por sua própria carne e sangue.
Então, seus olhos caíram sobre Helena, e o calor desapareceu, substituído por uma irritação fria. "Suas coisas ainda estão no seu quarto. Eu te disse, Camila vai ficar lá agora. Peça para os empregados moverem seus pertences para a ala de hóspedes."
"Não", disse Helena, sua voz plana.
"O que você disse?", seu pai exigiu, o rosto escurecendo.
"Eu disse não. Aquele era o quarto da minha mãe. Você não vai dá-lo a ela."
"Eu sou o dono desta casa!", ele bradou. "Você fará o que eu mandar! Você é uma pirralha ingrata, e é exatamente por isso que precisa se casar. Lucas Andrade que lide com você."
Camila se encolheu, escondendo-se atrás do Senador como se as palavras de Helena fossem golpes físicos. "Otávio, por favor, não fique bravo com ela. A culpa é minha. Eu posso ficar em um quarto de hóspedes."
"Bobagem", disse o Senador, suavizando instantaneamente ao se virar para ela. "Você merece o melhor." Ele fuzilou Helena com o olhar. "Mova suas coisas. Agora."
Uma risada seca e sem humor escapou dos lábios de Helena. "Tudo bem."
Ela virou nos calcanhares, não em direção à ala de hóspedes, mas em direção à porta da frente.
"Onde você pensa que vai?", ele gritou atrás dela.
"Estou indo embora", disse ela sem olhar para trás.
"O casamento é em duas semanas! Você não pode simplesmente ir embora!"
"Pode apostar que sim", disse ela, pegando a mala que deixara perto da porta. "Estarei em Florianópolis para o casamento. Esse foi o nosso acordo. Estou cumprindo minha parte. O acordo não incluía ficar nesta casa e assistir você brincar de família feliz com a filha da sua amante."
Ela saiu para o sol brilhante da manhã e não olhou para trás. A gaiola dourada da dinastia Ferraz estava finalmente para trás.
Sua primeira parada foi o hotel mais caro da cidade. Ela reservou a suíte presidencial, cobrando na conta principal da família Ferraz, aquela que seu pai usava para seus gastos "discricionários".
Então, ela foi às compras.
Ela entrou nas butiques de grife mais exclusivas, do tipo onde os preços nunca são listados. Ela comprou tudo. Vestidos que nunca usaria, sapatos com os quais nunca andaria, joias que poderiam financiar um pequeno país. Cada passada do cartão black era um pequeno ato de rebelião, um dardo envenenado mirando o cofre de guerra político de seu pai.
Ele ligou para ela naquela tarde, a voz tremendo de fúria. "Que diabos você pensa que está fazendo? Você gastou mais de um milhão de reais em três horas!"
Helena examinou um colar de diamantes, suas facetas capturando a luz. "Sou sua filha, prestes a ser vendida para o maior lance por seu ganho político. Acho que tenho direito a um novo guarda-roupa para minha nova vida, não acha?"
"Você não é mais minha filha! Você mesma disse!"
"E eu vou te pagar cada centavo", disse ela docemente. "Assim que eu me casar com um bilionário. Pense nisso como um empréstimo."
Ela desligou antes que ele pudesse explodir. Ela continuou sua farra por mais dois dias, um turbilhão de seda, couro e diamantes. Seu objetivo era simples: drenar até a última gota de dinheiro líquido das contas de seu pai, deixando-o desesperado pouco antes do período mais crítico de arrecadação de fundos de sua campanha.
No terceiro dia, uma mensagem iluminou seu celular. Era de Arthur.
"Onde você está?"
Seus dedos pairaram sobre a tela. Uma parte dela, uma parte estúpida e tola, queria despejar toda a história sórdida. Mas ela matou essa parte.
"Me preparando para o meu casamento", ela digitou de volta.
Ele não respondeu.
Na manhã seguinte, ela tentou pedir o café da manhã. O gerente do hotel a informou, com um tom educado, mas firme, que seu cartão havia sido recusado. Seu pai havia congelado a conta. Ela estava sem fundos. O hotel solicitou educadamente que ela acertasse sua conta e desocupasse a suíte.
Ela empacotou sua montanha de roupas e bolsas de grife em um táxi e o fez deixá-la no centro da cidade. Ela tinha milhares de reais em bens no porta-malas, mas nem um único real no bolso.
O orgulho, teimoso e feroz, a impediu de vender qualquer coisa. Aquela era sua armadura para sua nova vida em Florianópolis, seu dote de vingança. Ela não se desfaria de uma única peça.
Ao anoitecer, ela percebeu a dura verdade de sua situação. Em toda a sua vida, cercada por pessoas poderosas e influentes, ela nunca fizera um único amigo de verdade. Não havia ninguém para quem ligar.
Ela acabou em um banco de parque frio, sua bagagem de grife empilhada ao seu redor como uma fortaleza. A seda de seu vestido parecia fina contra o vento cortante. A cidade que um dia fora seu playground agora parecia estranha e hostil.
Em algum momento depois da meia-noite, um grupo de homens bêbados cambaleou em sua direção, suas risadas altas e ameaçadoras.
"Ora, ora, vejam o que temos aqui", um deles arrastou as palavras, seus olhos percorrendo-a. "Uma princesa que perdeu seu castelo."
Helena se levantou, o queixo erguido. "Fiquem longe de mim."
O homem riu e deu um passo mais perto. "Senão o quê?"
De repente, um carro preto elegante parou no meio-fio. A porta se abriu e Arthur Monteiro saiu. Ele não olhou para os homens. Ele olhou apenas para ela, o rosto uma nuvem de reprovação.
Os homens bêbados ficaram sóbrios instantaneamente ao vê-lo. A aura de poder frio e perigoso que emanava de Arthur era mais eficaz do que qualquer arma. Eles se dispersaram como ratos.
Arthur caminhou em sua direção, seu olhar varrendo sua bagagem, seu vestido, o banco do parque.
"O que é isso, Helena?", ele perguntou, sua voz baixa e carregada de algo que ela não conseguiu identificar. Não era preocupação. Era... incômodo. Como se a situação dela fosse um inconveniente que ele era forçado a resolver.
"O que parece?", ela retrucou, seu orgulho ferido. "Estou aproveitando o ar fresco."
"Entre no carro." Não era um pedido. Era uma ordem.
Ela queria recusar, dizer a ele para voltar para Camila, mas seu corpo estava tremendo, e o medo do encontro com os homens bêbados ainda persistia. Ela estava exausta.
Sem palavras, ela entrou no carro. O motorista dele colocou sua bagagem no porta-malas, e eles se afastaram do meio-fio, deixando para trás sua breve e miserável vida nas ruas. Ela sentiu uma onda de humilhação tão profunda que quase a sufocou. Ser resgatada por ele, o único homem de quem ela estava tentando escapar, era a derrota final.